as marés se elevam

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Nós estávamos longe do oceano. Jungkook morava num bairro um tanto mais privilegiado, com casas grandes, condomínios de prédios altíssimos e lojas de luxo, e do ponto onde estávamos, na frente da portaria do seu condomínio, conseguíamos ver o horizonte azul e algumas das ondas que eu via de pertinho todos os dias da minha janela do quarto. Nosso maknae era um jovem adulto com um apartamento só pra ele, não por ele ter esse tanto dinheiro ou por ganhar uma boa mesada da sua família, e sim porque seus pais viajavam tanto que acabava sendo ele quem fazia as compras do mês no mercado e pagava todos os boletos; era por essa ausência constante e certo abandono que eu e meus amigos acabamos nos tornando sua família, sabe? Não poderíamos suprir toda a ausência da sua mãe e pai, claro que não, mas sempre tentávamos ser para ele o que uma família poderia ser, e acabava que conseguíamos.

Como o porteiro já me conhecia pelo tanto de visitas, ele nem precisou ligar para o Jeon pra me liberar logo na portaria junto de Taehyung, o que só demorou um pouco porque tivemos que fazer um breve registro com dele, e na verdade foi até um tanto falho pelo tritão não ter um número de rg nem nada, mas foi perdoável. Algumas crianças corriam aqui e ali, o parquinho estava cheio de risadas e gritinhos e a piscina enorme até chegou a chamar a atenção de Tae, mas tivemos que passar por tudo isso resistindo a tentação de parar um tempinho para olhar para que pudéssemos chegar até o prédio onde meu amigo morava.

O tritão obviamente nunca tinha entrado em um elevador, e tive que o explicar sobre como ele funcionava (deixando de lado a possibilidade de elevadores pararem ou quebrarem com pessoas dentro) até que ele se convencesse de que seria seguro o suficiente para entrar na caixa de metal. Assim que apertei o botão do andar e vimos as portas se fecharem automaticamente, Tae se agarrou de imediato ao meu braço, apertando com uma certa forcinha até que o elevador parasse do décimo quinto andar, o que o fez soltar uma exclamação baixinha.

— Eu nunca mais entro num lugar desses. — o ouvi murmurar assim que saímos do elevador, dando de cara com uma única porta.

Como aquele lugar era realmente um condomínio de pessoas com muito valor aquisitivo, cada andar tinha apenas um apartamento, o que não apenas fazia com que Jungkook tivesse um apartamento enorme onde caberia uma festa inteira, como também queria dizer que o mais novo passava muito tempo sozinho dentro de um lugar enorme praticamente vazio. Claro que ele dizia que aquilo não era um problema, que na verdade ele até preferia ter cômodos grandes pra poder foder com o Yoongi (céus, não me permita nem pensar numa coisa dessas!), mas acho que todos nós sabíamos que ele odiava a solidão toda dentro daquele lugar enorme, o que nos fazia passar a maior parte do nosso tempo ali dentro com ele, e isso não era um problema pra ninguém já que gostávamos muito de passar um tempo (ou vários deles) juntos.

Atualmente Jungkook, pra conseguir um dinheiro que não fosse dos pais e não nos incomodar – o que nunca acontecia – resolveu começar a fazer streams de jogos em uma plataforma online especial pra isso. No início a gente até que pensou que não ia dar muito certo, que isso talvez até piorasse um pouco toda a situação do nosso maknae, mas acabou que fomos todos tapeados porque agora o Jeon era muito famoso na internet, tinha vários amigos tão famosos quanto e interagia com pessoas de todos os lugares do mundo o dia todo quando não estava estudando. Se a gente sentiu ciúmes no começo? Claro que sim, até porque o pirralho não sabe se controlar quando gosta de alguma coisa e faz isso o tempo todo, então eu, Hobi e Yoon que somos os responsáveis por ficar de olho nos horários do Jungkook, chegamos até a fazer uma grade de horários pra ele para que ele tivesse tempo para estudar, ter um tempo com a gente e, bom, foder o namorado pela casa toda... Eca.

Como uma forma de colocar aqueles pensamentos terríveis dos meus melhores amigos fodendo em cima da mesa onde a gente costuma jantar, incentivei Taehyung a tocar a campainha, o que ele fez com certa animação porque parecia sentir a animação que emanava de dentro daquela porta.

o conjurador de marés | vmin / pjm +kthOnde as histórias ganham vida. Descobre agora