CAPÍTULO OITO

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— Ande logo Blue, guarde seus brinquedos. — pulei a bagunça com os sapatos altos enquanto colocava a argola na orelha.

— Aaah... — reclamou da sala.

— Como você consegue se equilibrar nesse bagulho? — Vinícios perguntou do banco que dívida a minha cozinha da sala.

— Não é bagulho, é salto agulha. Isso chama-se prática e equilíbrio. Você não tem equilíbrio nem sóbrio. — ele riu.

Sua cara não escondia a ressaca. Vini de ressaca, isso estava ficando comum. Motivo? Tem! Mas ele não quer me contar e isso tá dando briga aqui em casa. Eu ainda vou arrancar isso dele.

— Conseguiu terminar? — perguntou de boca cheia e Blue fez careta pra ele.

— Ainda não! As ideias desapareceram, eu não sei como vou conseguir finalizar aquilo. — passei o batom vermelho mate olhando meu reflexo no gigante espelho da sala. 

— Jura? Será que você está se sentindo sob pressão sei lá?

— Pressão? Eu acho que não.

— Tay, convenhamos. Você tá trabalhando pra cacete, nem eu estou conseguindo acompanhar teu ritmo. Talvez você precise de uma folguinha.

— Sem folgas Vinícios. — cortei antes que voltasse com esse assunto. — precisamos focar nesse novo período por que o salão de Santo Antônio de Jesus tá começando a dar resultado, isso significa que precisamos nos dedicar ainda mais.

— Tá, mas você tá praticamente virando a noite. Você tá estudando pra caralho na faculdade, trabalhando no salão e ainda tem que cuidar desse anão.

— Tio Vini, o Blu eu não é anão. — Blue respondeu por si e eu ri.

— Prove! — Vini estreitou os olhos pra meu filho que ainda estava no chão colocando os brinquedos no baú e Blue fez o mesmo pra ele.

— Ok! Vinícios pode por favor parar de chamar meu filho de anão?

— Ele é esperto demais pra uma criança de três anos. Não tem como ele ser uma criança.

— Mãe! — Blue reclamou de seu lugar.

— Chega! Vamos crianças, antes que eu desista deixando vocês em casa.

Em alguns dias fará quatro anos do dia que Dudu faleceu. A dor diminuiu, quase inexistente, as vezes ainda choro, óbvio! Tem sido mais frequente nos últimos dias, mas me controlo pra evitar que meu pequeno me veja pequena.

Quando o Blue fez oito meses eu decidi que não podia deixar a vida passar, que eu precisava voltar a mim. Voltar a ser o que eu sempre quis ser. Então voltei a trabalhar, todo mundo ao meu redor me ajudou. Tia Nanã ficava com o Blue alguns dias por semana ela e uma ajudante que ela contratou. A menina era ótima, mas precisou ser demitida depois que se apaixonou por Vinícios e fazia de um tudo pra ficar perto dele, inclusive esquecer de trocar as fraldas do meu bebê. Isso nos rendeu boas histórias.

Quando o Bluezinho fez um ano decidi por as ideias de Dudu em prática, toda aquela bobagem que ele falava sobre escrever tudo que eu passei e levar pra galera a importância de acreditar em sonhos e essas coisas. Em um dia aleatório, pedi a Vinícios pra comprar um caderno pra mim e comecei a escrever a mão a minha história. Tem dois anos, e eu ainda não consegui concluir o livro. Falta o final, e simplesmente não sai, nenhuma ideia boa.

Nessa mesma época eu voltei pra faculdade, falta muito pra acabar então quanto mais tempo eu demorasse seria pior. Minha vida virou uma correria total, eu vivia de um lado pra outro. Levava o Blue pras aulas a noite e durante o dia enquanto eu trabalhava ele ficava na creche.

FeniceWhere stories live. Discover now