Capítulo 27

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Olho de um lado para o outro, aturdida em meio aos flashes e as perguntas. Lex segura minha mão, firme, me impedindo de sair correndo dali. Na minha boca ainda tenho o gosto dele, mas isso parece insuficiente.

— Eu não estava preparada para isso... — sussurro, dando um passo para trás, tentando me manter distante do microfone.

— O quê? — ele me indaga, ainda sorrindo.

— Essa exposição, toda essa atenção sobre mim, sobre nós... Como se precisássemos de tudo isso, de abrir a nossa história para o mundo, lhes dando o direito de opinar...

— Amor, esse é o meu mundo... Não há como estar comigo e escapar dele...

Ouvir isso parece tão certo e, ao mesmo tempo, errado. Olho para ele, todo seguro e pleno de si, e me pego a pensar se estou disposta a passar por tudo isso, abdicar da tranquilidade que me cerquei por isso. Olho para o lado e vejo Beatriz me encarando com um sorriso, enquanto César me encara com sarcasmo, talvez esperando a hora que saia correndo dali.

Em que ponto da noite as coisas perderam o controle?

Qual o instante em que os sorrisos deram lugar a questionamentos, murmúrios a gritos, a discreta iluminação do ambiente cedeu espaço para o espocar incessante dos flashes?

Horas antes estava feliz longe da luz dos holofotes, uma efêmera presença sempre um passo atrás dos membros da família Cerqueira. Apresentada para alguns como a artista, outras vezes como amiga... Não era a nora, noiva ou devoradora de filhos alheios. Apenas eu mesma... Tratada com a tênue e polida camada de indiferença capaz de me garantir segurança.

— Acho melhor agradecer a presença de todos antes que fiquem bêbados, inclusive os jornalistas — Beatriz me confidenciou em determinado momento da noite, me oferecendo um discreto sorriso que retribui. — Minha cara, aprenda uma coisa: após certo número de horas, junto a inúmeros litros de álcool ingeridos, toda a famosa nata da sociedade aqui presente será mais barulhenta e sem modos que os pobres cujos dedos nunca se cansam de apontar em acusação. Então, se quiser fazer algo, que seja antes do caos reinar... Vocês vêm comigo? — chamou o marido e o filho, que assentiram.

Lex me deu um beijo carinhoso na bochecha e César pediu licença, no mesmo tom distante que se dirigiu a mim durante toda a festa. Enquanto isso meu noivo me sussurrou um eu te amo antes de se afastar. Cruzaram então os braços com os dela, um de cada lado, enquanto caminharam na direção do palco, cumprimentando os convidados que abriram caminho.

Ao avistá-los, um dos membros da organização se adiantou e, esbaforido, gesticulou para que a vocalista da banca conduzisse a música para o final, liberando assim o microfone para a dona da festa. E foi sob uma salva de calorosos aplausos que Beatriz Cerqueira subiu ao palco, conduzida pela família, em um retrato incomparável de riqueza, elegância e beleza. Lex, por si só, é um dos homens mais lindos que já conheci, mas junto dos pais, cada detalhe dele parecia resplandecer, e era impossível a mim esconder o sorriso quando os olhos dele me procuraram em meio à multidão.

Me aproximei do palco calmamente, pedindo licença entre celebridades, políticos e pessoas em destaque nos mais diversos setores, só para ouvir de perto a voz rouca e suave da minha sogra agradecer a todos por serem parte daquele momento.

— Obrigado por aceitarem o meu convite e estarem aqui, ao meu lado e da minha família, celebrando a vida. Não só as nossas bem sucedidas existências, no conforto de nossos escritórios, lares, carros elegantes e viagens luxuosos. Mas por aceitarem a minha proposta de fazer a diferença, transformando o meu presente em donativos para o hospital do câncer infantil — e mais uma vez ela abaixou a cabeça, visivelmente emocionada, enquanto as palmas aumentaram. — Hoje são vocês que merecem os parabéns.

O GarotoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora