Escândalo

2.5K 231 2
                                    

— O que ela quis dizer com "Elize não pode tomar grandes sustos"? — Liam perguntou, ainda parado no mesmo lugar onde estava, apontando para a porta.
As sobrancelhas unidas em sinal de confusão e olhando fixamente para mim.
Eu respirei fundo e coloquei as mãos sob o rosto, os cotovelos apoiados no joelho.
— Eu não sei. Essa garota é louca. — Eu disse.
Mas Liam não pareceu muito convencido.
— Liz, você tem algo para me contar? —

Olhei para ele para dar mais credibilidade.
— Não Liam. Não tenho nada para te contar. — Eu disse.
E realmente não tinha. Eu não poderia contar algo que eu não tivesse certeza.
Muito menos que não quissesse ter certeza.
— Tem certeza? — Ele disse.
— De qualquer forma, esse não é o momento! Você pode por favor focar no problema maior aqui? Ela vai contar para todos. Vai ser um escândalo. — Eu disse.
Para mudar de assunto.

Ele me olhou ainda com desconfiança mas depois parece ter cedido e se sentou ao meu lado.
— Minha mãe vai ficar arrasada. —
Eu olhei para ele, e vi como ele parecia estar triste por conta disso.
— Você não vai tentar impedir ela? —

Ele riu. — Não tem absolutamente nada que possamos fazer. Eu conheço a Luiza, ela é imprudente e não se importa com nada e nem ninguém. Quando ela decide fazer algo, ela faz. —

Eu não sabia o que dizer ou o que fazer, então apenas o abraçei, mesmo que eu mal conseguisse envolver seu corpo, já que ele era o dobro do meu tamanho. Eu tentei fazer ele sentir que de alguma forma, ficaria tudo bem e de que eu era seu porto seguro, assim como ele era para mim.

Liam POV:

Acordei com Elize ao meu lado, a abraçei o mais forte que podia.
Ter ela de volta aqui torna tudo melhor.
Ela pareceu começar a despertar, e sorriu ainda sem abrir os olhos.
— Eu senti tanta falta de você aqui. — Eu  disse, minha voz saiu meio baixa e com um pouco de rouquidez matinal.
Ela abriu seus olhos, já com eles sobre mim.
— Agora eu estou aqui. E eu não vou deixar mais ninguém nos separar. Nunca. — Ela disse.

A abraçei ainda mais forte, sentir o corpo dela tocando o meu era a melhor coisa que existia.
E aqui, deitados em uma manhã comum, ela até me fazia esquecer dos problemas.

Nos levantamos e eu peguei meu celular, haviam 26 chamadas perdidas.
A maioria dos meus pais e o restante de alguns outros números de contatos profissionais.
Elize pareceu perceber minha expressão de preocupação.
Eu já imaginava o que havia acontecido.
— O que foi? — Disse Liz, também se sentando na cama, ao meu lado.
Eu não soube o que responder, apenas liguei rapidamente para minha mãe.

— Liam? — Ela disse do outro lado da linha.
— Mãe, vi que me ligou, o que houve? —
— Venha para cá. Imediatamente. — Ela disse.
E então desligou.

Eu coloquei a mão no cabelo e bufei pesado.
— O que aconteceu? — Perguntou Elize.
— O que aconteceu? Luiza aconteceu... — Respondi olhando para ela, que pareceu entender que a bomba havia explodido na casa dos Suller.

Nos levantamos, tomamos banho e um rápido café. Cerca de 40 minutos depois saímos.

No caminho, enquanto dirigia pensava no que aconteceria daqui para frente.
Meus pais se divorciariam? o que aconteceria com a empresa?
Como minha mãe reagiria?

Olhava para Elize no banco do carona, o olhar dela parecia perdido na janela.
Me perguntei no que ela estava pensando. O que se passava naquela mente.
Ela parecia preocupada e longe dali, me lembrei do que Luiza disse, sobre ela não poder se assustar ou algo assim. Elize pareceu afetada demais com aquilo para ser apenas mais uma das bobeiras de Luiza. Eu queria perguntar o motivo, queria entender o que quer que estivesse acontecendo... Mas agora realmente temos coisas maiores para pensar e resolver.

Chegamos na casa dos meus pais e depois de estacionar, caminhamos até a porta, ao abrir a mesma, encontrei um ambiente meio caótico.
Haviam estilhaços de vidro e porcelana no chão da sala principal, meu pai estava sentado em uma poltrona com as mãos sob a cabeça baixa e Luiza estava distante, em uma ponta do sofá, sorrindo de canto como se estivesse se deliciando daquela situação.

— Onde está minha mãe? — Eu perguntei.
Meu pai levantou o olhar para mim, e eu vi que não havia uma gota de preocupação real com minha mãe ou o relacionamento, ele obviamente estava preocupado com os negócios.
— Está la em cima. — Ele disse, seco.

Eu olhei para Elize para dizer que iria falar com ela e pedir que ela ficasse aqui, mas eu não precisei dizer uma palavra.
Ela sorriu e acenou levemente, como se entendesse o que eu queria dizer antes mesmo de eu formular as palavras.
E então eu subi as escadas rapidamente para ir ver minha mãe.

Busquei por ela abrindo as portas do extenso corredor, a chamando.

Quando a encontrei, no escritório do meu pai, com um copo preenchido até a metade nas mãos. Ao me aproximar vi o celular dela sob a mesa ao lado de uma garrafa de conhaque, tocando, ao me aproximar e ver o nome vi que era minha tia, a mãe de Luiza. Minha mãe simplesmente rejeitou a ligação e continuou bebendo.

Ela olhou para mim e pela primeira vez eu vi minha mãe realmente fora de si.
A maquiagem manchada, apesar das lágrimas parecerem ter secado.
O cabelo não estava tão alinhado e seu habitual sorriso não estava presente.

— Você acredita nisso? O seu pai teve uma filha com a minha irmã! Minha própria irmã. Eu vivi uma mentira por anos. Por anos! — Ela disse.
Mesmo parecendo a ponto de chorar novamente, não saiam mais lagrimas.
Eu pensei bem no que dizer.
— Mãe. Eu sinto muito. —

— Ela disse que você sabia. Que você sabia o tempo todo. Liam... —

— Sim... É verdade. Mas eu não contei nada, não queria te ver... sofrendo. —

— Filho, você só tardou meu sofrimento. —
Eu senti a dor em suas palavras.
Me perguntava se ela ainda amava o meu pai, por que ele claramente não a amava mais a muito tempo, se é que um dia amou ela ou alguém.
Talvez ele só tenha ficado com ela por causa do seu verdadeiro amor: Poder.
A minha mãe vinha de uma família tão rica quanto o meu pai, e isso contribuiu muito para que ele chegasse onde está hoje.

— Me desculpa. — Eu disse baixo.
Percebendo que talvez manter isso em segredo tenha sido um erro.

— Você não tem culpa nenhuma nisso. Não precisa pedir desculpas. — Ela disse.
Ela se levantou e veio até mim, pareceu engolir o choro quando chegou próximo a mim.
Colocou uma mão em meu rosto e olhou fixamente em meus olhos. Até sem estar sóbria ela ainda parecia ser a mulher mais firme que conheço.

— Seu pai pode ter me destruído, mas ele me deu o que mais importa pra mim: Você. E minha maior felicidade é saber que você não está se tornando nada parecido com ele. Pelas suas antigas atitudes, eu temia tanto que acabasse como ele... Não foi apenas o seu pai que decidiu sobre seu casamento. A idéia inicial foi toda minha. Eu pesquisei sobre Elize, eu vi quem ela era, como era boa e como tinha um ótimo caráter. Vi a oportunidade perfeita e eu sabia que ao lado de alguém como ela você poderia se tornar melhor, eu sempre acreditei em você filho. E sei que foi um tiro no escuro e que foi errado te forçar a isso, mas eu ja estava desesperada para tentar te salvar... E veja bem, acho que eu estava certa, não?
Me desculpe se sente que ja errei contigo. Mas eu tenho visto que o homem que você se tornou é mil vezes melhor do que o seu pai jamais vai ser. E eu tenho muito orgulho disso. —

Eu ouvi cada palavra com atenção.
Eu não sabia que a idéia do casamento era dela, eu nem imaginava e isso me surpreendeu um pouco.
Eu me lembrei de como ela estava animada com toda aquela história do casamento, e de como ela sempre pareceu gostar tanto de Elize...
Então de repente tudo começou a fazer sentido.

As Cinzas do AmorWhere stories live. Discover now