Ele parece fofo e indefeso, mas tem uma foice

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O ceifador estava sentado no chão em um canto do quarto, o rosto escorado nos joelhos e o olhar parado de quem tanto está cansado quanto está temendo por seu futuro. Harley estava jogando um jogo no computador por mais de três horas e não parava um minuto de falar ou fazer barulho de explosões com a boca, já que aparentemente estava jogando aquilo com alguns amigos. Nicolas nunca sentiu tanto tédio antes e tudo o que mais queria era poder assistir alguns filmes e comer marshmallows, mas o garoto pelo visto não fazia essas coisas.

Quando passava das quatro da manhã, o jogo finalmente acabou e ele decidiu ir dormir. Àquela altura, o ceifador já estava deitado encolhido no chão, prestes a pegar no sono.

- Ei, você dorme? – o garoto perguntou surpreso.

- Por que eu não dormiria? – Nicolas ficou confuso com aquela pergunta.

- Sei lá porque você está... Morto.

- Eu não estou morto como os outros, como eu virei um ceifador eu sou... Algo diferente – nem ele mesmo soube explicar.

Naquele instante, sua barriga fez um som bem alto e suas bochechas coraram por causa disso.

- Hum, e pelo visto você come também – Harley estava realmente surpreso – Isso significa que terei que te alimentar?

- Eu não te pedi nada – o ceifador resmungou.

- Mas daí você vai morrer de fome.

- Eu não posso morrer.

- Ah, você entendeu.

O garoto olhou para ele por alguns instantes e então deu um longo suspiro.

- Sorte sua que eu também estou com fome – disse – Vem.

O ceifador não entendeu o que estava acontecendo a princípio, mas Harley saiu pela porta do quarto e ele decidiu acompanhá-lo. A casa dele estava bem silenciosa àquela hora – também pudera, passava das quatro da manhã – e era muito mais bonita e luxuosa do que tinha imaginado. Ele havia usado seu GPS do relógio antes para ir parar direto no quarto do garoto, então não havia tido a chance de analisar onde ele vivia, exceto pelo quarto dele que era uma bagunça. O resto da casa era claro, bonito e limpo, e a família dele parecia ter bastante dinheiro.

Nicolas ficou admirado por seus arredores enquanto eles desciam as escadas e iam até o andar debaixo. Ele não lembrava de algum dia ter pisado em uma casa como aquela, não por mais do que alguns minutos para buscar algum ricaço que havia falecido. Em vida ele tinha sido um garoto pobre que vivia em uma casa humilde, então imaginava que qualquer um daqueles quadros na sala valia mais dinheiro do que ele sequer havia visto em vida. Não que aquilo importasse muito, já que depois que morrem as pessoas não levam nada daquelas coisas, mas ele não conseguia tirar seus olhos de tudo a sua volta de qualquer maneira.

- Eu só sei cozinhar isso, então... – o garoto desviou a atenção dele enquanto caminhava até um dos armários da cozinha e o abria – Quantos macarrões instantâneos você come?

- Ah?

Harley colocou três pacotes em cima do balcão e ficou olhando para ele, esperando por uma resposta. O ceifador nunca tinha comido aquilo, então disse que apenas um era o suficiente, mas o garoto não acreditou nele e pegou dois.

Enquanto o outro preparava a comida, Nicolas sentou em uma mesa próxima e continuou analisando a decoração da cozinha, se perguntando se ele teria sido uma pessoa diferente se tivesse nascido rico, se seu destino não seria do jeito que foi se tivesse influência. Ele sabia que não valia a pena pensar sobre essas coisas, mas vez ou outra não conseguia evitar ter esse tipo de pensamento.

Meu Querido CeifadorWhere stories live. Discover now