Venenosa

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Liam estava no banho então eu fui atender a porta do apartamento.
Ao abrir vi Luiza, agora sem sua máscara de garota simpática, dava para ver que sua expressão mais comum ja denunciava que ela não era flor que se cheire.
- Olá Liz. - Ela disse.
- Queria saber de onde tirou essa intimidade para me chamar assim? - Eu disse, no meu melhor tom de ironia, qual eu sabia que usaria durante todo o tom desse diálogo.
- Você disse que eu podia te chamar assim naquele dia na cafeteria. - Ela disse, levando as mãos no peito e forçando uma expressão de chateação.
- Sim, quando eu pensei que você fosse uma pessoa legal. Ou no mínimo normal. -
Revirei os olhos.
- Mas eu sou legal! -
- Não sei qual seu conceito de "Pessoa Legal" Mas o meu não inclui subornar o próprio irmão. -
Ela olhou para as unhas, parecendo não se importar.
Me perguntava por que ela não queria fazer parte dos Suller, conseguiria muito mais dinheiro do que subornando Liam pelo silêncio. Isso me fazia pensar, que talvez, em algum canto obscuro dentro dela, ela se importasse um pouco.
Por mais que ela seja uma vadia, eu não a culpo tanto. Ela é fruto de uma traição das feias, e isso deve ter um peso para ela.
Um peso dolorosos, e talvez ela use esse disfarce de garota rebelde que não se importa com ninguém para amenizar esse peso.
- Falando nele, onde ele está? Ele ja sabe que vai ser papai? Quero dar os parabéns. - Ela disse, com um sorriso sarcastico.
Eu me lembrei de ela ter me visto vomitando na festa e ter insinuado que eu estaria grávida.
Eu olhei para trás para verificar se Liam não estava ali, e desejei tampar a boca dela nesse momento.
- Cala a boca! - eu disse.
Ela abriu a boca e pareceu contente, mas não do tipo "estou feliz por você". Mas do tipo "ganhei algo para usar contra você."
- Ai meu Deus! Não acredito! Você realmente está grávida? -
Ela riu.
- Não! - eu respondi.
Firme. Mesmo que não tivesse tanta certeza.
Era o que eu queria acreditar.
- Então por que parece nervosa em falar sobre isso? - Ela disse, o que me fez realmente me questionar, mas então eu parei e pensei: POR QUE DIABOS AINDA ESTOU FALANDO COM ELA?
- Luiza! Fala logo, o que veio fazer aqui? - Eu perguntei, com um suspiro de cansaço.
Estava cansada desta conversa.
Ela pareceu resistir a mudar de assunto, vi em seus olhos que ela queria muito continuar usando isso para me irritar, mas cruzou o braços e mordeu a boca brilhante com gloss.
- Eu vi que Liam já depositou a quantia que pedi. -
Na verdade, Marcos Suller é quem havia feito.
E foi bom saber que ele cumpriu o que eu disse. Mas Luiza não precisava saber disso.
- Então agora você finalmente vai embora? -
Abri um enorme sorriso para demonstrar a alegria de voltar a viver uma vida onde ela não faz parte.
Mas ela também sorriu, e esse sorriso perverso me fez ver que não viria algo bom dali.
- Na verdade... acho que a família Suller parece meio vazia... E eu me escondi por tanto tempo... Então estava pensando... - Ela disse, e suas pausas dramaticas e sugestivas fizeram meu sorriso desaparecer.

Ouvi a porta do quarto abrir.
- Liz? Quem está ai? - Ouvi Liam dizer.
Olhei para trás e abri um pouco mais a porta, andando para o lado para que ele pudesse vê-la.
Ele parou e olhou para ela, e seu rosto passou de uma expressão relaxada para uma de incômodo.
Luiza, por sua vez, deu um sorriso fechado e acenou com a mão.
- Ah, é você. - Ele disse, bufando.

- Como eu estava dizendo... acho que chegou o momento de eu revelar a verdade! -

- O que? - Disse Liam, parecendo incrédulo.
- Luiza, você já conseguiu o que pediu. Por quê quer fazer isso? -

Ela de repente ficou séria.
- Porque eu cansei de ficar sobre as sombras. Eu odeio os Suller, odeio o meu "pai". Eu nunca escondi isso e é o motivo pelo qual eu escolhi ir para longe ao invés de lutar para fazer parte dessa família ridícula. Mas eu percebi que o silêncio não incomoda, então eu pensei "Que se dane! eu quero fazer o circo pegar fogo". -

Nós ficamos ali, parados, olhando para ela. Sabiamos que nada do que disséssemos a faria mudar de idéia. Mas de alguma forma, eu tentava encontrar algo que pudesse ser convincente o bastante para ela desistir de fazer isso.
Ela dizer a verdade para o mundo, acabaria com a única coisa que eu tinha contra o Sr. Suller. O que ele faria depois disso?
Liam deu mais alguns passo a frente, parando ao meu lado.
Ambos olhávamos para ela, que estava com sua tradicinal expressão peçonhenta.
Ouvi Liam respirar fundo, sinal de que iria usar seu tom mais convincente.
- Luiza... Por favor. Não faça isso! - Ele disse calmamente.
Mas ela nem mesmo pareceu considerar o contrário.
- Eu não vim aqui pedir sua permissão, eu só vim avisa-los, para não se assustarem quando o escândalo acontecer, afinal, Elize não pode tomar grandes sustos não é mesmo? Bye bye. -
Então saiu pelo corredor, claro, depois de plantar uma semente venenosa ali. Eu pressionei a boca e bati a porta, ainda podia ouvir o som do seu salto sob o piso em direção ao elevador.

Me sentei no sofá para controlar a onda de raiva e preocupação que enevoava minha cabeça naquele momento.

As Cinzas do AmorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora