Sol em meio as nuvens

3.3K 480 501
                                    

Não tinha motivo algum para ser feliz, mesmo assim ele era.
Os cabelos dourados lembravam os dias ensolarados do Havaí, totalmente diferente do céu nublado e triste de Chicago, mas definitivamente não se importava, não quando possuía saúde, um emprego e alimento na sua mesa.
Bom, o emprego não era dos melhores, mas ainda era melhor do que não ter nenhum.
Já fazia semanas que ele estava trabalhando na cafeteria e sempre que chegava, um moreno pálido, aparentemente tão nublado quanto o céu naquela estação, estava lá, tomando seu café e lendo seu jornal. Era sua rotina.

Sempre atrasado, o patrão acusava.

- Precisa de mais alguma coisa, senhor?

Perguntou quando se aproximou, vendo o homem erguer o olhar de soslaio e voltar sua atenção ao jornal.

- Se eu precisar, eu chamo.

Disse e baixou o olhar novamente.

Naruto franziu o cenho e saiu sem dizer mais nada.

"Bastardo mal educado"
Pensou.

Voltou para o balcão e começou a atender os outros clientes, mas hora ou outra encarava o rapaz, que nem se quer lhe dirigia o olhar.

A cara amarrada foi desfeita assim que viu uma cabeleira rosa adentrando no lugar.

- Sakura-Chan!

Quase gritou, chamando a atenção para si. Coçou a nuca envergonhado e sorriu para a moça bonita que se aproximava.

- Oi cabeça oca, como você está?

Pegou o cardápio no balcão e começou a folheá-lo.

- Estou bem, e você? Deu uma sumida esses tempos.

Ela baixou o cardápio, o colocando novamente sobre o balcão.

- Também estou bem, sumi por conta do trabalho. Vou querer uma fatia de torta de abacaxi.

Naruto foi buscar o pedaço de torta e a rosada juntou as mãos em ansiedade quando o viu retornar com um pedaço que parecia tão apetitoso.

- Estava sentindo falta dessa delícia.

Ele sorriu para ela com carinho e um tanto arteiro.

- Eu sei que estava sentindo minha falta.

Ela riu, o olhando incrédula.

Conhecia Naruto à tanto tempo, e, ainda assim não havia se acostumado com todas as gracinhas dele.

- Estava falando da torta.

Ergueu uma sobrancelha para ele em desafio.

- Mas queria estar falando de mim.

Sakura revirou os olhos e lhe deu um tapa na cabeça.

- Ai, Sakura-Chan!

Coçou o lugar que levou a pancada e deu risada.

- Ninguém mandou ser abusado, bom, vou me sentar com meu paciente.

Naruto ficou confuso, até Sakura apontar para uma mesa no fundo.

- O rabugento ali? Nossa!

Ela tornou a rir.

- Rabugento mesmo, difícil de lidar que só, bom, deixe-me ir.

Se despediu do loiro e seguiu rumo à mesa do Uchiha.

- Bom dia, Sasuke.

Ele suspirou e colocou o jornal sobre a mesa.

- Preciso mesmo fazer isso?

Não queria ser visto em público, já bastava a exposição que tinha no trabalho, tinha fobia de gente e isso não era novidade.

- Se quiser melhorar, precisa sim.

A última vez que tentou fazer terapia fora da clínica, teve uma crise de pânico e vomitou. A experiência tinha sido no mínimo, amostra suficiente de que aquilo não era uma boa ideia a se repetir.

- Certo, bom... Hoje estou me sentindo vazio, apenas isso, sem tristeza, sem dor do passado, sem vontade de interagir ou até mesmo sair da cama, é simplesmente um vazio oco. Minha mente está tão nublada quanto o céu lá fora.

Soltou tudo de uma vez, já sabendo que se não se abrisse, ela iria contar tudo a Itachi e ele novamente ficaria no seu pé.

- Está indo bem, continue.

Suspirou, não queria fazer aquilo, não queria mesmo.

- Não consigo me relacionar com ninguém, não consigo fazer amizade ou ter qualquer tipo de afeto por alguém, além do meu irmão, e não, não sinto falta disso, aliás, não dá pra sentir falta do que nunca se teve.

Sakura segurou as mãos do moreno e olhou nos olhos dele.

- Sabe o que seria bom? Você deixar de lado um pouco suas vontades, afinal de contas, se você depender só delas, vai passar os dias trancado em casa sem sair. A solidão é muito atraente, Sasuke. Ela vai te fazer sentir prazer em estar nela, enquanto te adoece aos poucos, sem que você veja.

Ela tinha razão, sabia que tinha, mas ainda assim achava mais fácil fugir do problema, que enfrentá-lo.

- E como faço para me livrar disso?

Sabia que a pergunta era óbvia, mas queria sair logo dali.

- Me deixe sair todos os dias por pelo menos uma hora com você e te levar para socializar um pouco, precisa de convívio social, ou já já vai se tornar parte do escritório.

Riria se fosse em outra ocasião, uma na qual não estivesse tão desconfortável por estar em público. Passava tanto tempo no escritório, que já parecia ser um dos móveis.

- Certo...

Naruto se aproximou da mesa e perguntou se queriam mais alguma coisa, foi nessa oportunidade que pode ver os olhos escuros do outro e reparar neles.
Pareciam tristes, profundos demais. Os olhos dele continham uma película de frieza que Naruto sabia que era apenas para mascarar toda a dor que ele guardava dentro de si.

- Hm, vou querer outro café.

Sakura não quis mais nada, então simplesmente anotou o pedido e se retirou.
Foi até a cozinha e voltou breve, dando tempo de reparar um pouco mais no Uchiha.
A amiga tinha sorte, possuía um paciente tão bonito, apesar de tão chato.

Sasuke também pôde reparar nos olhos do outro.
Azuis radiantes, que combinavam com os fios loiros dos cabelos.
Brilhavam como um céu ensolarado, o que contrastava com aquele tempo gélido e fechado.
Os olhos dele eram repletos de uma aparente felicidade, que mesmo sem nunca ter conversado com ele, Sasuke sabia que possuía.
Pareciam carregar tudo que faltava nos seus próprios.

Continua...

SolitaryWhere stories live. Discover now