Capítulo 8

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PARTE 2

A IDADE DA PAIXÃO

Oi,

Tô viva.

Acabada. Massacrada. Assada, dolorida...

Mas viva. E muito satisfeita! Feliz até, acredita nisso?

Sei que deve estar preocupada, afinal já são quatro horas da tarde... Prometi mandar um sinal de vida, falar que estava bem, não assassinada e jogada no meio da serra, mas não deu antes... Ou melhor, eu dei... Até agora.

Me julgue, se quiser!

Lex, o garoto, minha companhia, o puto, chame do que quiser, acabou de pegar um táxi.

Mas agora não é hora de dar detalhes. Mal consigo raciocinar.

Vou colocar tudo em ordem dentro de mim e depois a gente se fala.

Agora só preciso dormir...

Fui.

CAPÍTULO 8

Me recuso a abrir os olhos. Estico o corpo em meio aos lençóis, na esperança de que sinta novamente a pele acariciada, retomar a sensação das mãos sobre mim, o corpo rígido a roçar no meu... Esfrego sobre os lençóis, na tentativa de reconhecer o corpo que não parece o meu, a ansiedade do contato, os olhares a se cruzarem, as palavras carregadas de desejo.

Não quero despertar. Voltar a realidade da solidão e álcool, a ser o que os outros desejam, cheia de sorrisos e gestos vazios para suprimir o abandono. Do tempo, das pessoas, da juventude, do ser artístico que me preenchia. Desejo retornar algumas horas, naquele instante há pouco perdido, e atar a mim aquela que se revelou despudorada, quente, sensual, consciente do próprio corpo e do que ele pode proporcionar.

Acordo, por fim, já que nesse instante sonhar já não me basta. Vejo que sou a mesma e, ao mesmo tempo, outra. Alguém que aos poucos pretendo reconhecer.

Me levanto, nua e caminho pelo quarto, os passos incertos, as pernas ainda fracas, mas muito mais leve. Paro, por um momento, e vislumbro no corpo alguns hematomas que rodeiam os quadris, onde fui pega com tanto tesão e vontade. Sorrio e chacoalho a cabeça, me sentindo tola, plena de vida. Entro no chuveiro, e deixo que a água me lave o corpo, me livre um pouco do entorpecimento que o sexo me trouxe. Pego a ducha e deixo que o jato de água entre em contato com a vagina, a fim de aliviar um pouco o incômodo deixado. Aquilo arde, formiga, mas também excita, faz minha mente devassa, lembrar de quando a língua dele estava ali, a boca no grelo a beber do meu gosto, como um viciado. Por mais que tente, essa presença ainda me assombra. Aquele garoto...

Apesar de há horas ter sido deixada por aquele que destruiu a velha Vanessa para que esta nova e ainda incógnita surgisse, preciso evocá-lo. Trazê-lo à minha lembrança para que dê alguma forma preencha as lacunas que ainda restaram em mim.

E sei como posso fazer. Visto um robe e, após alguns minutos, já com uma caneca de café na mão, me sento em frente ao computador, pronta para falar com Patrícia.

Hesito, pensando como começar. Deixo que os dedos corram pelas letras, sutilmente, leves e firmes, como foram os dedos que me masturbaram.

Bom dia, amiga

Sei que deve estar reclamando por aí, ansiosa em saber como foi, mas eu precisava desse tempo para mim. Tinha de descansar, refletir sobre tudo que havia me acontecido. Ontem, após te mandar a última mensagem, me deitei na cama, nua, como há muito tempo não fazia... E dormi com a satisfação de uma mulher bem fodida. Pensei se existiria uma palavra melhor para definir isso, mas neste instante desconheço.

O GarotoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora