Capítulo 3

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Agora, vamos conhecer nossa mocinha, Melissa, sei que a princípio ela parece um pouco mimada, mas depois tenho certeza que vão amar ela.
Vou deixar no rodapé um link para quem deseja conhecer um pouco mais sobre a Neurofibromatose ou Sindrome de Von Recklinghausen

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Melissa Monttanri


Mais uma vez estou irritada. Meu pai tem o dom de me tirar do sério. Piso em cima do recorte de jornal com toda fúria possível. Afinal quem ele pensa que eu sou? Alguma criança que precisa de uma babá? Estou me sentindo humilhada. Tão cedo não vou conseguir encarar os poucos amigos que tenho.

Queria que ele estivesse aqui, pois eu iria esquecer de que ele é o meu progenitor e diria tudo o que está engasgado. Para sua sorte ele ainda não chegou.

Preciso ter apenas um pouco de paciência, a tal entrevista vai começar em meia hora e segundo Marco, a quem ele delegou toda a responsabilidade, o senhor Bernardo Monttanri faz questão de estar presente na seleção.

Outro momento de fúria me invade e as lágrimas começam a descer, olho minha figura no espelho e sinto mais raiva ainda. Sempre odiei minha aparência pálida feita uma folha branca, um corpo esquelético, cheios de lesões e pequenos tumores ou neurofibromas como os médicos chamam, por causa da maldita síndrome Von Recklinghausen. Além de algumas manchas cor de café com leite. Nem tudo em mim é tão horrível, gosto dos meus olhos azuis e meus cabelos ruivos, apesar de não ser muito vaidosa, sempre dou um retoque na cor, para ficarem mais vermelhos.

Sei que estou doente física e psicologicamente. Meus psicólogos não conseguem me ajudar. Ninguém consegue.

Como ser uma pessoa normal, tendo uma doença que deforma sua aparência, ano a ano, além de comprometer seu sistema nervoso, destruindo sua coordenação motora, deixando parcialmente surda, cega e vivendo a cada dia como se fosse o último? Talvez pareça exagero, ainda não estou cega, mas devo ficar em alguns anos. Não perdi ainda completamente a audição, mas uso um aparelho constantemente que sem ele seria impossível ouvir sons abaixo de 40 decibéis.

Tem dias em que estou bem, faço atividades como qualquer pessoa, mas tem outros nos quais nem me levanto da cama. Alguns dos meus tumores comprimem minha medula, fazendo com que eu sinta dores no corpo e tenha dificuldades motoras.

Nestes dias sinto falta delas. Minha mãe, minha amiga e companheira e Rosa, quem cuidava de mim. Perdi as duas de uma só vez. Minha mãe lutou por anos contra essa mesma doença que herdei dela, ela não teve tantos neurofibromas externos como eu, mas os tumores internos acabaram deixando bastante debilitada. Ela passou anos em cima de uma cama, doente, a vi definhar até a morte e confesso que tenho muito medo de terminar como ela. Doente e sozinha. Sozinha porque o senhor Bernardo seu marido, nunca tinha tempo para ela, sempre tão ocupado com seu trabalho que era mais importante que sua família.

Caio no chão, enfraquecida pelas emoções e choro amargamente com minhas lembranças dolorosas. Sinto meu peito queimar pela angústia e dor. Recordar-me do sofrimento da minha mãe e da ausência do meu pai me deixa em um mar de sentimentos. Entre eles a raiva e a mágoa. Lembro-me de quando descobrimos que Bernardo estava tendo um caso com sua secretária, os dois estavam sempre juntos, principalmente em viagens, enquanto minha mãe sofria debilitada e acamada. Felizmente ela não soube desta sórdida traição, não teve tempo, talvez não resistisse a isso. Mesmo assim eu o culpo. O culpo por ter sido tão canalha, transando com sua secretária enquanto sua esposa estava morrendo.

MIL DIAS COM ELA🌻Livro Físico EditoraLitteraHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin