Capítulo 13 (continuação)

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O passeio até a casa do senhor Amaral demora bem mais do que o esperado. Não consigo respirar direito quando meu corpo está tão perto desse peão, o que é irritante.

Mas, estou tão cansada que já não encontro forças para negar. Então, sim. Sim, meu coração está batendo tão forte contra as costelas que temo que vá partí-las ao meio. Sim, minha garganta está seca e as mãos geladas. 

Não vou nem me incomodar em negar. 

A única coisa que me tranquiliza é que sei que vou estar em casa em breve. Esse pesadelo acabará e minha vida voltará aos eixos. Quer dizer, mais ou menos, não é? No meio dos destroços do meu faz-de-conta perfeito, sei que ainda encontrarei o conforto do meu quarto, dos raríssimos sorrisos do meu pai, os abraços de reencontro com os meus amigos, Ju e Dani. Não quero pensar em nada para além disso. O que for, foi e é isso. É o máximo que consigo premeditar neste ponto.

 Olho para ele, seu maxilar continua travado, mas ele age como se não; continua murmurando baixinho, como se estivesse falando consigo mesmo, fico intrigada para saber que pensamentos o perturbam. Será que ele também tem suas próprias bagunças para arrumar? Solto ar devagar, querendo que ele saia daquela inercia e tome a minha mão na sua. Pois é, também não posso mais negar que estou completamente envolvida. Essa é a verdade. Nua e crua.

Olhando para ele me questiono se ao menos sei o que eu quero. Definitivamente não posso voltar a viver meu conto de fadas como se nada, nem posso fingir que está tudo bem. Já chega.

Por outro lado, sei que tenho que voltar, por mais que a ilusão de ficar soe tão bem. 

Caio me vem à mente e, imediatamente, um gosto amargo toma conta da minha boca.

Caio, meu cartão verde para o meu desejado final feliz. Dou risada, porque por um longo tempo achei que era ele, sabe? Quando, lá atrás, imaginava meu primeiro namorado, primeiro amor, primeiro beijo etc., acreditaria que seria perfeito. Exatamente como os filmes da Disney contavam. E, por isso, eu nunca tive pressa. As coisas aconteceriam no tempo certo e, aí sim, estaria selado o contrato do 'e viveram felizes para sempre'. Sem esforço, sem dificuldades, sem brigas, sem nada disso, só amor.  Não haveria dúvidas, idas e vindas. E eu estaria prontíssima para viver tudo aquilo, para viver o amor, completo e lindo, como sempre quis.

É...Esse era o plano. Mas, vamos lá, não é, a realidade é bem diferente disso. E, já vou avisando, a vida nem liga para os seus planos. E, a verdade é que não temos como premeditar esse tipo de coisa. Na verdade a vida é esse monte de acasos e probabilidades, é dar um tiro no escuro e contar com a sorte ou... o destino, vai saber. É o por isso que todo mundo tem tanto medo do futuro, por tanto nos inquieta, porque se muita coisa pode mudar em um piscar de olhos, imagina só, daqui um mês? De repente, você pode cansar da cor do seu cabelo e decidir reviver a moda Rebelde, lançada pela Roberta (nossa, ela era incrível, né?), e pintar tudo de vermelho. Mas, quem disse que pouquíssimo tempo depois você não vai cansar do tom avermelhado e mudar pro verde. 

Pois é, somos essa inconstância, esse trânsito entre estados, pensamentos, sonhos e fases. Somos um eterno vir a ser, rumo ao desconhecido. Rumo a todas aquelas incertezas que tanto te assombram em seu círculo mágico onde tudo está sobre controle.

O acaso é um monstrinho travesso invisível e ele está sempre ali. Mexendo os pauzinhos e mudando tudo de lugar. Sem se importar se vai te machucar ou não. Sem medir consequências. 

Entretanto,  agora entendo algo que antes me parecia tão confuso que... Só por Jesus, Maria, José! O fato é que, o acaso existe e não podemos driblar isso. Não podemos tentar manter o controle e nossos planos todos em perfeita ordem de execução, mas, de forma alguma, podemos abrir mão deles.

Imperfeitamente Perfeito para MimWhere stories live. Discover now