Parte 7

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Olhar para aquela pilha de livros em cima do balcão que esperava para ser arrumada na estante, somado ao fato da minha avó vir fiscalizar o meu trabalho a cada segundo, só aumentava ainda mais a saudade que eu sentia de Mainytown. O ano que eu passara lá fora o melhor da minha vida, e foi nesse momento em que eu havia percebido como eu amadureci e sentido que minha vida havia finalmente entrado nos eixos. Eu tinha um emprego que eu gostava, um namorado que me amava e uma amiga que... bem, eu pensava que tinha uma amiga. 

Desde dos primeiros dias do meu retorno para Manhattan, eu tentava não pensar em Claire, isso só fazia me frustar. Mas era inevitável. Como uma pessoa que eu considerava tanto, que havia sido minha amiga quando ninguém ao menos havia se importado, a primeira pessoa que me escutou e me entendeu de verdade, poderia ter me descartado no meu primeiro vacilo? Eu pisara na bola,e eu tinha consciência disso. Mas, o que era ser amigo de verdade senão perdoar uns aos outros? Aliás, essa era umas das coisas que a tornava uma hipócrita: adorava pregar sobre a importância do perdão para a vida de uma pessoa, mas no primeiro vacilo ela te descartava.

Além do mais, eu sentia saudade de Bryan. Ele era o único homem que eu havia amado de verdade, o único relacionamento que eu tivera com uma possibilidade de futuro. Nós conversamos ainda, através de ligações de voz e vídeo chamada, mas não era a mesma coisa. Me doía o fato de não estar ao lado dele no momento em que ele mais precisava de mim. Mas, o que me restava no momento era ter paciência e esperança, de que, brevemente, nós nos veríamos outra vez. 

- Madison, a seção de literatura infanto-juvenil já está vazia, quando você pretende reabastecer? Além disso, tem dois clientes esperando para serem atendidos...

- Eu sei vó, eu já estou indo. Eu só estou acabando de organizar essa montanha de livros. Você não pode fazer isso pra mim?

- Claro, posso sim, como se eu ja não estivesse lotada de afazeres. 

- Vó, eu sou uma só. É impossível eu fazer milhões de coisas ao mesmo tempo. 

- Você não mudou, não é? Pelo jeito aquela historia de que esse tempo fora havia a tornado uma nova pessoa era só mais um dos seus papos furados... Mas eu já sabia que esse circo que você montou não ia durar muito tempo, uma hora ou outra, você se encarregaria de estragar tudo, como sempre.

Essa era outra coisa que eu estava lidando desde o dia em que voltei para Manhattan: os julgamentos de vovó, que fazia questão de jogar na minha cara a minha capacidade de estragar as coisas tão facilmente. Mas, no fundo, eu sabia que ela tinha razão. Nada que eu planejasse na minha vida dava certo. Tudo que eu tocava iminentemente se tornava um desastre. Talvez eu fosse o problema. Eu era o problema. E isso eu nunca poderia mudar.

♡♡♡

"Quais tipos de roupas eu deveria levar? Eu sou um desastre fazendo malas, sempre esqueço coisas importantes e acabo levando coisas desnecessárias... Preciso que você me ajude com isso mais tarde! Te amo. Beijos"

Eu tentava ler a mensagem que Claire acabara de me enviar enquanto o sol escaldante queimava minha pele e fazia cada parte do meu corpo suar. Minha rotina de caminhar todos os dias pela manhã se tornava uma tarefa difícil no verão, e as vezes eu sentia que iria cozinhar enquanto corria pela rua. 

Além disso, a dor que eu vinha sentindo nas ultimas semanas se intensificava a cada passo que eu dava. Há alguns anos atras, eu sofrera uma queda enquanto andava de bicicleta, o que me causara uma costela quebrada e uma cicatriz na área da barriga. A dor persistiu por semanas depois da queda, e agora, depois de anos, ela resolvera voltar. Apesar de não ser exatamente na região que eu havia lesionado, era provável que fosse efeito dela. Por isso, eu não me preocupava em ir no médico,  daqui há alguns dias essa dor iria embora.

My Eternal JonesWhere stories live. Discover now