O sabor amargo do passado

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Advertência: Contém relatos pesados sobre o passado das personagens.

"Um dia tão bonito, para uma tristeza tão grande..."

Itachi havia convencido Sasuke a participar de uma terapia em grupo com uma das colegas de trabalho de sua terapeuta, e "convencido", significava que ele o obrigou.

- Boa tarde, meu nome é Ino Yamanaka, mas podem me chamar só de doutora Ino.

Ela sorriu gentil para as pessoas que estavam ali presentes.

- Bom, vamos dar início à interação?

E por aí em diante, cada um foi falando sobre seus problemas, Sasuke já se via completamente incomodado com a situação e queria fugir dali o mais rápido possível e nunca mais voltar, mas mudou de ideia ao ver uma moça tímida se levantar e começar a falar.

Os olhos dela eram como dois abismos, pareciam conter uma carga profunda de angústia.

- Bom, me chamo Hinata... - Ela conversava pausadamente, como se precisasse de um tempo para pronunciar cada frase que saia dos lábios trêmulos. - Quando eu tinha 5 anos, fui sequestrada e pediram uma quantia alta em dinheiro à minha família... - Dizia sempre entrecortada e seus olhos perolados começavam a marejar... - E meu tio se propôs a levar a quantia em dinheiro para os sequestradores, porém, não satisfeitos, acabaram tirando sua vida e me jogando em um canto qualquer de um lugar bem distante da minha família.
Levaram meses para me encontrar, eu já havia perdido completamente a memória, sofrido abusos psicológicos, físicos e sexuais.
Nunca mais fui a mesma, meu pai no começo me culpava pelo que aconteceu, por eu ser um fardo, mas hoje ele percebe que eu estou realmente doente. Depois de recuperar a memória, desenvolvi depressão e síndrome do pânico em níveis gravíssimos e precisei ser escolarizada em casa. Além das sequelas emocionais, eu também fiquei estéril, pois foi preciso remover meu útero. Depois de tanto sofrimento, acabei perdendo minha mãe, que não aguentava me ver naquela situação.
Meu primo me odeia por conta da morte do pai, odeia toda a minha família na verdade... - Baixou a cabeça e deixou umas poucas lágrimas teimosas escaparem. - Ele já não tinha a mãe, e, por minha causa, perdeu o pai, eu convivo com essa culpa diariamente, por mais que tentem me fazer enxergar que não foi intencional, eu não consigo me perdoar e conviver com esse peso na consciência.

Sasuke ouvia tudo atentamente, acabou sentindo uma onda de angústia ao lembrar da morte dos pais, de certa forma ele entendia um pouco a dor dela.

Quando quase todos já haviam falado e a doutora deu um tempo de descanso, ele saiu da sala para fumar um cigarro e refletir.

Puxava a fumaça devagar, aproveitando a nicotina que preenchia os pulmões.

"Sabor câncer"
Pensou divertido

Estava tão imerso em seus pensamentos, que não notou quando alguém se aproximou.

- Dia difícil, não é?
Ela perguntou.

Sasuke olhou para a garota pequena ao seu lado e voltou sua atenção para o cigarro.

- Com certeza.

Hinata o olhava com olhos curiosos e não passou despercebida.

- O que tanto olha?

Imediatamente seu rosto ficou vermelho e ela sacudiu as mãos na frente do corpo.

- D-Desculpe, eu só queria criar coragem para perguntar seu nome, afinal, você não quis se apresentar na sala.

Sasuke era marrento, tão marrento que nem o próprio nome quis contar à turma, para ele, era irrelevante estar ali, se não fosse Itachi...

- Sasuke. - Disse soltando a fumaça e jogando fora o resto do cigarro. - Hinata, certo?

A garota assentiu e Sasuke findou o diálogo.

- Bom, Hinata... Vou indo, até mais.

Os olhos dela se arregalaram com a atitude do outro.

- Espere, você ainda não falou e a sessão não acabou.

Sasuke olhou para trás e deu um sorriso de canto para ela.

- A alma de um encrenqueiro nunca muda.

Virou as costas indo em direção à sua moto e foi embora.

Hinata ficou parada na porta do consultório tentando imaginar quais seriam os mistérios que a alma sombria do moreno levava.

Sasuke era um livro que não foi escrito, páginas em branco de um conto com o final feliz arrancado, amassado e transformado em cinzas resultantes das chamas de raiva e dor que carregava nos olhos.

Ela iria descobrir mais sobre ele, ah sim...

...

- Como foi lá?
Naruto perguntou.

Sasuke o olhou com uma sobrancelha levantada e fingiu pensar em uma resposta.

- Incrível, brincamos de casinha e fizemos tranças nos cabelos uns dos outros, foi uma sessão regada de abraços e troca de segredos. Que diversão!

Naruto quis rir, tão bonito e tão marrento, por que ser tão filho da puta assim?

- Há Há! Muito engraçado, teme! Custava responder educadamente?

- Pergunta idiota não merece resposta.

- MAS VOCÊ RESPONDEU E AINDA DE FORMA AINDA MAIS IDIOTA!
Gritou.

- Pergunta muito idiota, merece resposta a altura ou até mesmo superior.

Lhe sorriu e deu as costas para o loiro que ficou estático no lugar.

"Esse cara vai me enlouquecer, Sakura-Chan, onde foi me enfiarrrrrr"
Pensou

- Vai ficar parado aí feito um dois de paus, ou vai fazer seu papel de babá? Se quiser fingir, melhor ainda, assim ganha seu dinheiro e eu não preciso compartilhar de sua companhia.

O rosto de Naruto ficou vermelho, mas de raiva.

- Vai se foder, se você tentar se matar de novo, eu que vou levar a culpa.

Fechou a boca assustado pelo que tinha dito, mas já era tarde para remediar.

Sasuke o olhou sério, sem demonstrar o quanto isso o havia quebrado, não daria o gosto de seu sofrimento ao Uzumaki imbecil.

- Não se preocupe, quando acontecer, não levará a culpa, afinal, o inevitável se chama i-n-e-v-i-t-á-v-e-l, não é atoa, não é mesmo?

Deu um de seus sorrisos falsos e virou as costas, entrando no apartamento.

Naruto percebeu que era tarde demais para se arrepender do que havia dito, e ficou ainda mais incomodado com a resposta que o outro deu. Não queria ser responsável pela morte de ninguém, mas acima disso, não queria que ele morresse. Sasuke era jovem demais para estar tão destruído.

Continua...

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