Capítulo 3

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Eu estava guardando minhas coisas no armário e tive um pequeno sobressalto quando fechei a porta e dei de cara com Jesse debruçado ao meu lado. Eu nem mesmo tinha visto ele se aproximar.

-Jesus! -Deixei escapar.

-Não, sou só eu. -Foi a sua resposta espertinha.

Rolei os olhos e foquei no sorriso que parecia não querer deixar os seus lábios. Ele tinha lábios muito bonitos.

-Você parece muito alegrinho. As coisas devem ter ido bem com o lance da paquera.

Ele apoiou o braço nos armários e eu pude notar suas bochechas ganhando um tom avermelhado. Jesse Carson corado não era uma coisa que se via todo dia então eu absorvi aquela visão e a guardei no meu arquivo de memórias. Para nenhum uso em especial.

-Você tinha razão. -Ele falou finalmente. -Lyra ficou radiante com os elogios. Consegui um sorriso e o número de telefone dela.

-Eu falei. -Ficamos nos encarando em silêncio e eu tomei aquilo como a minha deixa para ir embora.

Ele tinha conseguido o que queria e tinha ido me contar. Ótimo. Agora eu voltaria para os corredores de estantes da biblioteca e repassaria os nossos pequenos momentos de interação na minha mente várias vezes. Eu não conversava com garotos como Jesse. Na verdade eu não conversava com garotos, nem com garotas, nem com ninguém. As pessoas não vinham falar comigo e eu também não ia falar com elas, salvo nos momentos de extrema urgência. Eu não sabia iniciar uma conversa e achava que era chata, feia ou entediante demais para qualquer pessoa se interessar em falar comigo.

Era diferente quando as pessoas vinham falar comigo. Eu agia tão normalmente que quem via não pensava que eu era tímida ao ponto de literalmente fugir de certas situações. Desde que eu não iniciasse a conversa eu conseguia falar sem gaguejar. Mas mais uma vez ninguém vinha falar comigo, então esses raros momentos de descontração quase não aconteciam.

Me virei para sair dali antes que as coisas ficassem esquisitas, mas Jesse me seguiu e começou a andar ao meu lado se inclinando para falar comigo. Eu não era muito baixa, mas ele tinha 1,85 então precisava fazer aquilo para conversar com a maioria das pessoas, especialmente garotas.

-Você está indo almoçar? Podemos ir juntos aí quem sabe você me dá mais das suas dicas geniais.

Eu realmente não queria ficar no refeitório sentindo cheiro de comida, mas como meu pai havia me obrigado a tomar o meu café da manhã meu estômago já estava parcialmente forrado. Não precisaria me preocupar em passar vergonha tendo ele fazendo barulhos que facilmente poderiam ser confundidos com o bocejo de um leão preguiçoso.

E por mais que eu não quisesse admitir, eu queria passar mais tempo ao lado de Jesse. Mesmo que ele só me quisesse para conseguir a tal Lyra. Ele era legal.

-Eu não vou almoçar, mas eu posso te acompanhar. -Falei por fim.

Ele encolheu os ombros como se a ideia bastasse e seguimos para o refeitório em silêncio. Eu podia sentir alguns olhares curiosos na nossa direção e me afastei um pouco dele para que não pensassem que estávamos juntos. Jesse podia não se importar em receber atenção mas eu me importava. No palco da vida eu ficava nos bastidores.

Fui procurar uma mesa para ele e esperei enquanto o observava pegar a fila do almoço. Quando Jesse veio na minha direção com a sua bandeja eu desviei o olhar e senti um leve repuxar no estômago. Mordi o lábio inferior e engoli em seco vendo-o se sentar na minha frente.

-Você tem certeza de que não vai comer?

-Pela terceira vez, eu tenho. -Falei esperando que tivesse soado convincente. -Agora me fala mais sobre a sua garota.

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