Capítulo 10

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Melissa Monttanri

Não sei o que está acontecendo comigo, desde que conheci Erick, ele não sai da minha cabeça. Sinto uma vontade de saber mais sobre ele. Depois de ter salvado minha vida, tivemos um longo diálogo, foi agradável e ele parecia tão a vontade mesmo usando aquele uniforme formal que deixava bem claro sua posição de trabalho. Naquele momento começamos a construir uma amizade e confesso que tê-lo como meu cuidador parece que será melhor do que eu imaginava.

Ontem, Beca me contou em que estado eu havia chegado em casa quando Erick me trouxe, parece que estive desacordada. Confesso que fiquei admirada por ele não ter contado sobre a besteira que eu estava pronta para fazer quando subi na grade daquele penhasco. Foi um surto e não é a primeira vez, já tomei várias medicações quando perdi minha mãe, esse sentimento de morte me acompanha por anos. Por causa de atitudes como essa, confesso que me sinto constrangida, Erick vai pensar que realmente sou maluca.

Entretanto, na verdade, ele me tratou tão bem, como uma pessoa normal. Ele parece ser espontâneo, alegre, divertido e sincero, estou cansada de pessoas me bajulando todo o tempo como se eu fosse uma coitadinha só por causa da minha doença. Depois de ontem eu sinto como se nós nos conhecêssemos há anos. Hoje bem cedo caminhamos na praça e foi incrível. Meus médicos e meu antigo personal trainer já tinham me pedido para fazer isso, mas sempre estive relutante. Erick, no entanto, me convenceu muito rápido, suas palavras ainda ecoam em minha mente.

“E você também é linda, Melissa. Mas a beleza vai além do exterior.”

Linda...

Sorrio ao me lembrar disso.

Mas acho que ele e Sofia estão tendo algo, pois a ouvi perguntando que horas ele iria lhe buscar e depois deu um beijo quase em sua boca. Não a culpo, Erick é um homem muito bonito, difícil para qualquer uma resistir. Ela é esperta e linda também, realmente não deve perder esta oportunidade.

Faço um curativo em meu pulso, que está doendo pra caramba. Na parte da tarde me senti um pouco fraca. Sinto que minha visão está piorando a cada dia, certamente minhas lentes precisarão ser renovadas. Percebi que Erick ficou preocupado, pois notou esse curativo, eu nunca fui boa em fazer eles, afinal, mas acho melhor não contar o que aconteceu.

Termino de me vestir e me olho no espelho. Detesto essa imagem que vejo. Nem toda a maquiagem que Beca havia feito conseguia me fazer sentir bonita. Os elogios de Erick invadem minha mente novamente, acredito que ele estaria mentindo. Não tem como ser bonita com essa pele pálida. E hoje estou mais pálida que o normal, apesar do blush e toda maquiagem nos olhos não me sinto melhor, pelo menos esse macacão preto de mangas longas me faz sentir um pouco elegante. Eu jogo uma echarpe no pescoço como sempre, para disfarçar essas marcas, e estou pronta. Pronta para encarar aquele bando de metidos falando sobre assuntos que nem me interessam, além de ter que passar a noite na mesa com ele... Trevor. Ainda doem as lembranças de ter sido enganada da maneira mais sórdida. Ele acredita que eu não sei. Finjo que aceitei seu término comigo por causa da distância que nos separava. Eu morava em Nova York, estudava no instituto de artes Pratt Institute. Faltava pouco para me formar, até que papai resolveu promover Trevor em um cargo de confiança na embaixada. Quando estava bem estabelecido financeiramente e com uma carreira estável, coincidentemente ele terminou tudo comigo.

Sinto a raiva preencher meu corpo quando me recordo sobre o quanto fui boba, estava completamente apaixonada por ele. Trevor dizia me amar, e eu acreditava.

Idiota!

Estava tão cega que não enxergava a repulsa que ele tinha de mim, quase não me tocava e eu vivia implorando por suas migalhas. Era isso mesmo, eu lhe implorava no sentido literal da palavra. Era uma jovem carente. E ele me enganava direitinho. Com o tempo percebi que fui apenas um objeto que ele usou para chegar onde queria. As únicas pessoas que souberam que fui usada por esse homem para chegar longe financeiramente, não estão mais aqui. Mamãe e Rosa, nunca contei para mais ninguém, nem Beca. Meu pai o admira muito, ele é considerado como se fosse da família. Então prefiro não expor a minha humilhação.

Quando chego à sala principal, sou abraçada por várias pessoas da alta sociedade, claro que sou o centro das atenções, afinal se trata da pobre filha doente do Embaixador italiano Bernardo Monttanri. Odeio toda essa hipocrisia! Visto meu sorriso mais fingido e depois de horas com pessoas fúteis e assuntos inúteis me canso. Preciso respirar, tanto fingimento me sufoca.

Caminho até o jardim e observo a lua e as estrelas, a noite está maravilhosa. Meu mal-estar não passa, acho que seria melhor me retirar e deitar um pouco. Viro-me e acabo desequilibrando, estou realmente fraca hoje. Sinto duas mãos fortes me amparando e quase me embriago em seu cheiro de colônia masculina.

— Melissa! Cuidado. Você está bem?

Era a voz de Erick.

Quase tenho um infarto fulminante quando o analiso de frente. Está com seus cabelos penteados de forma impecável, vestido com uma calça jeans provavelmente slim, pois é bem justa, uma camisa aberta com outra por baixo. Ele está incrivelmente lindo. Mas quando me lembro de seu passeio com Sofia, recomponho-me e finjo estar muito bem.

— Sim, estou ótima, apenas escorreguei na grama. Obrigada, já pode me soltar.

Ele assim o faz. Deixando um vazio quando suas mãos se afastam do meu corpo.

Sinto-me enganada por meus próprios sentidos, pois acredito que ele não para de me olhar.

— Você está... Linda.

Ouço-o dizer quase em um sussurro. Mas na verdade seus olhos não saem de cima dos meus. Apenas desviamos o olhar quando ouvimos a voz de Sofia.

— Estou pronta, Erick, vamos!

 Minha pequena autoconfiança se despenca quando vejo a acompanhante de Erick. Sofia veste um micro vestido de paetê vermelho com um enorme decote em "V" que revela o contorno perfeito de seus seios. Suas longas pernas se destacam em uma incrível sandália de saltos altos que nem meus sapatos CHANEL chegam aos pés de tanta sensualidade. Ela está bem diferente da empregada que vejo pela casa vestida com aqueles uniformes azuis-marinhos.

— Sim, vamos. — Ouço Erick dizer quase babando.

Não é por menos, aquela mulher que o acompanharia naquela noite era a perfeição da natureza, qualquer homem estaria satisfeito.

Vejo Leandro fazendo gestos de longe todo entusiasmado com uma loira ao seu lado. Pelo jeito a noite deles seria divertida. Bem diferente da minha, que provavelmente terminaria deitada em uma cama, pois me sinto fraca e debilitada.

Sinto inveja.

MIL DIAS COM ELA🌻Livro Físico EditoraLitteraWhere stories live. Discover now