Inimigo

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Acordei sentindo uma dor terrível na cabeça.
Levei instintivamente minha mão até minha cabeça conforme sentia algumas pontadas de dor.
Tentei olhar ao redor e não reconheci aquele quarto.
Me sentei na cama e vi Meg ao meu lado.
Quando tentei me levantar eu quase pisei em alguém que estava no chão.
Era Ryan, deitado sob um colchonete.
Me levantei e fui até o corredor, encontrei Anne.
Acho que ela entendeu toda a minha confusão pela minha expressão.
— Olha só o que restou de Elize Gilleard... — Ela disse rindo.
— O que aconteceu ontem? —
Eu disse, colocando a mão na cabeça e fechando os olhos ao sentir uma forte pontada na cabeça.
— Você bebeu demais, passou mal e Ryan te trouxe aqui pra cima, você acabou dormindo. Você ia dar carona para Meg mas estava sem condições de dirigir, ou de fazer qualquer coisa né. Então sugeri que dormissem aqui. — Ela disse.
E então olhou pela porta do quarto onde havia acabado de sair.
— Ele não saiu de perto de você nem por 1 segundo. — Ela disse.

— Por favor, você tem um comprimido para dor de cabeça? e água! preciso de água.— Foi tudo o que consegui dizer enquanto a minha cabeça latejava.
Eu odeio ressaca. Eu odeio álcool. E jurei pra mim mesma: Nunca mais vou beber na minha vida.

Depois de tomar o remédio fui até o banheiro e lavei meu rosto.
Anne me ofereceu uma toalha para eu tomar banho mas eu preferi ir para casa.
Ela disse que não precisava me preocupar por que Ryan estava de carro e poderia dar carona para Meg quando acordassem.

Eu sai da casa de Anne me sentindo a pior pessoa do mundo.
O que aconteceu ontém? Eu não deveria ter bebido, nem perdido a linha daquela forma. Mas a ultima coisa que me lembro é de querer muito esquecer de Liam, e em seguida, de nem saber o nome dele.
Então de certa forma, valeu a pena.

Eu não costumava ir em festas. Inclusive, em todos esses anos Anne sempre me chamou para as festas de aniversário dela, sociais e até boates e essa foi a primeira vez que eu fui.
E provavelmente a última.
Não tem como negar que foi divertido, mas eu acho que não nasci para isso.

Quando cheguei em casa tive o azar de encontrar meu pai, que estava saindo.
— Elize? O que aconteceu? — Ele perguntou, me analisando.
— Você bebeu? — completou ele.
Eu sorri e ele pareceu um pouco assustado.
Mas o deixei sem resposta por pura preguiça de explicar qualquer coisa e subi as escadas.
Eu não precisava explicar o tipo de coisa que estou fazendo para conseguir tirar Liam da minha cabeça.

Subi para o meu quarto e tomei um bom banho quente.
Me ocupei em beber bastante água para melhorar da ressaca.
Depois do almoço já estava me sentindo melhor.

Por volta das 17h Michelle veio a minha porta.
— Srta. Elize, tem alguém procurando  por você. — Ela disse.
Eu automaticamente revirei os olhos. Não é possível que ele voltou. Ele não se cansa?
— Se for o Liam, diz para ele que eu já estou de saco cheio disso... e tranque a porta! — Eu disse.
— Não, não é o Liam. Ele disse que o nome dele é Ryan. — Ela disse, parecendo verificar mentalmente se havia se lembrado do nome certo.
— Ah. Diz que já estou descendo. —
O que Ryan estava fazendo aqui?
Troquei meu pijama por uma roupa mais apresentável e desci.
O encontrei sentado no sofá da sala de estar e isso me fez lembrar de algo.

— Oi. Vim ver se você estava bem. Depois do porre ontém... — Ele disse, com uma sombra de riso nos seus lábios.
Acredito que deva ter sido engraçado me ver bêbada, mesmo que depois eu tenha acabado muito mal.

Eu me lembrei de alguns relances de como ele foi cuidadoso comigo e senti vontade de agradecer por isso.
— Ah, estou bem. Obrigada! E obrigada também por ter bancado a babá ontém. Eu não sei o que me deu de beber. — Eu disse, tentando não lembrar muito de nada ou eu me sentiria muito envergonhada.
— Tudo bem, nem precisa agradecer, é o que amigos fazem né. — Ele disse.
Eu sorri diante daquela palavra... amigos. Algum tempo atrás tinhamos passado de amigos para quase desconhecidos.
Idependente do que aconteceu entre a gente, ele foi meu amigo por muito tempo e eu sentia falta dele.
Me sentei no sofá.
— Ryan me diz uma coisa... Você não está se reaproximando por pena ou algo assim não né? — Eu disse.
Sim, foi uma pergunta idiota.
Mas agora sempre que as pessoas me tratam bem, me pergunto se estão fazendo isso por pena. Até mesmo Meg e Anne estão sendo mais amigáveis.
— Claro que não. Por que pensa isso? —
— Por que você está se reaproximando desde que eu e Liam terminamos. — Eu disse ironicamente, tentando transmitir que era óbvio.
Ele riu e olhou para cima.
— O que foi? — Perguntei.
— Nada. — Disse ele, olhando para mim novamente. Me deixando sem entender o motivo de isso ter graça.

— Então, está realmente bem? — Ele disse se levantando.
— Sim. — Respondi com um leve sorriso para dar mais credibilidade a minha resposta.
— Então vou indo. Só queria conferir isso. Te vejo na Ong? — falou já a caminho da porta.
Eu me levantei para acompanhá-lo.
Algo em mim não queria que ele fosse embora, não por causa da companhia dele, mas por que percebi que estar com alguém me faz esquecer um pouco de Liam.
Conversar, me distrair com outras pessoas, isso não me dava muito tempo para ficar relembrando a cena do homem que eu amo beijando outra mulher, não me da tempo de ficar revivendo aquilo e me sentindo constantemente mal.
Eu quase pedi para que ele ficasse, mas não queria transmitir para ninguém essa carência emocional. Queria que vissem que eu estava bem, lidando com tudo isso de forma leve e saudável.
Mesmo que eu estivesse me sentindo morta por dentro.
Eu nunca tinha me apaixonado dessa forma, nunca tinha sido tão intensa e me entregado tanto para alguém.
O primeiro cara que realmente me apaixonei foi Ryan, mas não chega perto do que vivi com Liam.
Eu sinto falta dele o tempo todo. E o pior é que eu tenho que me segurar muito para não ser trouxa, para não perdoar o imperdoável.
Por que parece tão fácil ignorar qualquer coisa e qualquer erro só para estar com ele de novo.
Assim eu percebo que meu amor por Liam não é só intenso, é perigoso.
Me dominou de formas que eu tenho que lutar contra mim mesma.
Eu pensei que ele havia passado de meu pior inimigo para meu grande amor, mas o tempo todo, acho que ele ainda era um inimigo para mim. O pior de todos, aquele que entra pela porta da frente e te faz acreditar que é seguro, mas que na verdade planejava te destruir o tempo todo.

As Cinzas do AmorWhere stories live. Discover now