Parte 16

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Klaus e eu quase nunca brigávamos, mas quando o fazíamos, era sempre o mesmo motivo: sua teimosia. Enquanto dobrava suas gravatas com o perfeccionismo e maestria de um profissional, ele tentava me convencer que era uma boa ideia viajar sozinho para a Itália. 

- Klaus, o médico já falou que é recomendável que você não saia de perto da clinica e nem permaneça sem companhia por muito tempo. Sua quimioterapia está em estágio inicial, você precisa de profissionais ao seu lado. Você realmente acha uma boa ideia que você viaje para o outro lado do oceano, logo agora? E sozinho, ainda? Sinceramente, ás vezes eu não entendo o que se passa na sua cabeça.

- Sabe o que está passando na minha cabeça nesse exato momento, Claire? Que eu não aguento mais as pessoas no meu pé, me dizendo o que eu devo ou não fazer por causa dessa maldita doença. Ás vezes vocês me tratam como se eu estivesse nas últimas. Eu estou vivo, porra. Vocês esperam que eu fique como um inutilizado, esperando a morte chegar?

- Não venha com essa logo pra mim, Klaus. Não venha com esses dramas totalmente sem fundamento. Você sabe que tudo que nós fazemos é nos preocupar com você, garantir que você fique bem. Ninguém espera que você fique se lamentando e 'esperando a morte chegar'. Nós queremos que você tenha uma boa qualidade de vida. 

- Claire, eu já te disse. Eu vou conversar com o Dr. e vou pedir a ele que me transfira para os medicamentos orais. E também, eu conheço uma empresa de serviços terceirizados que possuem profissionais da saúde. Eu contrato uma enfermeira e ela viaja comigo para garantir que tudo fique bem. E qualquer coisa que acontecer é só eu entrar no meu jato e ir embora, o James estará comigo, como sempre. Relaxa, Claire.

- Eu não vou relaxar, Klaus Jones. Não me peça o impossível. Você já é um homem de trinta e três anos de idade, sabe que todas as suas ações tem consequências, e como você mesmo disse, não precisa de uma babá. Tudo o que eu faço é me preocupar com você e querer o seu melhor. Saiba que eu não concordo com essa viagem. Mas, pelo jeito, minha opinião não faz muita diferença pra você, não é?

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No fundo eu sabia que ela estava certa. Eu sabia também que tudo o que ela fazia era pensando na minha saudê e no meu bem estar. Mas não era apenas sobre uma viagem. Era todo o estresse e má disposição que essa maldita doença estava me causando. Desde que descobri meu diagnóstico, eu passei a me sentir um inválido dependente das outras pessoas. Eu me sentia fraco, como um vaso de cristal que pudesse quebrar a qualquer momento, e todos ao meu redor pareciam fazer questão de me lembrar disso. Eu poderia estar parecendo ingrato, mas é que toda essa questão estava me consumindo. Viver entrando e saindo de uma clinica de saúde, sentir eventuais dores e ter que fingir estar bem para não preocupar as pessoas, não poder comer um grão de arroz sem correr pro banheiro pra vomitar, ter sempre um tufo de cabelo no paletó... Mas eu teria de ser forte. Apesar de tudo eu estava vivo. Isso é algo para ser celebrado.

- Com licença, Sr. Jones, o Sr. Mark está no telefone querendo falar com o Sr. Ele disse que...

- Eu não me importo com o que ele disse, Sandra. Fala pra ele ir se fuder que hoje estou totalmente sem paciência para falar com ele.

De imediato, ela me olhou com um olhar de confusão.

- Me desculpe, Sandra, minha cabeça esta tão cheia e eu nem estou raciocinando direito. Só diga a ele que eu estou em reunião e que quando possível eu irei retornar a ligação. E, por favor, me traga um remédio pra dor de cabeça e um copo de café.

Eu precisava me acalmar. Como o médico e Claire viviam me dizendo, eu não poderia me estressar. Mas, pelo menos agora, eu estava falhando.

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My Eternal JonesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora