Parte 8

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Pela janela do avião, era possível ver vários arranha-céus que mais pareciam pontinhos de la de cima. Aquilo nada parecia com a Africa que vivia na miséria, a qual nós estávamos a caminho. Era possível também ver a cerração causada pelo frio, já que na Africa, naquele período, era inverno. Minha cabeça doía por causa da pressão e meu estomago estava um pouco enjoado, e os sintomas só pioravam a medida que eu lembrava de Rebecca e Penn. Era possível que minha melhor amiga estivesse sendo enganada, e eu, nada poderia fazer, não sem antes ter certeza.

Enquanto eu tomava uma aspirina, o piloto anunciava que havíamos pousado no aeroporto de Oliver Tambo. De lá, nós pegaríamos outra voo até a Libéria, onde passaríamos os dois primeiros dias da viagem. Assim, seriam mais quinze horas até que chegássemos em nosso destino.

No outro dia de manhã, nós desembarcávamos na cidade de Monrovia. Dali, iriamos de carro até o interior da Libéria, onde começaríamos os trabalhos.

Enquanto seguíamos a viagem, as coisas começavam a mudar de figura. A partir dali, era possível ver varias mulheres, que carregavam baldes enormes de água na cabeça, junto com seus filhos, visivelmente desnutridos. Ver essa cena foi o suficiente pra me emocionar, e eu não sabia que aquele era só o começo.

Enquanto montávamos as barracas, as crianças vinham até nossa direção com os olhos brilhando. Elas ficaram sentadas ao redor do barraca em que as cozinheiras preparavam a comida, e eles comiam desesperadamente, enquanto levava pratos para seus pais.

Eu ficara tão sensibilizada a ponto de não conseguir nem sair do carro de imediato, e demorou alguns minutos até que eu me recompusesse e fosse ajudar o pessoal. Lá, eu conheci Ikhea, uma moça muito fraca, que tinha três filhos, que pareciam ser alguns anos mais novos do que realmente eram devido ao porte. Ela disse a um dos funcionários que era recorrente que os moradores de lá comessem e também dessem para os seus filhos barro, quando a fome era insuportável. Ela dizia que havia varias semanas que não comiam tao bem, já que haviam ido para la alguns outros missionários.

Os dois dias na Libéria passaram rapidamente, e nós partimos depois para o Malawi. Assim que chegamos, percebi que a situação de la parecia ser ainda pior que na Libéria. Muitas crianças estavam tão fracas que não conseguiam sequer levantar do chão. Varias delas, depois de se alimentarem e tomarem algumas vacinas, tiveram que ficar de repouso nas macas improvisadas que os médicos e enfermeiros haviam trazido. E foi ali que eu percebi que eu não era uma das pessoas com o emocional mais forte para presenciar situações como essa.

Eu percebi também que, apesar das dificuldades extremas que os povos de la viviam, eles eram muito calorosos, e, principalmente, carinhosos. A cada minuto, uma delas nos abraçava e nos agradecia.

Até então, já haviam passado seis dias. Por causa do tempo de voos, que demoravam mais do que o estimado, nós havíamos decidido prolongar a viagem, e assim, partimos para nosso ultimo destino: Burundi.

Lá, repetíamos o que havíamos feito nas outras viagens: montamos as barracas para preparar as comidas, além das barracas dos socorristas. Mas, especificamente naquele lugar eu senti algo que jamais havia sentido. Enquanto servia comida para as crianças que viviam em uma abrigo de órfãos que ficava perto de onde havíamos nos hospedado, um desses meninos, Malik, enquanto comia um prato de purê com salada de batatas, olhou fundo nos meus olhos e deu um sorriso. E, subitamente, as lagrimas começaram a escorrer dos meu olhos. Um sentimento de amor me arrebateu de forma avassaladora, e foi ali que eu senti o algo genuíno: amor.

Aquele olhar indefeso de Malik, que, apesar de tão novo, mostrava o sofrimento que ele carregava, da vida miseravel que levava, apesar de tudo, transmitia esperança, paz, e me fazia sentir algo inexplicável. Como se eu conhecesse ele de outras vidas.

My Eternal JonesМесто, где живут истории. Откройте их для себя