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Camila
(...)

Aurora conseguiu me tirar de casa

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Aurora conseguiu me tirar de casa. Ela me disse para ir andar na praia. O dia não estava muito ensolarado, ventos fortes e frios, o céu escuro.

Existem praias bonitas em Kingsport, nunca ninguém me apresentou. Sempre fiquei presa naquele castelo.

Havia uma trilha que descia pela colina íngreme até a praia rochosa. O caminho era estreito. Não enxerguei muitas pessoas quando cheguei na praia, um homem estava no mar, ele me parecia familiar, a água devia estar congelando.

Me sentei na areia e fiquei observando as ondas, tentando relaxar. Certamente o homem devia estar fazendo o mesmo, ele não se mexeu até então. Percebi a presença de um cavalo e alguns trovões. Alguma coisa está errada.

─ Ei! ─ gritei, na esperança do homem responder, seja com um aceno ou qualquer movimento para mostrar que ainda estava vivo, não recebi nenhuma resposta.

O vento estava cada vez mais forte e o ar salgado fazia o meu rosto arder, meus dedos do pé estavam congelando e nada do homem se mexer. Certamente não era seguro nadar com esse clima. Me levantei e examinei o horizonte, quando concluí que a situação não poderia piorar, uma gota de chuva caiu em meu rosto.

Olhei para baixo e vi que meus braços tremiam, não de frio. De desespero.

A chuva ficou mais forte, eu continuava gritando mas o vento recusava-se a levar meus chamados para o mar. Não fazer nada era pura agonia para mim. Se entrasse no mar iria morrer.

Eu estava assistindo o céu escurecer ameaçadoramente, ouvia os uivos do vento se tornarem mais ferozes.... E dizia para mim mesma respirar com calma enquanto meu coração batia desesperado de pânico. Então, quando tive certeza que explodiria de frustração, vi ele se mexer. Corri até a beira da água.

─ Está tudo bem? ─ gritei.

Eu ainda estava muito longe para que pudesse ajudar, mas não consegui deixar de me mover em sua direção. Além disso, parecia tolice me preocupar em molhar os tornozelos quando a chuva já encharcara minhas roupas. Avancei até as ondas baterem em meus joelhos. A corrente estava forte, me puxando para o horizonte, e eu tremia de medo. O homem lutava contra a mesma corrente. Eu podia vê-lo melhor agora, coloquei a mão na boca quando percebi quem era. Peter.

Meu coração voltou a bater enlouquecidamente, queria deixar de ajudar, mas minha empatia ao próximo não deixou. Eu iria me sentir culpada pelo resto da vida se soubesse que algo de ruim aconteceu com Peter, e não ajudei.

Ele estava cansado. Eu gritei seu nome, desta vez ele parou e ergueu os olhos enquanto movia os braços. A boca dele se abriu, e em meu coração sabia que ele estava falando o meu nome. Peter baixou a cabeça de novo e continuou nadando. Podia ser imaginação minha, mas parecia que agora ele estava se movendo um pouco mais rápido. Eu estendi os braços e dei um passo à frente. Cerca de 10 metros nos separavam agora.

─ Você está quase chegando! ─ já estava cansada de gritar e tentar lutar com a corrente.

A água estava na minha cintura quando, de repente, uma onda enorme quebrou, cobrindo a minha cabeça. Dei uma cambalhota dentro d'água e por um instante não tinha ideia de que lado era para cima. Milagrosamente, meus pés tocaram o chão e meu rosto encontrou o ar. Percebi que agora estava de frente para a costa e virei bem a tempo de ver Peter cambaleando em minha direção. Ele caiu em cima de mim.

─ Meu Deus, Camila ─ ele disse, ofegante. ─ Quando vi você chegando...

Sem conseguir concluir a frase, curvou-se na altura da cintura, buscando o ar. Eu agarrei seu braço e comecei a puxar.

─ Temos de voltar à praia ─ implorei.

─ Você... Você está bem?

Eu o encarei boquiaberta, em meio à chuva que caía torrencialmente.

─ Você está me perguntando isso? Peter, você estava a quilômetros da costa! Eu não conseguia ver se você estava vivo. Estava apavorada. Eu... ─ parei.

Caminhamos com dificuldade até a areia. Eu estava gelada e fraca, mas sabia que Peter estava ainda mais fraco, então forcei as minhas pernas a continuar. Estávamos agarrados e eu podia sentir as pernas de Peter vacilarem.

─ Camila ─ Peter disse sem ar.

─ Não diga nada.

Eu procurei me concentrar na praia, havia uma casa, aparentemente sem ninguém morando lá. Andei para esse lado.

Peter parou, me forçando a esperar. Ele tomou o meu rosto em suas mãos, ignorando a chuva e o vento, e olhou nos meus olhos.

─ Você está bem? ─ ele repetiu.

Eu o encarei, incapaz de acreditar que ele parou no meio da tempestade para me perguntar isso. Cobri sua mão com a minha e disse:

─ Peter, estou bem. Estou com frio, mas estou bem. Temos de levá-lo para algum lugar seguro.

///

Esse capítulo foi baseado em um trecho de um livro que amo demais: Mais lindo que a lua.

Então, caso alguém tenha sentido alguma semelhança, eu modifiquei algumas coisas para essa história.

Xoxo,
A autora.

Long LiveWhere stories live. Discover now