Capítulo 18

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Dizem que a maturidade nos traz conhecimento. Como se o tempo, essa entidade misteriosa e enigmática, nos tirasse a vida pouco a pouco e, em compensação, nos oferecesse a sabedoria dos mestres. Pois, desde já, afirmo que isso é uma besteira, uma ilusão antiga daqueles que desejavam embasar com a idade as mentiras por eles proferidas. Somos poeira estelar tentando nos prender a cauda dos cometas, na constante caça por verdades absolutas que nunca existirão. Medíocres, tolos e infantis, achando que podemos governar em nossas mentes o absolutismo do conhecimento, mas sempre seremos cercados de dúvidas, tendo a nossa frente mais perguntas do que respostas.

Quando disse a Lex que o amava, e beijei os lábios dele, emocionada, vendo os olhos jovens dele brilharem com lágrimas, pensei que sabia a dimensão do sentimento que tinha no peito. Ao verbalizá-lo, torná-lo real, pensava que a clareza viesse, os mistérios e medos se acabassem, e pudéssemos ver, de forma definida, qual o caminho a seguir.

Quem me dera as equações da vida fossem tão simples, que o simples fato de nos assumirmos fizesse que o mundo à nossa volta também o fizesse, se moldasse ao nosso relacionamento, livre de preconceitos e apontamentos. Mas nada é como esperamos...

Três meses se passaram desde que nos reencontramos e reforçamos através das palavras os laços que nos envolvem. E a cada dia que nossos olhos se cruzam e as bocas se encontram, aprendemos a nos apaixonar de verdade. De um jeito que os livros não professam, e a mente sequer racionaliza.

Descubro a cada instante que o sentimento mais pleno é quando aprendemos a nos despir diante do outro. Não o simples ato de tirar a roupa para que as carnes se choquem em busca do prazer, como fizemos em nossa primeira noite. É algo mais emocional, etéreo.

De fronte a Lex, eu tiro dele todas as expectativas, sonhos e anseios que projetei nele. Aprendo a ser conquistada pela pessoa que ele é, com as qualidades e defeitos que possui... Reconheço o homem que pretendo escolher amar todos os dias, sem rótulos. Assim ele deixa de ser o menino, o garoto de programa, o homem perfeito desejado no sonho... Se torna Alexandre Cerqueira, alguém que se torna admirável a cada dia, parecido comigo de um jeito que nunca imaginei. Principalmente na paixão pela arte...

— O que você quer saber sobre mim, Vanessa? – ouço a voz dele, rouca, a me sussurrar no ouvido, enquanto me abraça. A blusa suja de tinta respinga também no peito dele, uma verdadeira tentação, com os cabelos emaranhados, vestindo apenas uma cueca branca.

Deixei-o na cama, dormindo, e vim pintar. Ao vê-lo dormindo, músculos, pelos e curvas, dourado sobre o branco, iluminado pelas frestas do sol que insistem em irromper a janela, um sentimento de plenitude me toma. E é essa sensação ímpar de descoberta e afeto, o nosso mundo particular, que tento de alguma forma repassar para a tela.

— Tudo... Me abri para você sem pestanejar. Espero que faça o mesmo...

Aquele havia sido uma de nossas discussões recorrentes. Lex me contava sobre o seu passado como migalhas de pão jogadas pela floresta, pequenas dicas ou deixas. Fugia do passado assim como eu insistia em me recusar a imaginar o futuro. Por mais que insistíamos em nos apoiar no presente – além de um no outro – eu preciso dessa história. Conhecer mais do que o meu amante, ou o homem que recebia dinheiro em troca de prazer. Preciso reconstruí-lo dentro de mim, sem véus ou temores.

As mãos dele se afastam e o ouço suspirar. Coloco o pincel sobre a palheta de tintas e me viro sem pressa. Vejo que ele vai até a varanda e se senta, despojado, sobre uma das cadeiras. Parece que as pessoas vão automaticamente ali para se confessarem, como se precisassem se confrontar com a natureza para se abrirem. Assim foi com Brina, comigo, e agora com ele...

O GarotoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora