"Eu quero ser bonita!"
Esse era o maior desejo de Emily. Ela, com quase dezoito anos, não via nada de atrativo em si mesma. Por ser acima do peso e pelo bullying sofrido no passado, a garota desenvolveu um caso sério de complexo de inferioridade e b...
O resto do meu final de semana foi relativamente calmo. No domingo Jesse e eu combinamos de sair mas no final os dois acabaram furando. Eu estava com um pouco de dor de cabeça e estava para ligar pra ele avisando que não iria mais quando ele me ligou avisando que não poderia ir mais e que me ligaria mais tarde.
Ele não ligou.
Me senti idiota por ficar esperando por horas. Eu queria ligar mas pensei que talvez ele estivesse ocupado ou simplesmente não quisesse falar comigo então fui dormir.
Na segunda feira na escola eu tentei esconder minha falta de disposição com um pouco de maquiagem e usando os cabelos soltos para esconder o meu rosto o máximo possível. Estava pensando se conseguiria tirar um cochilo antes da primeira aula quando Jesse virou a esquina do corredor com mais dois garotos do time de futebol. Desviei o olhar para dentro do meu armário e fingi estar procurando alguma coisa.
Por mais preocupada que eu estivesse, não queria que ele se sentisse obrigado a falar comigo e acabasse metendo a mim e aos seus amigos em uma situação constrangedora. Poderíamos falar na sala de aula ou na biblioteca. Em qualquer lugar onde ele não precisasse sentir vergonha de mim.
Tentava ao máximo parecer menor quando senti uma mão tocar o meu ombro e pulei de susto.
-Oi estranha. -Escutei sua voz de Jesse atrás de mim.
Olhei por cima do meu ombro e lá estavam ele e seus amigos, ambos me olhando fixamente.
Engolindo em seco eu me virei de frente pra eles e cruzei os braços de forma protetora na frente do corpo.
-Oi. E aí? -Minha voz tremeu e eu arrisquei uma rápida olhada para os seus amigos antes de fixar o meu olhar em nenhum ponto específico no chão.
Jesse começou a falar mas eu mal ouvi suas palavras. Só conseguia ouvir as batidas frenéticas do meu coração.
-Emmy?
Pisquei algumas vezes quando ele estalou os dedos bem perto do meu rosto. Ergui o olhar e o encontrei me olhando como se esperasse que eu respondesse alguma coisa.
-Quê?
Jesse soltou o ar pela boca e sorriu sacudindo a cabeça.
-Vão indo na frente. Eu alcanço vocês. -Falou para os dois atrás dele.
Fiquei observando os dois se afastarem e soltei o ar que eu nem sabia que estava prendendo. Quando voltei a erguer o olhar lá estava Jesse me encarando com um olhar preocupado.
-Tudo bem?
Desviei o olhar. Não gostava que me olhassem nos olhos.
-Tudo. Por que?
-Você parece meio tensa.
-Não foi nada. E você? -Mudei de assunto. -Fiquei preocupada ontem quando não ligou.
A mudança de foco pareceu funcionar e um semblante culpado logo tomou conta do seu rosto.
-Ah. Desculpa eu acabei esquecendo. Estava com a Lyra.
-Ah é? -Perguntei mantendo o semblante casual.
Ele estava com ela. Estava com ela enquanto eu estava em casa preocupada sem motivo. Quis me socar por ser tão idiota. Ele tinha uma namorada -bom, mais ou menos- e era natural que saíssem juntos. Ainda assim eu senti meu peito afundar ao saber daquilo.
Jesse não percebeu. Provavelmente estava ocupado demais revivendo seu encontro do outro dia pra notar. Não podia culpa-lo, mas quis vontade de bater nele e nos seus olhinhos brilhantes.
-É. Estamos avançando. -Falou parecendo satisfeito. -Almoçamos e depois eu a levei no cinema.
Forcei um sorriso.
-Eu fico realmente feliz por você. -Embora não seja totalmente verdade.
Ficamos nos encarando pelo que pareceram horas. Jesse abriu a boca como se tivesse algo pra me dizer mas ao invés disso ele deu um passo pra trás e coçou a nuca meio sem jeito.
-Vamos mudar de assunto. Você costuma matar aula?
-O que você imagina? -Perguntei cética erguendo uma sobrancelha.
Ele riu e eu o acompanhei.
-Eu tenho treino agora e eu sei que você precisa ir pra aula mas...
-Você quer que eu mate aula só pra ir te assistir correr em um campo com mais uma porção de caras? -Completei e ele anuiu. -Tá bom. Vamos.
Agarrei seu braço e o puxei para fora. Ele ria o caminho todo e eu diminuí o passo para envolver meu braço no seu e olhar para o seu rosto.
-Qual é a graça?
-Eu não pensei que você fosse aceitar. -Quando o olhei de maneira interrogativa ele encolheu os ombros. -É que você tava quase tendo um colapso nervoso há menos de vinte minutos então...
-Eu fiquei nervosa com os seus amigos me olhando. -Admiti envergonhada.
-Por que? -Franziu a testa.
Encolhi os ombros.
-Não sei. Acho que é porque eu não conheço eles.
-Relaxa. Eles são uns otários mas na maioria das vezes são tranquilos. Você gostaria deles se desse uma brecha.
-Como assim?
-Ah você sabe. Você é toda fechada.
Ele endureceu o corpo e fez careta pra dar ênfase nas suas palavras. Soltei uma gargalhada abafada.
-Não é de propósito.
-Eu sei. Por isso que eu vou te ajudar a se soltar mais. Começando hoje.
-Você não cansa de tentar me ajudar? Isso não pode ser só pelos conselhos que eu te dei. Que por acaso você poderia ter encontrado na internet. -Puxei seu braço para pirraça-lo.
-Pode ser difícil pra essa sua cabecinha dura entender mas eu gosto de você Emily. -Ele sorriu dando um peteleco de leve na minha testa. -E se você der uma chance para as outras pessoas elas podem gostar de você também.
Apesar do tom de brincadeira ele tinha razão. Eu não dava espaço para as pessoas se aproximarem pra conversar, porque na minha cabeça eu não era interessante o suficiente para manter uma conversa decente. Mas eu conversei com Jesse, e ele tinha virado meu amigo. Quem sabe eu não conseguisse fazer mais amigos se desse às pessoas a chance que eu dei a ele.
-Eu vou tentar. -Falei sincera.
-Bom mesmo. -Ele sorriu. -Porque eu não vou sair do seu pé.
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Capítulo pequeno, sorry!
Espero que tenham gostado! Vocês já sabem a regrinha né? Quero saber o que estão achando!
