Capítulo 5

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Continuei correndo, sentindo toda a irritação e estresse saindo do meu corpo, pesado. Não demora muito até que aviste o primeiro piquete.  Um sorriso brinca nos meus lábios e me aproximo da cerca, observando o grupo de cavalos que pasta ali. No horizonte, apenas um vestígio de luz solar ilumina o céu, a noite por vir. 

Meus olhos ficam molhados quando um cavalo preto trota em minha direção. Ele, ou ela (não dá pra saber ao certo), me lembra muito Tempestade. O pelo brilhoso, o porte esquio, os olhos bondosos.

-Oi- faço barulho de beijinho tentando atraí-lo- Vem cá, vem.

-Ô sua maluca!- a voz do peão me faz revirar os olhos.

A raiva volta a borbulhar no meu peito, minhas mãos se fecham ao lado do corpo. O cavalo, por sua vez, relincha alto e sai trotando para longe.

-Posso saber, que merda foi isso?

-Isso o quê?- me viro mostrando os cotovelos- Isso aqui? Ah, é que um ogro me jogou no chão- ele parece um alce que deu de cara com os faróis acesos de um carro- Mas, relaxa, é só uma maneira fofa de me dizer "seja bem-vinda", certo? Tenho certeza que é assim que se recebe as pessoas por aqui, jogando-as no chão como se fossem a droga de um saco de batatas!- ele abaixa a cabeça e eu passo os olhos pelo seu corpo.

É tão alto quanto Caio, tem ombros largos e braços definidos. O cabelo mais comprido do que o aconselhável está sem corte e é de um loiro escuro puxado para o castanho. Sua barba malfeita e as sobrancelhas são mais escuras e por isso ficam em evidência quando se olha para seu rosto forte e expressivo. Os lábios de formato perfeito, chamavam atenção, em sintonia com o acabamento do rosto.

-Eu não queria te machucar- sua voz sai rouca e quase fico com pena dele.

-Mas, machucou- espero um pouco só para ver se ele vai pedir desculpa. Isso não acontece, então continuo- Você é um idiota! Não parou e pensou um pouquinho antes de realizar aquele atentado contra mim? Não imaginou que eu podia ter me machucado pra valer? E depois aquela provocação idiota com a porta do carro só para completar...- ele continua me encarando, sem vacilar- Não vai dizer nada?

-Eu...- ele balança a cabeça e aponta para o carro- Vem, vou te levar até a casa.

-Eu não vou com você- afirmo.

-Como assim não vai?- ele cruza os braços no peito- Qual seu plano? Correr até lá?

-Meu plano é ficar longe de você, cafuçu- ele joga as mãos para o alto e caminha até o carro.

-Ótimo! Melhor pra mim. Não vou ter que aguentar essa sua marra toda- ele fecha a porta com um baque e em meio segundo desaparece na estrada de terra. 

Respiro fundo e olho para um cavalo manchado que tinha se aproximado.

-Pois é, coleguinha, lá vamos nós- tomo impulso e saio correndo.


Quando cheguei a área principal do haras e finalmente tomei fôlego, estava molhada de suor sentindo as pernas doerem. Olhei ao redor e meu peito se encheu de orgulho, o lugar estava lindo. 

Apoio as mãos nos joelhos e fecho os olhos, tentando desacelerar as batidas frenéticas do meu coração. O silêncio me envolveu e meu coração bateu com força contra minhas costelas... Tudo está tão diferente, mas de alguma forma sinto-me acolhida aqui. Em casa.

Antigamente, meu avô usava metade da terra para a floricultura, que era seu hobby, e a outra para a criação de cavalos Quarto de Milha. Ele ganhou muito dinheiro com o leilão destes animais, mas a renda principal advinha dos rodeios de que participava. 

Imperfeitamente Perfeito para MimWhere stories live. Discover now