CAPÍTULO CINCO

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Hoje já fazia uma semana em que eu havia chego à cidade maravilhosa, e para confessar eu ainda não havia visto as maravilhas que ela poderia proporcionar. Eu estava com muita vontade, claro, mas havia muitas coisas a se resolver, e sair para passear ainda não tinha como acontecer.

Dois dias após minha chegada fui até o banco, e lá fiz o meu primeiro pedido de empréstimo. Não gostaria de pedir empresto, porém era a única forma de comprar tudo que eu precisava para abrir meu primeiro negócio. Precisei esperar alguns dias para o dinheiro finalmente cair na conta, e eu aproveitei esses dias para poder fazer uma lista completa de mateiras e utensílios para casa que eu precisava.

Por falar em casa, eu estava sobrevivendo muito bem mesmo sem praticamente nada. Tudo que eu precisava comer era feito no micro-ondas praticamente, e tenho que dizer que não existia desejo maior do que comer a comidinha caseira que mainha preparava todos os dias. Estava gastando mais dinheiro do que deveria com a comida, mas a falta de geladeira e fogão, não permitiam o armazenamento da comida.

Consegui por fim me comunicar com minha mãe e irmão, apenas por mensagem, mas sorri ao ler o remetente, ter noticias fez meu coração se aquecer mesmo que pouco. Não era como uma paz, afinal eu ainda chorava todas as noites, mas só de saber que eles haviam recebido minha mensagem e que assim como eu estavam bem, já era o suficiente para enfrentar o que tivesse que enfrentar.

"Estamos bem! Mamãe tem saudades de ti, mas sobreviverá. Espero que não apronte por aí, quando conseguir ligue!" - era o que dizia a mensagem que recebi de Tales quase dez da manhã do dia seguinte da minha chegada.

No fim consegui comprar "tudo" que eu precisava no momento. Coisas não só para o salão como para minha humilde casa nos fundo do lugar. Óbvio que não podia comprar tudo que eu queria, fiz questão de pegar coisas que realmente necessitava. E a lista incluía, o meu fogão, geladeira e o colchão que eu tanto precisava já que aquele inflável estava me dando dores até não aguentar mais. Comprei também algumas cobertas e comida principalmente.

Podia dizer que o salão estava praticamente completo. Precisei pintar as paredes, e para isso pedi ajuda de alguém que realmente entendesse do assunto. Pendurei os quadros nas paredes pretas do local, e lutei para arrastar as cadeiras as posicionando onde eu gostaria que elas ficassem de fato. Aquilo era incrivelmente pesado, e meus braços finos não me permitiam fazer aquilo com facilidade.

Era complicado lidar com isso, mas acho que não saberia passar por isso com mais ninguém. No mais começaria a gritar com quem quer que fosse a estar ao meu lado, e tentar mostrar a maneira certa que as coisas deveriam ficar.

E então, quase três semanas depois ali estava eu, acordando às cinco da manhã. Tomei um banho molhando o cabelo me despertando de qualquer resquício de sono que estivesse por ali. Quando sai me enrolei a toalha e penteei meus cabelos, e coloquei as roupas rapidamente vendo o relógio pendurado na parede.

Vesti minhas calças jeans escuras e coloquei uma camisa branca social, de mangas cumpridas, apesar de subir a camisa na altura de meus cotovelos. Calcei minhas sapatilhas pretas simples, e passei um batom nos lábios. Meu coração parecia querer sair pela boca a qualquer minuto, e meus olhos estavam levemente molhados, e então eu sorri... Sorri, acho que foi o nervosismo, ou talvez o fato de não saber o que fazer quando o primeiro cliente entrasse.

— Ok, mais um dia! — respirei tirando do rosto o cacho que insistiu em cair.

Sai da minha humilde casa trancando a porta, dando direto ao meu mais novo salão. Testei todas as máquinas e me certifiquei que as tesouras estavam em seus devidos lugares, ignorei todo o sentimento de nervosismo que estava em minha garganta e tentei passar o máximo de alto confiança possível.

