Eu posso te beijar se você quiser

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O ceifador e o garoto ficaram em silêncio por algum tempo, enquanto a triste história de vida dele era digerida lentamente. Harley ainda não conseguia acreditar que seres humanos tinham sido capazes de um ato tão horrível perante outra pessoa e não conseguia entender qual era o prazer deles naquilo.

- Você sente prazer incomodando as pessoas também – o ceifador deu de ombros.

- É diferente – o garoto se sentiu ofendido com a comparação – Eu jamais faria algo assim.

- Você não pode garantir, aqueles garotos começaram assim como você e então um dia eles ficaram com tédio e decidiram me incomodar em níveis mais tenebrosos.

- EU NUNCA FARIA ISSO – enfatizou – Jamais!

Nicolas olhou para ele e suspirou, havia uma parte dele que concordava com aquilo, que achava que as brincadeiras idiotas dele e de seus amigos nunca iriam a níveis tão extremos, mas tinha aprendido que o futuro das pessoas era imprevisível, então ele tanto poderia crescer com um adulto maravilhoso ou como um criminoso nojento. Dependia dele fazer o que pudesse para salvá-lo enquanto ainda tinha tempo.

- Mesmo que não faça, as coisas que você faz agora já são bem ruins – ele o encurralou – Eu acho que ser empurrado na frente de um carro diz muita coisa.

- Eu estou apenas brincando...

- Mas, eles não veem isso como uma brincadeira – o ceifador explicou – Eu nunca vi nada como brincadeira, tudo o que me fizeram desde o primeiro dia foi doloroso e traumático e me fazia chorar em casa quando voltava da escola. Seus colegas devem se sentir da mesma forma.

Harley abriu a boca para argumentar, mas logo se calou, confuso. Nunca tinha pensado em como os colegas se sentiam, jamais imaginou que eles pudessem chorar em casa por causa de suas brincadeiras. Mas agora, depois de tudo o que tinha ouvido do ceifador, ele não sabia mais o que pensar sobre si mesmo.

- Tá bom... Eu vou parar com isso – concluiu para sua falta de argumentos – Eu prometi que ia me esforçar para me tornar uma pessoa melhor, então eu vou fazer isso.

Nicolas não conseguiu evitar sorrir ao ouvir aquilo e se sentiu muito satisfeito por finalmente estar conseguindo fazer progresso. Ele achava que teria sido muito mais fácil ter chegado a tal estágio sem precisar contar a história de sua vida que tanto odiava, mas se sentia estranhamente leve de não ter que guardar mais aquele segredo dele. Harley também estava se sentindo melhor por saber a razão por trás das lágrimas do ceifador, agora poderia se esforçar para que ele não precisasse chorar novamente.

- Vamos fazer algo então – disse e pegou um caderno de cima da mesa e o colocou no chão entre eles – Você vai ficar 6 meses preso aqui, né?

- Menos agora – o outro resmungou – Porque alguém me fez perder um tanto de tempo.

- Que seja – Harley resmungou de volta – Vamos fazer uma lista.

- Lista do quê?

- De todas as coisas que você gostaria de ter feito quando era vivo e não conseguiu – o garoto explicou enquanto escrevia no caderno com mais atenção do que tinha na escola.

Nicolas arregalou os olhos com aquela proposta e ficou sem palavras.

- Por... Por quê? – gaguejou.

- Porque eu acho que você precisa experimentar todas as coisas boas da vida antes de partir – ele sorriu – E se eu te ajudar com isso eu vou estar fazendo uma coisa boa, né?

- É... – O ceifador coçou a lateral do pescoço, envergonhado – Então vamos... Fazer isso.

- O que você quer fazer primeiro? – o garoto colocou um traço no início da página, pronto para escrever – Eu vou realizar todos os seus desejos.

Meu Querido CeifadorWhere stories live. Discover now