MIL DIAS COM ELA🌻Livro Físico EditoraLittera

Capítulo 22

Melissa Monttanri

Agora que o clima entre nós está voltando ao normal, pergunto a ele.

— Perdi muita coisa enquanto estava dormindo?

— Você prefere saber sobre assuntos políticos ou esportivos? — fala de forma séria, não aguento e já estou rindo novamente de suas brincadeiras. — Não houve nada de muito interessante. Mas se você dormisse mais uns dias, perderia o casamento de sua irmã.

Ele fala de forma engraçada, talvez zombeteira.

Apesar das bobeiras, noto que Erick está com um semblante cansado, várias olheiras e talvez... Triste. Penso como ele consegue ser tão agradável com tantos problemas. Vou me recordando de tudo o que Beca me contou sobre o que aconteceu com ele e sua família  enquanto eu dormia.

Respondo seu comentário a cerca do casamento de Rebeca, o que me faz lembrar que não haverá presente. Isso me deixa triste. Como desejei dar ao casal algo feito por minhas mãos...

— Falta muito pouco para o casamento. Infelizmente não vou conseguir entregar o presente de Beca. Não está pronto — falo chateada.

Planejei aquela surpresa havia meses, cada cerejeira esculpida no ferro foi moldada com muito amor, imaginando o quanto Beca iria gostar.

— Talvez ainda dê tempo — ele fala esperançoso. Admiro seu otimismo, mas ele não entende, com meu estado debilitado isso é impossível.

— Não dá tempo, Erick. Vou precisar de pelo menos dois dias para recuperar meus movimentos com precisão.

— Então podíamos começar agora alguns exercícios que possam lhe ajudar.

Fico admirada com a animação dele, mesmo sabendo que não será tão útil. Mas como diz o ditado, "mais vale é a intenção." Erick já está próximo, inclinando minha cama para me deixar confortavelmente sentada, e segura uma de minhas mãos para uma seção de fisioterapia. Somente neste momento é que me dou conta de quão exposta estou, vejo a camisola do hospital a qual estou vestida e imediatamente puxo o lençol me escondendo feito uma criança tímida. Acho que ele nunca me viu assim, com meus braços e pernas cheios de tumores e manchas. É algo horrível de se ver. Nunca gostei do meu corpo, por isso sempre me escondo usando roupas compridas. Nem mesmo toda cirurgia para remoção dos tumores foram o suficiente para impedir novos aparecimentos. Tudo isso faz com que eu não me sinta muito apresentável.

— Melissa! — ele me repreende com tom bravo ao ver meu desconforto.

Continuo tentando me cobrir.

— Não, Erick. Por favor, preciso de uma roupa de mangas longas, você não precisa olhar para isso.

Ele me encara com a expressão brava.

— Eu não me importo com isso — ele diz tentando pegar meu braço novamente, mas não permito. Puxo, me escondendo.

— Não, isso é repugnante! — falo.

Ele parece ainda mais bravo.

— Melissa, não tem nada aí que eu já não tenha visto. E fique sabendo que eu tenho cuidado de você todo esse tempo em que esteve dormindo, até mesmo ajudei a trocar suas roupas. E não diga que é repugnante, porque nunca vou sentir isso por você.