— Huuuum... Que estranho. Por alguma razão, parece que ele não quis ativar o seu gene ainda. Será que conseguiu me pressentir, ou agiu assim apenas por capricho próprio?
Íris escutava aquela voz feminina ecoando na escuridão. A cabeça, apoiada na cama de hospital, se mexia para os lados, tentando desviar do clarão de luz fluorescente no teto.
Com um salto, ela abriu os olhos e acordou. Estava vestida num avental verde quadriculado e havia um médico e uma enfermeira idosa examinando um paciente na cama do lado.
— Doutor, a garota acordou! — anunciou a enfermeira, se aproximando. — Calma, querida, calma. Vai ficar tudo bem agora.
— O que houve com a minha casa? Onde está a minha mãe?
O rosto da enfermeira se desmanchou. Um tanto calado, o médico se aproximou dela, segurando uma prancheta.
— Sua mãe está viva, Íris. Mas, infelizmente, ela se encontra num estado grave de embolia pulmonar e, em decorrência disso, teve um AVC durante o incêndio na sua residência. Não corre risco de vida, mas sinto dizer que ela está em coma.
— N-Não! Não pode ser! Ela estava ótima ainda hoje, só estava com a mesma tosse de sempre. Não, não, isso não... A nossa casa... Eu não posso acreditar nisso tudo...
Ela não queria ter de se lamentar, mas deitou-se, abraçou o travesseiro e voltou a chorar. A enfermeira, comovida, alisava-lhe o cabelo.
— Sinto muito, querida, fizemos tudo o que podíamos. Mas não fique triste, veja: seus amigos deixaram algumas flores e uma carta para você.
Ela se virou de lado e viu a bandeja de metal com as rosas. Eram, sem dúvida, suas flores favoritas, pois sua boneca favorita era chamada de Rose. Mas nem mesmo isso a animou. No cartão, estava escrito:
Melhoras à nossa grande amiga Íris. Assinado, Natto e sua irmãzinha.
Mas a palavra irmãzinha estava riscada. No lado, Ártemis havia escrito seu nome. Típico.
Embora se sentisse confortada pelos amigos e pensasse ser estranho ter uma relação tão forte com pessoas que mal conhecia, aquilo foi o suficiente para fazê-la estancar os prantos.
— Eles ficaram aqui por bastante tempo — disse a enfermeira, indo examinar outro paciente. — Você tem amigos maravilhosos. Me chame se precisar de algo, querida, e fique à vontade para caminhar. Tudo não passou de um susto e você já está ótima. Logo, provavelmente a polícia virá perguntar algumas coisas. Acho que nem eles sabem como você conseguiu sair.
Aquilo pouca interessava Íris. Se havia um sentimento agora, preso em seu peito, maior do que a impotência ou a tristeza, era a raiva. A injustiça crescia conforme as vozes dos colegas, ou mesmo a da própria mãe, voltavam violentas como uma avalanche.
Que patética. Menina feia e horrorosa.
Não presta pra nada e não tem ninguém, nem nunca vai ter.
Viti-chan, Viti-chan, Viti-chan, abre essa porta pra gente te examinar.
O que ela está fazendo aqui? Será que não sabe que aqui não é lugar pra gente como ela?
Doutora Vitiligo, comedora de bosta, sempre foi e sempre vai ser.
Nojenta, fica longe de mim com essas manchas...
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Knight's Selection
AdventureKNIGHT'S SELECTION História por Haru Kiyatake Ilustrações por Rafael de Souza Revisão por Kyn Distribuição: My Light Novel - www.mylightnovel.com.br SINOPSE: O jovem Cavaleiro, Natto, super-herói da cidade de Portoleste, tem um utópico objetivo em...