Superação? O que é isso?

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Corria, corria sem parar, segurando um ursinho, tentando pedir ajuda , mas parecia que ninguém ouvia, ninguém o via, ninguém se importava...
O sereno frio já cobria os cabelos e os olhos vermelhos pela quantidade absurda de lágrimas que havia derramado, ardiam.
Por quê? Por que ele tinha que presenciar aquilo? Não merecia, não era um mal garoto, mas ainda assim, viu seus pais serem mortos na sua frente.

Acordou suado, com o cabelo grudado na testa, o rosto molhado pelas lágrimas, o corpo tremendo...

Aqueles pesadelos estavam cada vez mais frequentes, nem terapia estava adiantando, mas Itachi com certeza não precisava saber dos seus terrores noturnos, ou seria capaz de dobrar a vigilância sobre ele.

Se levantou, indo direto para o banheiro e ligou o chuveiro, se despindo e entrando em baixo da água fria.
Esperava que as gotas que caiam lavassem seu corpo e levassem embora todo aquele estresse pós pesadelo.

Precisava se manter forte, não poderia desistir, por Itachi, apenas por Itachi.

Ouviu a campainha tocar e estalou a língua no céu da boca. Já estava irritado logo cedo, que ótimo!

Se enrolou numa toalha e desceu para atender quem quer que fosse e mandar ir embora.
Abriu a porta e deu de cara com quem menos queria ver naquele momento.

- O que faz aqui?

Naruto lhe ergueu uma sobrancelha antes de colocar sua atenção no corpo alheio.

- Não sei se você sabe, mas eu tenho que estar aqui todos os dias. -
Revirou os olhos. - Podia ser menos marrento, iria ajudar a melhorar a convivência.

Sasuke suspirou, irritado, frustrado e sem nem um pingo de vontade de discutir.

- Tenho que sair daqui a pouco.

Disse tentando fazer que o loiro fosse embora.

- Tudo bem, eu vou com você.

Suspirou ainda mais frustrado e deixou o irritante entrar.

- Sabe, não é educado encarar.

Naruto ficou levemente desconcertado e desviou o olhar.

- Olha quem fala sobre educação, a miss bons modos do ano.

Sasuke revirou os olhos para a provocação que estava na cara que era pra se desviar da "acusação", e voltou para o quarto á fim de se arrumar.

- Já volto.

Não demorou a se vestir, pegou seu laptop, fones de ouvido e seu celular, iria precisar deles para não ter que ouvir o outro tagarelando. O que de certa forma foi em vão, já que no caminho, Naruto ficou toda hora puxando o fone de seu ouvido para receber atenção em algum assunto, que com certeza ele não teria interesse.

- Da pra parar com isso?

- Vai falar comigo?

- Não.

- Então não!

Aquele seria um longo dia...

Mais tarde, tomando seu café, lá estava ele rotineiramente escrevendo, na espelunca(segundo Naruto) do velho mão de vaca.

- Por que gosta tanto daqui?

Ergueu o olhar como da primeira vez em que Naruto lhe dirigiu a palavra quando ainda trabalhava ali e isso de certa forma, causou uma pontada de angústia nele.

- Bom, não é longe de casa, e, como Itachi já havia lhe adiantado, venho até aqui para que ele veja que ando tendo vida social, não diria que é gostar, soa mais como uma utilidade.

- Entendo, bem, sabe, vo...

Sasuke o interrompeu, antes que pudesse terminar de falar.

- Sabe Naruto, eu não preciso de companhia na verdade, isso é uma ilusão que Itachi alimenta em si próprio, na esperança de que eu vá ficar longe do suicídio, mas a verdade, é que se eu quiser mesmo morrer, não vai ser você ou qualquer outro que irá impedir, vai acontecer de qualquer forma.

O loiro arregalou os olhos e ficou fitando Sasuke por alguns segundos.

- Meu vazio não vai se preencher com essa pressão toda que tentam por sobre mim, na verdade, nada pode preenchê-lo. O vazio é como uma corda banda, hora você está andando sobre ela de maneira equilibrada, hora você balança por todo o trajeto enquanto tenta não cair, e, sabe... Às vezes você cai.

Sasuke se abriu de tal forma, que até mesmo ele se surpreendeu, queria ele saber o que estava acontecendo consigo.

- Sasuke, eu te entendo.

Ah, a famosa frase clichê...

- Eu já passei por algo semelhante ao que você está enfrentando, também perdi alguém importante para mim e isso gerou balanços psicológicos, eu quase morri, mas não por tentar me matar. A saúde mental abalada, interfere em todo o resto, e isso, é mais comum do que parece. Você vai ficar bem, você só precisa querer ficar.

Voltou a atenção para o que escrevia, ignorando completamente Naruto à sua frente.

- O que está escrevendo?

- É bem bisbilhoteiro, não é?

- Vamos, me diga, poxa!

- É um livro. Um livro de educação emocional.

Naruto pareceu confuso, não compreendia como alguém tão ferrado psicologicamente poderia escrever um livro com um tema como aquele.

- Sei o que está pensando, mas vai por mim, ninguém melhor para escrever sobre isso que alguém que entende quem se encontra em situações que precisam de ajuda.

O olhou admirado, Sasuke realmente era uma incógnita.

...

- Você não fica cansado de ter que vir para cá, enquanto queria estar em outro lugar?

Hinata perguntou.

Sasuke puxava a fumaça do cigarro aceso entre os dedos e tentava pensar em uma resposta que não fosse rude.

- Sim.

Já faziam dias, muitos dias que estava frequentando a terapia em grupo, e a única parte boa que encontrou, foi a recente amizade com a garota.

- Por que não conversa com ele sobre isso?

Ele suspirou, como se a resposta fosse óbvia.

- Porque já vacilei demais e ele perdeu a confiança em mim.

- Ah... Que droga, sinto muito.

- Não se preocupe. - Sorriu de canto. - Vou ficar bem.

Gostava dela, achava que dentre todas as pessoas ali, ela era a que mais lhe entendia. Não ia para lá para reclamar de sofrimento amoroso, como Karin, nem falar sobre a morte de seu cachorro, como Kiba, muito menos para falar de uma compulsão por comida, como Choji. Ela tinha um sofrimento tão pesado quanto o seu, aliás, mais pesado ainda, e isso a fazia interessante. Já que a persistência dela em continuar tentando melhorar, a fazia uma pessoa forte, e isso de certa forma contagiava Sasuke.

A amizade pode curar mais que psicotrópicos...

Continua...

SolitaryWhere stories live. Discover now