Cemitério de rosas CAPITULO XIII

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Enquanto descia novamente, Egbert dominado por um medo crescente, falava cada vez mais rápido — Eu matei dois membros daquele grupo. Após o incidente, não deve ter sido muito difícil induzi-los a crerem que eu sou um mal que deve ser exterminado — O grande aríete foi de encontro com a entrada, o estrondoso impacto ecoou de maneira ensurdecedora. Emmet que estava sentado, observando um papel em branco amassado, buscando inspiração para começar a escrever algo, respondeu-lhe sem ao menos virar a cabeça — Não tente ver lógica em suas percepções distorcidas, é como eu já havia lhe dito, quando nos matarem não será por vingança e sim por esporte — Mais uma vez o grande aríete veio de encontro aos limiares, desta vez, ainda mais forte. E como se nada estivesse acontecendo, Emmet se mantinha com suas filosofias serenas — Na mente de alguém jovem e sonhador, lutar até a morte com dezenas de homens armados parece épico e romântico, mas sejamos honestos, isso é impossível — A cada batida o desespero de Egbert crescia mais e mais — Eu sei que é impossível lutar com eles! Eu sei que é impossível sair desta cripta e também sei que é impossível terminar esta noite com vida! Apenas me diga algo que eu não sei, maldito coveiro! — Sua visão rodeou as paredes insistentemente, mesmo que assim o fizera dezenas de vezes. Mas de alguma forma, seus olhos se estreitaram em direção a um canto escuro e pouco iluminado. Algo que representava um pequeno resquício de esperança estava diante de seus olhos, algo que o fez crer, mesmo por um instante, em uma fuga de sua morte horrenda e sofrida. Sua esperança surgiu na forma de uma pequena abertura cavernosa, algo construído em eras ancestrais. Era difícil entender o motivo da existência daquilo, talvez fosse uma latrina ou um compartimento secreto. Egbert não o havia visto anteriormente, pois jazia muito bem encoberto por pedras amontoadas desprovidas de argamassa. Enquanto as afastava de forma ofegante e abrupta, o coveiro lhe olhava como se tentasse entender seu comportamento.

As velas, consumidas quase por completo por suas chamas, duraram poucos instantes, pois ali, jaziam acesas a um longo tempo, por fim, uma a uma, elas se sucumbiram e suas chamas morreram, mergulhando tudo em uma grande escuridão. Embrenhando-se em seu interior escuro, claustrofóbico e estreito, Egbert manteve-se ali, como um pequeno rato amedrontado pelo desconhecido. No exterior, o grande aríete de madeira estrondou pela terceira e última vez. Os limares escarlates, que antes eram grandiosos e belos, agora, haviam sido destruídos, e todos àqueles que tanto temia, amontoavam-se freneticamente enquanto adentraram a cripta. Sozinho e imóvel, pôde ouvi-los, subindo e descendo as escadarias, tinindo suas lâminas e questionando-se sobre seu destino.

Quando o sol surgira, esvaindo as trevas do cemitério, os fanáticos já haviam partido. Egbert saíra de seu estreito esconderijo, tudo aparentava ter encontrado a calmaria. Ele caminhou até o andar superior. Da grande abertura da frente que soprava uma brisa gélida, era possível ver a imensidão de lápides e mausoléus novamente. A recente luz do sol, lhe avisava do surgimento de um novo dia, parecendo lhe trazer uma sensação de serenidade. Seus ouvidos ainda zuniam e seus olhos estreitavam-se desacostumados com a claridade da manhã. Ele demorou alguns instantes para sentir a falta de Emmet. O mesmo não estava presente nos mezaninos, nem mesmo na parte superior ou inferior da cripta, ele jazia deitado sobre o altar, ao lado de sua esposa. Seu peito estava virado para cima e sua face, antes quase sempre tristonha, agora, mantinha seus olhos fechados e de alguma forma, demonstrava uma feição de serenidade e paz. Uma de suas mãos estava caída para o lado, ali era possível ver um corte lateral em seu pulso e o sangue já seco, escorrido sobre seu palmo. Entre seus dedos moles de sua outra mão, jazia uma pequena lâmina reluzente. Ele havia se matado, tentando evitar uma morte violenta, em uma batalha de um triunfo impossível.

Era este o fim para Emmet Van Drausen, àquele que aos seus olhos já fora um louco, um assassino e um mártir. Talvez, suas teorias estivessem certas e ali, jazia imerso eternamente em um profundo sono sem sonhos, ou talvez, sua consciência não existisse mais, fadado a apodrecer e ter seu nome esquecido, sem um legado. Egbert levou vagarosamente sua mão em direção ao corpo, emergindo seus dedos magros no bolso interno de seu casaco, apanhou um papel amassado, o mesmo que antes, Emmet parecia escrever vagarosamente. Tal papel era feito do mesmo material dos bilhetes que recebera anteriormente. Sem mesmo lê-lo, ele o guardou no bolso de seu colete, olhou para seu rosto, que assim como em vida, estava pálido — Agora você está em paz não é mesmo? — Disse ele após um leve sorriso brotar em seus lábios — Está junto daqueles que tanto ama. Adeus senhor Emmet, que seu eterno descanso seja sereno e distante das dores e das angustias do mundo — Ao fim de tais palavras, Egbert sentiu lágrimas brotarem em seus olhos. Sem ousar tocar nos corpos a sua frente, respirou fundo e as enxugou com a manga de sua camisa. Antes de virar suas costas, apanhou a pá que tanto acompanhara o coveiro, a deitou sobre seu ombro, e com passos curtos, retornou para casa.

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⏰ Última atualização: Apr 25, 2019 ⏰

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