Parte 14

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Parecia que até o tempo lá fora sorria vendo este acontecimento inédito. Minha mochila que há quase dois anos e meio permanecera guardada em cima do guarda-roupas parecia nova outra vez depois de lavada. E aposto que até a mesma estava surpresa pois, depois de anos carregando apenas um caderno com milhares de folhas sujas e rasgadas e uma caneta preta que raramente era usada, estava levando um estojo, livros e dois cadernos de dez matérias, materiais que apenas um aluno comprometido com os estudos carregava consigo. E era esse tipo de aluna que eu pretendia ser a partir de agora.

Era estranho pisar naqueles corredores depois desse tempo fora. As salas, que antes possuíam rabiscos na parede e carteiras quebradas pareciam ter ganhado uma pintura e carteiras novinhas em folha, prontas para serem depredadas por um adolescente sem-noção. Chega a ser estranho pensar que eu era um deles.

- Madison, não acredito, você por aqui! Ja faz um tempo desde a última vez que nos vimos.

Eu não precisara nem virar para trás para saber que aquela era Nora Goldwin. Aquela voz rouca me acompanhara em todas as minhas aventuras pela New Stuart High School. Desde as fugas, na qual pulávamos o muro e dificilmente eramos pegas pelos inspetores, até as pichações que decoravam cada centímetro daquele prédio, lá estávamos nós. Eramos as inseparáveis capetinhas da escola, temidas não só pelos funcionários como pelo os outros alunos.

Assim que virei, foi simultânea a surpresa que ambas sentiram. Se eu achava que eu estava mudada, constatei naquele instante que não era nada perto da mudança de Nora. O cabelo repicado nas pontas e a longa franja de lado deram lugar a cachos volumosos e castanhos. O piercing na boca e acima da sobrancelha esquerda já não existiam mais. As calças rasgadas e as regatas pretas com estampas de caveiras davam lugar a jeans normais e uma blusa de malha amarela.

- Como você mudou... Alias, nós duas, na verdade. O que faz aqui? - perguntei.

- Bem, muita coisa aconteceu no ultimo ano, sabe... Minha mãe foi presa de novo, e desde então, tive que segurar as pontas com meu irmão la em casa. Um dia eu estava lá, numa festa que eu havia organizado para os amigos mais próximos, e eu tive um choque de realidade, do nada. Eu comecei a tremer e chorar muito, e parecia ter algo pesado dentro do meu peito pronto para sair. Não demorou muito para que eu percebesse que aquilo era um aviso do universo. Eu tinha de crescer, ser alguém na vida. Eu tinha uma pessoa dependendo de mim, um serzinho pequeno e indefeso. Eu não poderia mais ser tão inconsequente e irresponsável, e, cara, tudo ficou tão melhor depois disso... Uns seis meses depois, minha mãe conseguiu um ótimo advogado e saiu da prisão. Ela conheceu um cara muito legal que trata a mim e ao Chad como filhos, e desde então, ela não fez nada fora da lei. E no começo desse ano, eu decidi voltar a estudar. Confesso que a ideia de fazer o segundo ano de novo era um pouco desanimadora, mas até que está sendo legal, os professores daqui me ajudam muito. E você?

- A minha visível mudança foi resultado de um tempo que passei fora daqui. E a vivência com uma pessoa que foi um anjo na minha vida, sou tão grata a ela... Ela me acolheu, me tratou como uma irmã mais nova, nós eramos realmente próximas. Mas, aconteceram coisas que me afastaram e desde então não nos falamos, mas, apesar disso, serei sempre grata por tudo que ela me fez. Mas, sobre eu estar aqui na escola, eu vim terminar meu ano também. Consegui negociar com a diretora e ela deixou que eu terminasse o ano de onde parei. Além disso, irei começar um curso preparatório para os exames vestibulares, decidi que quero fazer Design de interiores. A propósito, hoje é meu primeiro dia de volta.

- Bem, então boa sorte e bem vinda de volta. Eu fico muito feliz por você, Maddie, de verdade. Agora, deixa eu ir que vai começar a aula de Biologia, e, como você sabe, o Sr. Phinneas não tolera atrasos. Nos vemos pelos corredores. Tchauzinho.

My Eternal JonesWhere stories live. Discover now