Capítulo 21

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As palavras da minha filha ressoam sobre mim, sem sentido. O olhar, cheio de acusação, me fulmina, enquanto despreza deliberadamente Alexandre. Cristina, que veio junto nessa visita, sai com Sofia pelo condomínio, que não entendia, da porta, porque a mamãe gritava para a vovó pelada... Leonardo, por outro lado, tentava aplacar a fúria descontrolada de Sabrina, que me repreendia como se eu fosse a criança.

Preciso me impor, é o que debato comigo mesmo enquanto as coisas se incendeiam. Lex aperta minha mão, preocupado comigo, os dois vestidos com robes, os resquícios ainda de tinta nos corpos. Da outra vez eu me tolhi pelas palavras ferinas dela, abdicando da própria felicidade por conjecturas que se revelaram infundadas. Eu criara o jogo da impessoalidade com Lex, a falta de compromisso ao praticar o ato do "pagou, levou", mesmo quando ele tentava de todas as formas estreitar laços. E quando o sentimento explodiu, o amor que tanto insistia em prender livrou-se, eu corri.

E não por acatar as ideias dela, como posso ter deixado transparecer a princípio, mas talvez pelo fato de que me sabotava. Não estava disposta a assumir algo para mim, arcar com as próprias consequências, constatar que as coisas que pregava com tanta veemência, quando era para mim, aconteciam só da boca para fora. O medo me mostrou que era uma fraude quando o assunto se tornava pessoal.

Mas os dias de solidão me ensinaram a mudar. E ao aceitar Lex de volta a minha vida, dessa vez esperando que fosse na eternidade do segundo da parca existência dos anos que restam, eu me dispus a quebrar a roda que me impus, destruir os grilhões que não só eu, mas as pessoas se impõem no decorrer de toda a vida.

Por isso, ignorando em que parte do diálogo estava, empostei a voz e soltei a única frase que cabia ao momento.

— Ah, fica quieta, Sabrina! — o tom de voz estridente fez o discurso ser cortado, como faca. — Nossa, como você fala... — vejo-a ficar pálida e depois vermelha, mas me obedece. Léo respira, aliviado, e se segura para não rir, pois sabe que se o fizer toda a força de mil vulcões contido nela se derramará sobre ele.

— Mas mãe... — ela tenta argumentar e eu me levanto, apontando o dedo para que se mantenha quieta.

— Isso mesmo... Vamos deixar bem claro que a mãe aqui ainda sou eu. E nunca dependi de ninguém para nada. Ainda consigo pensar sozinha e sou autossuficiente. Ou seja, não te devo explicação da minha vida. Namoro quem eu quiser, dou para quem convir, e se eu me apaixonar por um homem de 80 ou, no caso, um garoto de 25, o problema é meu. Assim como respeito o poliamor de vocês, se posso chamar isso já que a única que come todo mundo aqui é você...

— Concordo plenamente – Léo desabafou e Sabrina olhou para ele, irritada. Vejo-a como uma menina novamente, sendo contrariada por todos os lados e fazendo bico. —Ué, ela está mentindo? Eu te amo, Brina... Com todas as suas qualidades e defeitos, mas a gente sabe que você pode ser um pouco, digamos...

— Egoísta? — eu complemento. — Já disse isso a ela... Sei que tenho parte de culpa nisso. Mas não vou mais concordar. Não tenho mais uma menina birrenta diante de mim, mas sim uma mulher. Desejo que me veja como uma, com meus desejos e paixões. Se me ama, respeitará esse relacionamento. Eu nunca me senti tão viva...

— Mas eu só quero te proteger, mãe. Quem é esse moço, de onde ele vem? Pode estar querendo só o seu...

Nesse momento, Lex intervém e começa a rir. De forma alta e sonora, destoando ainda mais das palavras críticas que ainda ressoam pela sala.

— Eu amo sua mãe, Sabrina — a voz tornou-se séria, de repente. — E posso ser sincero? A ideia de que possa querer dinheiro dela é ridícula... Todas as vezes que ela quis fazer isso, eu recusei, mas essa mulher é teimosa... — dou um cutucão nele no mesmo instante. Se nesse exato momento ela descobrir como o conheci, o mundo desabará com certeza. Ele me olha e fica sem graça, percebendo que quase fez merda, mas remenda a situação. — Caso desejasse o conforto que tanto acha, teria seguido todos os planos que meus pais almejaram para mim, casado com uma herdeira de algum conglomerado milionário e administrando os hotéis junto com meu pai...

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