14/01/2019

17 1 0
                                    

Minha cabeça doía assim como meu ferimento, olhei em volta e vi que estava em um quarto pequeno e escuro, minhas mãos estavam amarradas com cordas.

Me levantei com dificuldade vendo que o curativo havia sido refeito, respirei fundo indo até a porta, tentei abrir só que estava trancada, olhei em volta e vi um ferro jogado no chão, o peguei e bati na porta começando a gritar.

Esperei quando ouvi vozes, fiquei ao lado e quando a porta se abriu eu peguei a pessoa colocando o ferro em seu pescoço, armas foram apontadas em minha direção.

-Onde estou, quem são vocês e cadê o meu noivo? -Perguntei e elas continuaram mirando. -Não me façam enfiar isso nela.

-Tudo bem, abaixem as armas. -Uma mulher disse mais ao fundo. -Vamos apenas conversar, nos deve isso, te resgatamos e trocamos o seu curativo.

-Tudo bem, entre. -Puxei a garota dando passagem e ela entrou, fechei a porta com o pé antes que mais alguém entrasse. -Senta! -Mandei e ela se sentou, deixei a garota livre e me sentei estendendo as mãos para cortarem a corda.

-Te achamos na beira do rio, estava sangrando muito e vimos que foi por causa do seu ferimento, queremos te conhecer. -Cortou e senti meus pulsos arderem.

-Vou pensar, primeiro quero saber quem são.

-Somos uma comunidade de cinquenta pessoas, temos muitas armas e munições, comida e água para dar e vender, nos reerguemos durante todo esse tempo. Sou a líder do grupo.

-Aceita mais pessoas? -Perguntei e ela sorriu.

-Sim, apenas se eu ver que são de confiança, acho que é sua vez.

-Não tenho muito o que dizer, perdi a memória por causa de uma coisa que não descobri até agora. Aos poucos estou lembrando, matei pessoas más que ameaçaram a mim e ao meu grupo.

-Não se lembra como perdeu a memória?

-Não, mas irei descobrir. Acordei na ala médica da Casa Branca, sem saber o que fazer e o porquê estava lá, me cortei quando estava fugindo dos mortos em um shopping, cortei na janela e depois voei para cá, encontrei com o meu grupo novamente em uma prisão.

-Ela está destruída. -Informou e eu dei um sorriso.

-Eu estava lá quando isso aconteceu, desde então estamos vivendo em acampamentos improvisados, sou a líder mesmo não me lembrando.

-Por isso perguntou se aceitamos, quer que eles fiquem aqui. Porque acha que iríamos aceitar?

-Temos mulheres grávidas, idosos, crianças. Minha irmã tem oito anos e já viu muita coisa acontecer, tem algumas menores que ela. Estamos voltando para o Brasil, quero acabar logo com isso, descobrir quem foi que deixou esse vírus se espalhar.

-Acha que foi proposital? -Eu suspirei.

-Eu tenho certeza, tem zumbis novos, vocês não viram por estarem bem escondidas.

-Ok, te levaremos até o seu acampamento, eu mesma irei ver se está falando a verdade. Mas antes quero que coma, antes que desmaie.

Seguimos de carro até chegarmos próximo, pedi para deixar o carro mais longe para eles não atirarem. Segui na frente entrando no acampamento, acariciei o cabelo de Judy e beijei a testa de Gaby, vi mais ao fundo Rafa de costas.

-Ela caiu no rio, a correnteza deve ter levado até um pouco mais a frente, vamos olhar desde a ponte. -Todos me olharam.

-Espero que não tenha batido o meu carro. -Disse alto e ele se virou, me abraçou assim que me aproximei me tirando do chão. -Cuidado. -Gemi sentindo o corte.

-Desculpa, fiquei tão preocupado. -Segurou me rosto e me beijou. -O que aconteceu?

-Só sei que caí da ponte e parece que me afoguei, acordei em um quarto na comunidade delas. -Disse e então todos apontaram as armas, assim como elas. -Abaixem as armas, acabei de dizer que elas quem salvaram a minha vida.

-Agradeço, estamos em dívida com vocês. -Rafa disse me abraçando por trás.

-Disponha. -Disse e eu olhei em volta. -São poucas pessoas.

-Outras não sobreviveram, éramos muitos.

-Mais de cem, com o acidente na prisão a maioria não conseguiu. -Rafa acrescentou. -O que fazem aqui?

-Vão ajudar, vi a comunidade delas, é longe, escondida e ninguém jamais entrou lá.

-O que tem em mente? -Matheus se aproximou. -Quer que nos escondemos?

-Você não vai se esconder. -Disse o olhando, seu maxilar estava travado. -Não brinca, ainda é apaixonado por mim? -Dei um sorriso e ele revirou os olhos. -Ok, quero que todos fiquem seguros com elas, enquanto nós seguimos para o Brasil, não podemos permitir que eles sofram, não sabemos se tem criaturas novas e as crianças com os idosos não sabem atirar.

-Na verdade, eu sei atirar. -Gaby me olhou e eu ergui a sobrancelha. -O Matheus me ensinou. -Eu o olhei e ele suspirou.

-Você o quê? -Me soltei de Rafa, fui até ele e lhe dei um soco gemendo e pressionando meu ferimento, minha mão latejou. -Que merda!

-Desse jeito nunca vai se curar. -Rafa me repreendeu.

-Eu quem decido se ela deve ou não se proteger, não tem nem dez anos e você a ensina a atirar?

-Essa eu mereci, mas conhece sua irmã, consegue ser bem convincente.

-Porque pediu para ele? Justo para ele? -Ela me olhou e deu de ombros.

-Porque iria negar. -Disse o óbvio.

-É claro que eu iria negar! -Gritei a fazendo se afastar. -Que porra, Gabriela! -Peguei a arma de sua mão. -Está de castigo, Angel não tira os olhos dela. Já para a barraca.

-Não é a mamãe. -Disse gritando e chorando, eu suspirei.

-Não, mas sou sua única família, então é melhor obedecer! -Disse firme e ela correu para barraca, senti meu ferimento arder. -E então? Vão aceitar eles?

-Vamos, quando pretende se mudar?

-Quando cuidar desse ferimento, Sarah saiu atrás de remédios junto com Fernando, então terei que cuidar sozinho. Fiquem a vontade, eu vou buscar a caixa de primeiros socorros e você vai conversar com a sua irmã.

-Não vou conversar com ela, sabe que errou. -Disse e ele me encarou.

-Vai conversar com ela. -Beijou minha cabeça e saiu rumo ao carro da Sarah, olhei para todos que voltaram a fazer o que estavam fazendo e eu respirei fundo seguindo para a barraca, detestava brigar com ela.

E Matheus mereceu, não se deve fazer uma criança atirar, mesmo em um apocalipse.

The DiaryOnde as histórias ganham vida. Descobre agora