Fui até a entrada do lugar erguendo as grandes portas dando a todos total visão do lugar. Abri em seguida à porta de vidro deixando-a destrancada.

Eu estava nervosa e mexia em minhas mãos a todo instante, sentindo que aquilo ali poderia dar muito errado, mas sabendo também que era a minha chance. Demorou um pouco e ali sentada no banco de espera eu observava cada pessoa que passava pela rua. Elas olhavam para o salão e suas expressões iam de surpresa a curiosidade.

Demorou. Parecia uma eternidade e eu me sentia envergonhada, parecia que jamais alguém entraria naquele lugar um dia. Até que...

— Bom dia! — ergui minha cabeça olhando o senhor de terno entrar no salão sentando em uma das cadeiras.

— Bom dia! Como vai? — perguntei me colocando de pé ao seu lado.

— Muito bem obrigado, adorei a decoração do lugar, apesar de ser bem jovem achei. convidativo. — ele disse e eu sorri.

— Que bom que gostou, não tem essa de jovem! — ele sorriu. — o que gostaria hoje?

— Bem mocinha, eu preciso diminuir esse volume. Não sei o nome do corte, mas se puder deixar um pouco mais alto em cima e na lateral mais baixo. — ele disse me explicando.

Seus cabelos eram lisos e grisalhos, mas cheios como o mesmo havia dito. Não estava tão grande, mas pelo que ele tentava explicar ele gostava do cabelo bem pequeno, assim como sua esposa. Enquanto eu ia cortando seu cabelo, ele puxava assunto sobre tudo o que me fez sentir incrivelmente confortável, já que não existia aquele silêncio constrangedor. Descobri que seu nome é Antony, e que ele não tem filhos mas trata seus dois sobrinhos como filhos e um deles era seu afilhado.

— Me chamo Tawany.

— És de onde? — perguntou enquanto eu dava acabamento em seu corte.

— Sou da Bahia, cheguei tem pouco tempo.

— Tá gostando do Rio?

— Sim, apesar de não conhecer praticamente nada, eu gosto daqui. — ele assentiu.

— Meu sobrinho conhece o Rio como a palma da mão, é viajado. — assenti, limpando os cabelos que ficaram pelo seu pescoço. — Bom! Seja bem vinda à cidade! Adorei o seu salão e você faz um ótimo trabalho. — disse enquanto olhava no espelho e me deu um sorriso. — com certeza vou indicar este lugar.

— Seria de grande ajuda, espero que volte sempre! — disse recebendo o dinheiro pelo corte.

— Boa sorte! Até a próxima. — ele saiu pela porta e eu quase pulei de alegria.

Eu havia conseguido enfrentar isso mesmo? Parecia que eu ia desmaiar antes dele entrar, mas agora eu me sentia tão em casa que mal podia esperar até que alguém entrasse de novo.

O que não demorou muito.

Enquanto eu varria o salão, entrou mais dois rapazes. Enquanto um se sentou o outro se posicionou já na cadeira e me disse como gostaria o corte. Um deveria ter seus onze anos enquanto o outro uns quatorze eu diria. Cortei o cabelo de ambos enquanto os mesmos discutiam o que ia fazer com o troco, já que a mãe havia dito para dividir ou comprar algo para os dois.

O meu dia foi tranquilo, claro que não houve muitos clientes afinal era novo. E nem todo mundo andava por aí procurando uma barbearia né? Mas eu gostei, gostei muito daquela sensação de fazer dinheiro por conta própria. Não havia chego nem em cem reais, mas eu sorri, eu ri atoa.

Colei um papel dentro do salão com meu número de celular, estava ali para quem quisesse marcar horário, ou preços também. As sete abaixei a porta de entrada, troquei de roupas e fui até o mercado, comprando algo para janta. Me permiti uma pizza, comemorei sozinha a minha inauguração.








Ooi?

Caso tenha algum erro vcs me sinalizam por favor!
❤️

Imprevisível (VERSÃO-CORRIGIDA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora