Mais um pouco

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Cheguei no bar para mais um dia de trabalho, o mesmo já estava aberto. Gerald havia chegado cedo. Tirei meu sobretudo que estava um pouco molhado por conta da garoa e coloquei sobre um dos bancos do balcão. Apesar da chuva fina, os raios do sol já estavam aparecendo me causando calor.

-Gerald?

-Bom dia Lauren. - surgiu dos fundos.

-Bom dia Gerald, o que temos pra hoje?

-Esqueci de avisa-la mas hoje você está de folga.

-Folga?

- Sim, acho que você precisa descansar. Você e a Camila.

-Bom dia, o que tem eu?

Camila apareceu no mesmo instante e não pôde deixar de notar uma diferença em sua roupa, estava menos "bad girl" se posso dizer assim. Ela usava uma calça justa na cor branca é um top cropped no modelo cigana na cor vinho. Acho que tudo deve cair bem nela.

-Bom dia Camila, dizia a Lauren que vocês duas estão de folga hoje.

-Sério? Que bom, assim eu volto a dormir.- disse rindo.

-Acho que a única coisa que resta a fazer. - ri

-Que tal tomarmos um café então?

-É, boa ideia.

Nos despedimos de Gerald e seguimos para a padaria mais próxima.

20 minutos foi o suficiente para nós sentarmos do lado externo de uma pequena padaria de esquina. O lugar não tinha muito movimento e tudo parecia bem higienizado. O cheiro de pão saído do forno já me deixava com fome.

-O que vai pedir? - Camila perguntou.

-Um croissant e um café.

-Por minha conta.

-Nem pensar, deixa que eu pago minha parte.

-Quem convida que paga, então não adianta insistir Jauregui. - disse em tom de brincadeira.

-Tá bom Karla. - revirei os olhos e sorri.

Após fazermos os pedidos e enquanto eles não chegavam, Camila me olhava. Seu olhar subia e descia, parava sobre meus olhos e recomeçava. É como se ela admirasse uma obra de arte ou tentasse desvendar algum mistério em mim, pode parecer estranho mas eu gostava. Além de me despertar curiosidade, o olhar de Camila era intenso e não conseguia deixar de retribuir ou de sorrir com seu ato. Só paramos de encarar uma a outra quando o nosso café chegou.

-Ainda bem que não demorou tanto, já estava com fome.

-Eu também.

-Posso experimentar seu donut, parece bom.

-Recheio de chocolate com cobertura de Coco. Vamos ver o que acha.

Camila pegou a pequena rosquinha e levou até minha boca.

-Mmmmm. -murmurei assim que senti o sabor- muito bom.

-Você se sujou um pouco. - riu - deixe-me limpar.

Com um guardanapo, ela limpou o canto do meu lábio. Sem passar despercebido por mim, Camila fitou minha boca e umedeu os lábios.

-Pronto. - amassou o papel o deixando na mesa.

-Obrigada.- Sorri.

Antes de começarmos a aproveitar a nossa primeira refeição do dia, dei continuidade na conversa.

-Me diz Camila, você é assim desde criança ou sua personalidade foi sendo construída? - Tomei um gole de café.

-Assim como? - abaixou a xícara de chocolate quente que bebia.

-Menina má.

-Menina má. - riu fazendo seu nariz franzir- na minha infância e na minha adolescência eu sempre passei como a garota que não tinha nada demais. Estudava, ia á escola, saia com meus poucos amigos e só. Quando descidi não fazer faculdade e viver do meu jeito as coisas mudaram. Tive que mostrar a mim mesma que estava certa do que queria e que independente de qualquer coisa eu não iria depender de ninguém. Assim minha personalidade foi surgindo.

-Pensava que você era a garota toda popular.

-Ninguém iria considerar uma menina baixa e magrela popular. - riu

-Aposto que agora todos achariam isso.

-Sério, porquê?

Ela sorriu sabendo muito bem o motivo pelo qual eu disse aquilo, também, pelo jeito que a olhava não tinha como não saber.

-Por nada. Mudando de assunto, você sempre gostou de mulheres?

-Sim, apesar que demorei pra ficar com uma.

-Como foi seu primeiro beijo com uma menina? -Limpei a boca após morder o croissant.

- Eu tinha 13 anos e foi com a primeira menina da escola que o meu radar dizia ser bi, falei que queria ficar com ela e esperei. Quando já tinha perdido a esperança de uma resposta fui puxada para o banheiro e ganhei aquele beijo.

-Espero que o diretor nunca tenha descoberto.

-Pra minha sorte não.

Rimos juntas e comemos mais uma parte da nossa massa.

-Agora eu quero saber de você, como artista, você já imaginou o vídeo clipe de Expectations?

-Sim, várias vezes. - disse animada.

-E como seria?

-Seria em preto e branco, em um cenário misterioso com um jardim cheio de rosas onde haveria duas de mim. A Lauren que eu me tornei e a outra que ainda criava expectativas.

-Eu consigo visualizar esse clipe, uma vibe Amy Winehouse.

-Ficaria incrível.

-Vai ser incrível, isso vai acontecer. Você é uma mulher talentosa e seu trabalho vai ser reconhecido.

Agora vejo uma admiração, uma transmissão de energia boa vinda de suas palavras e de seus olhos castanhos. Era sincero e muito bom de sentir.

-Eu acredito.

-Eu também, pois já estou ansiosa com esse clipe.

-O que mais quer saber ?

-Tem algo que nunca fez e que ainda quer fazer?

-Hummm -pensava- sempre quis tirar foto naquelas cabines de filme onde a foto já está revelada do lado de fora quando a gente sai sabe.

-Não sei se ainda existe mas podemos tirar algumas fotos com o celular mesmo se quiser.

-Claro.

Em alguns minutos terminamos o nosso café da manhã, que sinceramente estava uma delícia. Camila pagou a conta e em seguida, em frente da padaria mesmo tiramos algumas fotos. Sorrindo, fazendo caretas, fazendo gesto com a mão mas todas com um dos braços de Camila envolta da minha cintura.

-Quer que te acompanhe até a sua casa? - perguntou.

-Não mas queria te acompanhar até a sua.

-Tudo bem, siga-me. - sorriu e piscou pra mim.

Estar com Camila era agradável, ela contava mais sobre si, fazia piadas, comentava sobre o dia. Uma companhia ótima de ter por perto. Perto... não me importo em te-lá assim.

Expectations Where stories live. Discover now