Sobrevivendo...

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Kíria estava sentada na escada à entrada do prédio olhando a rua. Já enxugara as lágrimas mas elas teimavam em molhar seu rosto novamente. Ali entre duas plantinhas pelo menos conseguia sentir cheiro de mata.

_Moça...

Ela ouviu uma pegarreada

_Senhorita não acho seguro a senhora ficar aqui fora... ha essa hora é perigoso, ocorre muito assalto por aqui...

Kíria olhou para o homem que lhe falava. Tinha cerca de uns 50 anos e um sotaque nordestino marcado. Já tinha visto ele por alí. Claro ja que era o porteiro. Depois de explicar que nunca estivera em uma cidade grande antes, ele se apresentou.

E com naturalidade e em uma velocidade extrema ele lhe contara toda sua vida, de como saira do Nordeste em busca de um sonho de ter aquilo que mais buscava;; um emprego e ela lhe contara da sua desventura. Seu José mais que depressa lhe deu um prato de comida e aproveitou para lhe contar histórias engraçadas enquanto comia. Ficara furioso com Wendel. O taxara de mauricinho irresponsável e resolvera lhe ajudar da maneira que podia.

_Epifânio. Sou eu... _Ele falava ao telefone. _Você não disse que me devia uma? Pois é... _Kíria o encarava sem entender. _É você me falou que sua ajudante tava com dengue e é por isso mesmo que eu te liguei... Pois é... é que eu estou aqui com uma moça que pode ajudar você... Claro... eu vou explicar pra ela que é provisório não se preocupe... claro... claro... ok vou explicar pra ela. _Ele desligou o telefone. _Pronto. Resolvido. Fome você não vai mais passar. É provisório mas até a ajudante dele voltar você pode ver um emprego novo.

_Mas... do que se trata? Eu sou uma toupeira. Não sei fazer nada.

_Seu Epifânio tem uma padaria aqui do lado e a moça que ajudava ele está com dengue.

_Mas eu... o que ela fazia? O que eu tenho que fazer.

_Nada difícil. Apenas auxiliar ele na cozinha e cuidar da vitrine e do atendimento. O maior problema é o horário... Você têm que estar lá às quatro da manhã.

_Meu Deus... mas isso não é um problema. Sempre acordei às cinco uma hora a menos não me fará falta o que eu estou nervosa é com o que vou ter que fazer...

Seu José riu.
_Não é nada de outro mundo você vai ver, vai rir tanto daquele barrigudo português que se acha o italiano. Ele é um velho falante mas é uma boa pessoa. Você vai estar em boas mãos.

Kíria subiu para o quarto sentindo uma pontada de ansiedade. Nunca tinha trabalhado assim antes... era tudo novo. Estava se sentindo renovada depois de ter comido e recebido um pouco de carinho e atenção. Ia dar a volta por cima. Seu pai não a queria mais... sua vida virara de cabeça para baixo. Mas agora era hora de levantar. Bater a poeira e seguir... Mas ao passar pela sala o telefone tocou.

_Filha...

_Estou ouvindo... _Sua voz embargava ao falar com o pai.

_Filha está tudo bem? Você desligou na minha cara mais cedo... eu sinto muito filha mas... futuramente vai me agradecer. Sei que está chateada... mas isso vai passar. Liguei pra te dizer que sua prova é amanhã. Aliás estou ligando faz tempo onde você estava? Preciso que compre um celular... filha você está bem?

_Está tudo "ótimo" papai. _Kíria bateu o telefone com força não conseguindo conter o pranto. Como seu próprio pai poderia lhe condenar a passar por tudo aquilo? Estava com peito transbordando a mais pura mágoa. Foi difícil pegar no sono. Mas conseguira.

*** 

Wendel xingou até a morte, mas seu pai só ouviu até desligar o telefone e bem na sua cara... nada anormal, já era habito dele agora.
_Levar ela pra minha Universidade? No meu carro? Nunca! Ela que se vire. Ela que se lasque de vez! Ela que se...

Simplesmente ImperfeitoWhere stories live. Discover now