Capítulo 14

7 0 0
                                    

Agosto

2016

O almoço-jantar foi perfeito, a macarronada da D. Mirna estava deliciosa. 

Comi tanto, mais tanto mesmo, que achei que fosse explodir.

Depois nos comprometemos a cuidar da louça, porque é assim que funciona, caso você não saiba, quando alguém cozinha pra você, o mínimo é tomar a frente e limpar a sujeira. Pelo menos foi o que minha mãe me ensinou. Com as mãos enrugadas e um aperto no peito, nos nos juntamos ao casal sentados na sala. Eles estão pondo o papo em dia e nos recebem com sorrisos e perguntas despretenciosas-mas-nem-tanto. Troco um olhar de cumplicidade com Diego e então contamos tudo. Como fomos parar nessa enrascada e tudo que fizemos até chegar ali. A história é tão inverosímel que achei que ambos iam cair na risada. Mas, para minha surpresa, pareceram ficar ainda mais preocupados do que antes.

Passamos as próximas horas jogando um pouco de conversa fora, e então pudemos  tomar um banho quente. Quando adentro o quarto, solitário e silencioso, mordo meu lábio, porque de repente me dou conta de que gostaria de ver o corpo largo e espaçoso de Diego na cama. 

Não era pra eu estar tão inquieta por estar, finalmente, em paz. Por poder, enfim, aproveitar um pouco do silêncio e esmiuçar meus pensamentos. Eu sentia meu corpo pesado e cansado, mas por algum motivo não conseguia parar quieta. Forço meu corpo a deitar na cama e fecho os olhos, me recrimino por nunca ter me interessado por aqueles papos doidos da Ju de meditação, porque agora, certamente, seriam úteis. Respiro fundo, meu coração batendo forte contra o peito.

O que há de errado comigo?

Sinto falta do calor dele. Do conforto da sua respiração. Da sua presença.

Tô doente, só pode ser. Sinceramente.

Em menos de 6 horas estaríamos de volta ao haras, já previa que teria dar muitas explicações para os acontecimentos, tanto para vovó, quanto para meu pai, que não sei como não colocaram a polícia atrás de mim. Respirei fundo mais uma vez, decidindo que de jeito nenhum eu conseguiria adormecer.

Desço para a cozinha, escura e gelada, noto que a porta estava entreaberta. Tremendo, agarro uma frigideira que está no escorredor e, pisando leve,  afasto a porta lentamente e me deparo com a visão das costas largas de Diego. Ele está mexendo no violão do senhor Amaral, totalmente alheio a minha presença. Sinto meu corpo relaxar e volto para dentro, colocando a frigideira no lugar que encontrei.

Depois de uns 20 minutos tentando me convencer a voltar para cama, meu coração bateu mais forte e eu me aproximo dele.

-Você não tá pensando em me deixar para trás, né?- ele deu um pulo, levando uma das mãos ao peito.

-Arre, Érica, quase que você me mata! É esse seu plano? Me matar? Não ficaria surpreso, confesso.

-Ué... Não sou eu que estou sentada numa toalha, sozinha, no escuro... Meio sombrio e desequilibrado demais... Até pra você- ele ri- Cheguei a pensar que era um ladrão ou sei lá...

-Não se preocupe, a única coisa que tenho interesse em roubar não está ao meu alcance.

-E, o que seria?- ele balança a cabeça, descartando a ideia.

-Deixa pra lá! Era bobagem! Chega mais- me sento ao seu lado- Quer aprender a tocar?- assinto, meio incerta- Ok, vou te mostrar. Aqui é o Mi, aqui é o Fá e o Sol é logo aqui. Agora presta atenção- ele toca uma vez. Depois repete e me entrega o violão.

Hesito alguns segundos, mas então tomo o instrumento e posiciono os dedos como ele me mostrou. Acabo me atrapalhando no meio da música e ele dá risada.

Imperfeitamente Perfeito para MimHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin