capítulo 6

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Quando Sayuri pegou sua hitaiate como prova de sua graduação como genin aos cinco anos, ela colocou sobre a cabeça e amarrou firmemente na região da nuca. Curvando-se em forma de respeito ao seu sensei ela saiu da sala e caminhou em direção ao monumento hokage.

A caminhada até lá foi rápida e no caminho ela viu o garoto de cabelos loiros e grandes olhos azuis, ele gritava e fazia bagunça enquanto puxava pelo braço um garoto que parecia estar com sono.

As pessoas pareciam adorar aquele garotinho, todos distribuíam sorrisos e eram gentis com ele, ele possuía amigos e era sempre visto acompanhando o Sandaime Hokage pelas ruas da vila. O garoto tinha tudo mesmo sendo órfão que nem ela, então porque eles me tratam tão mal?

Ao chegar no topo do monumento ela sentou-se na cabeça do Shodai Hokage e tocou com a ponta dos dedos a faixa na sua cabeça com o símbolo da aldeia cuidadosamente gravado no metal.

– Ser um ninja é amar a vila e seu povo acima de tudo e estar disposto a dar a sua própria vida por eles – A menina refletiu sobre essas palavras. A criança poderia lembrar perfeitamente dos olhos brilhantes do seu sensei enquanto respondia a pergunta de um dos alunos.

Os olhos, se analisados bem, podem demonstrar inúmeros sentimentos e aqueles expressavam todo o amor e convicção que tinha no que ele falava, só que aqueles olhos não brilhavam pra ela, nenhum dos moradores da vila, nenhum ninja, nenhuma criança olhava para ela com os olhos brilhando. Ninguém a olhava assim, a não ser Kurama.

– Eu não quero dar a minha vida por eles – A criança murmurava – Sinto muito Sandaime Hokage, mas eu não darei minha vida para proteger aqueles que eu não amo.

Um ano depois quando Sayuri saiu de casa naquela manhã para encontrar seu time e realizarem suas missões ela não esperava muita coisa. Não esperava levar um arranhão do gato que tinham que procurar, nem ser arrastada pelos cachorros que tinham que levar para passear e nem cogitou - na verdade ela achou que estava demorando - levar uma bronca pelo seu trabalho em equipe.

– Você ainda pode ser uma criança de seis anos, Sayuri, mas não pode esquecer que seus parceiros são mais velhos. Tente acompanhá-los se não vai ficar pra trás – Tudo que Sayuri fez foi acenar positivamente e falar que ia se esforçar mais.

Mas de todas as coisas que ocorreram ela nunca ia imaginar que seria encurralada no caminho de volta por um Uchiha e, com uma curta troca de palavras, no final o sangue dele seria o responsável por reativar sua Kekkei genkai.

O anbu que estava responsável por vigiá-la naquela tarde observava tudo de longe e viu o momento em que a criança deixou o homem se aproximar o suficiente de uma forma claramente ofensiva e intimidadora e, em um movimento que deixou até ele surpreso, puxou a kunai da bolsinha em sua perna direita e cravou no peito do Uchiha. O homem claramente não esperava por um ataque daqueles, tanto que nem havia ativado seu sharingan, o que foi seu maior erro, nunca subestime um oponente.

A partir daí o anbu preferia esquecer o que aconteceu.

Ele já havia visto crianças matarem, ele mesmo matou uma pessoa muito cedo, mas ele nunca tinha visto uma criança matar daquele jeito. Quando o Uchiha caiu deitado aos pés da menina vomitando sangue ela não saiu e pediu ajuda para salvá-lo, ela apenas se ajoelhou ao lado dele, falou alguma coisa que ele não conseguiu ouvir e logo depois continuou a esfaqueá-lo em diversos locais.

Uma cena tão brutal que o anbu cogitou que a besta de caudas tivesse assumido o controle do corpo da garota, porque uma criança não deveria ser capaz de fazer aquilo, não sorrindo.

Quando a garota se deu por satisfeita, ela fechou os olhos como se estivesse absorvendo alguma coisa. Quando os abriu, o anbu desejou que ela não tivesse feito, pois os olhos dela brilhavam no mais puro contentamento e diversão.

O que sobrou daquela cena foi uma kunai, um corpo, sangue e caos.

Anos após o ocorrido a menina sentia as consequências daquela tarde na pele, a marca da Anbu Ne gravada com ferro quente em seu braço não a deixava esquecer. A Anbu Ne não era lugar para uma criança tão nova se desenvolver e em meio a sangue e mortes Sayuri cresceu como a caçadora anbu Akuma.

Danzou gostava de supervisionar seus treinos pessoalmente para averiguar seu progresso e lapidar a mente da garota do jeito mais conveniente para ele. Mas o único pensamento que rondava a cabeça da menina era o mesmo de quando se tornou genin, ela não queria e não iria morrer por aquela vila. Então ela começou a fingir como Kurama instruiu, fingiu que gostava daquele lugar, fingiu que que Danzou estava moldando ela de acordo com seus ideais e fingiu que protegeria aquele lugar, porque ela precisava de pessoas fortes para ela se tornar forte e quando eles não foram mais o bastante ela poderá ir embora com Kurama.

E depois de um longo período de espera a oportunidade finalmente chegou.

– Hokage-sama – Com a máscara branca tampando completamente seu rosto, assim como a capuz preto tampava seus cabelos, a menina permanecia agachada com um joelho escorado no chão e um punho ao seu lado, de cabeça baixa a garota esperava a ordem para prosseguir o relatório.

– Relatório da missão, Akuma – A voz calma e rouca do Hokage soou por toda a sala, Hiruzen sempre sentia seu peito apertar em desgosto e culpa quando via o que aquela criança se tornou e rezava a Kami que ela ainda tivesse salvação. Ele sabia que grande parte disso era inteiramente sua culpa, pois como Hokage deveria zelar pelo bem estar de todos os moradores da vila, algo que ele falhou miseravelmente com ela.

– Orochimaru-san pretende invadir a vila no exame chunin – E mais uma vez o caos estava programado para acontecer.

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NOTAS: *Akuma é o codinome de Sayuri na Anbu. Aku significa Mau e Ma demônio, ou seja, Demônio Mau.

JinchuurikiWhere stories live. Discover now