Muito prazer, eu sou o seu ceifador

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[Dois dias antes]


- Vai, vai, vai, levanta a cueca do gordinho! – Sander gritou.

Harley Deen corria o mais rápido que podia atrás de um garoto que era a metade da altura dele, por isso não demorou quase nada para que o indefeso se visse preso contra uma parede e outra – a outra era o próprio Harley. Com destreza, o mais alto foi direto ao ponto de ataque e logo puxou a cueca do garoto, levantando-a o máximo que conseguiu. A risada de seus dois amigos que assistiam à cena ecoou pelo pátio da escola.

Assim que conseguiu se soltar, Adam chorou e correu para longe deles, o que fez com que os três rissem ainda mais. Algumas pessoas ao redor olhavam para eles com bastante desgosto, mas ninguém havia feito nada para ajudar o garoto indefeso.

- Nossa, o gordinho até que corre, viu – Harley ainda ria quando se aproximou dos dois amigos.

- Vocês sabem que isso dá cadeia, né – Dylan, o mais novo dos três, disse enquanto bebia uma lata de refrigerante de canudinho.

- Puxar a cueca? – Sander perguntou de forma irônica.

- Não, chamar o gordinho de gordinho – o outro explicou – É bullying.

Depois que ouviram aquilo, os outros dois caíram na risada.

Harley Deen, Sander Thompson e Dylan Clarke eram os maiores arruaceiros da escola e eram temidos por boa parte dos alunos, já que sempre faziam brincadeiras sem graça com os mais indefesos. Os três faziam parte de uma gangue, ninguém sabia ao certo se a gangue era só os três ou se tinha mais gente, ninguém também sabia o que diabos eles faziam na tal gangue e se era apenas coisas idiotas como puxar a cueca de alguém, mas ninguém queria saber muito sobre isso. O fato é que eles sempre estavam juntos, não importava aonde fosse, e eles sempre eram MUITO barulhentos, do tipo que se ouvia os gritos finos como os de um golfinho de Dylan até mesmo do outro lado da cidade, segundo uma lenda.

Harley e Sander tinham a mesma idade, mas não estudavam na mesma turma porque a escola tentou – inutilmente – separá-los para que os professores tivessem um pouco de paz. Os dois já haviam completado 18 anos e estavam no último ano, mas ninguém estava aliviado por isso, já que eles provavelmente acabariam repetindo o ano. Ambos tinham um perfil parecido, eram altos, levemente bronzeados, seus braços eram relativamente fortes e seus rostos podiam ser considerados bonitos – mas o típico caso de quando você não é bonito por dentro acaba não sendo bonito por fora se aplicava aqui. Harley tinha olhos castanhos num tom de mel e cabelos num mesmo tom um pouco mais escuro, enquanto Sander tinha puxado os olhos azuis de sua mãe e os cabelos escuros do pai. Dylan, o terceiro integrante da gangue, era dois anos mais novo do que eles e era considerado um gênio, apesar de odiar estudar e viver causando problema. Ele não gostava de seu cabelo ruivo e nem das sardas que trazia nas bochechas redondinhas que ainda eram resquícios da infância, apesar de estar crescendo tanto que hoje já passava de 1,80cm – e já tinha ultrapassado os dois amigos mais velhos, para a tristeza deles.

Embora as pessoas achassem que poderia haver uma pequena probabilidade de eles estarem envolvidos com coisas sérias, a verdade era que os três geralmente passavam a manhã inteira dormindo na aula, a tarde inteira lendo revistas em quadrinhos e a noite inteira jogando em um cyber café, o que fazia deles bem mais inúteis do que perigosos.

Numa tarde de sábado, Harley voltou ao local onde eles costumavam passar seu tempo juntos – uma casa abandonada na qual eles haviam colocado uns sofás velhos que encontraram no lixo – com uma sacola com pães e uma garrafa de refrigerante. Ele largou as coisas no chão e Sander o olhou intrigado.

- Só comprou isso? Cadê o troco? – perguntou.

- Não tem troco – o outro deu de ombros.

- Qual é – Sander resmungou.

Meu Querido CeifadorWhere stories live. Discover now