Capítulo 29

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Minha mãe nos colocou sentados no sofá da sala e começou a andar de um lado para o outro com as mãos na cintura enquanto nos obrigava a falar. Eu sabia que mentir pra ela não ia nos ajudar em nada então fui soltando uma saraivada de palavras enquanto observava cuidadosamente as suas reações. O fato de ela estar usando um camisolão branco de vovó que ia até as canelas e seu cabelo estar meio preso com bobes me fez ficar divida entre o assustada e o divertida, e quando dei uma olhada para o lado eu pude ver que Jesse estava na mesma situação que eu.

Quando eu terminei de falar, instintivamente eu deslizei minha mão pelo sofá até encontrar a mão de Jesse, fazendo com que os nossos dedos se entrelaçassem. Minha mãe sacudiu a cabeça e respirou fundo após alguns segundos de silêncio.

-Eu vou na sua escola amanhã. -Falou por fim.

Ok, não. Péssima ideia. Eu seria motivo de chacota até o dia da formatura, isso se acreditassem em mim. "Ah vá! Quem assediaria a garota gorda?" Até conseguia ouvir as pessoas falando e cochichando entre si e estremeci com o pensamento. Não, aquilo não era necessário. E já tinha dezoito anos caramba! Não precisava que a minha mãe ficasse indo na minha escola resolver os meus problemas.

-Mãe, você não precisa...

-Claro que preciso! -Ela me interrompeu levantando a voz. Parecia estar à beira de um chilique. -Eu não vou deixar um moleque qualquer assediar a minha filha e ficar por isso mesmo.

-Não ficou por isso mesmo. Eu dei um soco nele. E uma joelhada bem dada nos documentos. -Ergui a cabeça orgulhosa de mim mesma. -Eu sei me defender.

-Muito bem feito, mas você está louca se pensa que um ato de reflexo é saber se defender. -Minha mãe me encarou. -Eu ainda vou passar na sua escola amanhã pra resolver isso.

Senti meu corpo afundar no sofá e aquela leve picada de pânico na espinha. Eu não ia saber lidar com aquilo. Não ia saber lidar com os olhares e as piadinhas. Ninguém ia acreditar em mim. Eu passaria de aberração gorda para piada caluniadora. Senti minhas mãos ficando suadas e recebi um apertão suave de Jesse, o que me fez olha-lo apreensiva.

Ele pareceu confuso com aquela minha reação, mas é claro que ele não entenderia. Ele achava que eu já estava bem com tudo aquilo, mas não era completamente verdade. E o meu maior medo era de nunca parar de me importar com o que as pessoas pensavam de mim.

Minha mãe pegou nossa troca de olhares e lançou um olhar afiado em direção a Jesse, que engoliu em seco a espera do que estava por vir.

-E agora quanto ao senhor estar no quarto da minha filha a essa hora, eu devo supor que não é a primeira vez. -Ambos negamos com a cabeça e eu a vi empalidecer e levar uma mão ao peito. -Jesus, vocês não fizeram...

-Não! -Quase gritei sentindo minhas bochechas esquentarem.

Jesse apertou minha mão mais forte e eu me recusei a olha-lo. Toda a minha atenção estava focada na minha mãe, que soltou um audível suspiro de alívio.

-Graças a Deus. Seu pai ia cortar a minha cabeça se isso tivesse acontecido bem debaixo do meu nariz.

Fechei os olhos com força e me afundei no sofá. Aquilo poderia ficar mais constrangedor?

-Eu quero morrer...

-Eu não quero saber de você entrando escondido no quarto dela de novo, estamos entendidos? -Ela voltou a falar com Jesse usando o seu tom mais sério. -Aqui em casa tem porta e eu nunca proibi vocês de nada, não me obriguem a afazer isso agora.

Jesse assumiu uma expressão culpada e assentiu com a cabeça.

-Sim senhora. Desculpa, mas eu precisava mesmo conversar com ela.

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