please, i need that.

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...dois dias depois...

Que barulheira...

Pensei assim que despertei incomodada com os barulhos ao redor. Espriguicei-me e sentei-me na cama, ajeitando meu cabelo...meus olhos murchos, meu rosto inchado, meu corpo vagaroso... típica cena pós-despertar!

Ta bem... Ta bem! Levantei.
Caminhando até a porta, notei que o som vinha da sala receptiva do recinto. Eu não ligo de sair de camisola pelas dependências dali, então o fiz...

- Na hora... - Larissa cochichou quando me viu chegar por ali - Senta, são boas novas!

- Hum, ah...

Sentei, me acomodando, eu ainda estava despertando então minhas respostas não eram das mais elaboradas. Passei a concentrar-me no engravatado falando para seu rebanho de doentes...

- É simples! As responsáveis daqui de dentro irão sugerir suas melhores pacientes. Iremos analisar sua história de vida - Gravata pegou ar e gesticulava com a mão - seu histórico médico, enfim... TUDO que está relacionada com cada uma de vocês.

À essa altura do campeonato, eu já tinha parado de ouvir o que ele tinha dito no "Iremos analisar sua história de vida". Eu sou um desastre, e tudo relacionado a mim é mais desastroso ainda, qual a chance de eu ser a premiada? Bufei com ar triste...

- Nada é impossível! Vale a pena tentar não é?

Ele sorriu para as pessoas que ali o fitavam, todas animadas e apenas pensando "se eu não acordasse exatamente agora, eu não estaria escutando isso" e ai?? Larissa tinha que me dar informações.

Aguardei até o fim do discurso incentivador e já fui arrastando asas até minha amiga:

- Ei... como sabia desse evento aqui? - intimei Larissa

- Foram nos chamar... - ela me olhou e encarou minha roupa - não foram...chamar você?

Claramente ela ficou sem jeito, claramente eu fiquei chateada, claramente eu não era uma das espécies de "candidatas" pro tal bônus. Tudo explicado.

- Eu sinto muito, Ju - ela se desculpava por algo que não tinha o mínimo de culpa...

- Você não é responsável por isso, ta tudo bem - forjei um sorriso, indo abraça-la - eu deveria saber...

- Ju...

Me afastei sutilmente do corpo magro de Larissa e caminhei de volta a minha fossa. Sentei-me na cama e abracei meus joelhos... Fechei meus olhos, e pus-me a pensar, mas sem chorar dessa vez, eu tinha certa conformidade da situação.

Senti uma presença armafanhar meu lençol. Suspirei e permaneci estática.

- Jullie... - Milly, certamente. Silêncio.  - Olha sei que não estamos nos falando, mas sei que não ta bem, quer conversar?

Inspirei profundamente. Será o silêncio a melhor resposta? Não Jullie, seja cabeção e responda!

- Obrigada Milly, mas não.

- Porque tem que ser tão dura consigo mesmo?

- Porque cansei de colocar os outros acima de mim, e sempre sair choramingando.

- Uau! - ela pareceu surpresa, de acordo com seu tom de voz - Você realmente mudou!

- Eu to tentando. Me deixe só, por favor...se não pode sair do quarto, pelo menos vá pra sua cama.

E nada mais foi declarado.

Eu não posso perder essa oportunidade, se eu quisesse sair dali, eu teria de fazer tudo o que for preciso pra entrar na "competição".

- Almoço! - A cuidadora pronunciou-se abrindo a porta com um carrinho e duas bandejas respectivas pra mim e pra minha companheira de quarto histérica.

Endireitei meu corpo, a olhar a mulher se aproximando. Eu estava mesmo precisando me alimentar.

- Obrigada! - sorri fracamente.

- De nada, linda! Ta tudo bem?

- Sim, está sim - menti.

Peguei a bandeja, coloquei sobre meu colo, e antes de dar a primeira garfada, coloquei meu comprimido na boca e engoli seguido de uma golada de água. Passei a me alimentar então...

Logo após o almoço, resolvi me levantar e começar a tramar uma estratégia que me incluísse na probabilidade citada outrora.

Tomei banho, coloquei uma roupinha mais arrumada, penteei meus cabelos, fazendo duas tranças, uma em cada lado de meu ombro. Coloquei meu sorriso mais bonitinho no rosto e sai do quarto. Me sinto confortável? Não. Mas preciso me manter assim...

Meu humor não era dos melhores, eu sempre ficava com essas alterações, com as trocas de medicamentos, e alguns deles claramente não  cooperavam comigo. Suspirei e sai  saltitando fingindo felicidade.

- Boa tarde!!! - expus-me forjando simpatia e entusiasmo.

- Que bicho te mordeu garota? - Larissa me puxou pra um canto.

- Eu preciso dessa oportunidade, pra sair Lari - fechei meus lábios desafazendo o sorriso - É sério...

- Da pra acalmar? Não é assim que vai conseguir! Seja você mesma!

- Essa merda não dá certo, nunca deu!   - baixei meu olhar.

- Eu vou tentar por você, eu prometo... só pega leve consigo mesmo, a gente vai conseguir ta?

- Olha pra você, Lari... você ta muito melhor, ta claro que vai sair daqui. Eu vou ficar e ainda perder minha única amiga nesse inferno.

Senti tua mão cariciar minhas costas, em consolo.

- Eu vou te tirar daqui. Eu prometo.

Engoli o choro que estava querendo ser notado, e a olhei. Abracei seu corpo, sentindo que precisava daquele carinho. Ela retribuiu na mesma intensidade. Quando se é monitorada a todo momento, e se sente deslocada de tudo e de todos, qualquer tipo de demonstração de afeto sempre é acolhedor e prazeroso.

- Agora, vai descansar... você sabe que  não pode ficar abusando muito hm!?

Concordei em silêncio, expirando o ar  que almejava sair livremente de dentro de mim. Me retirei dali e fui para o quarto novamente. Cobri meu corpo com os lençóis finos da cama, e passei a brincar com a costura do pano.

Não minto, era incessante o trabalhar de meus neurônios, me auto destruindo com o que poderia ou não acontecer.

Milly... - pensei em chamar. Seria muita cara de pau? Deus, como Max faz falta.

- Emilly. - chamei sem muita expectativa.

- Sim? - ela arrumava sua gaveta, tinha essa mania de arrumação.

- Pode vir aqui?

Se levantou e avançou até onde eu estava, e ficou em pé, anterior a mim.

- Eu queria colo... - falei dengosa.

- E espera que quem faça isso?

- Eu...eu achei que..  - gaguejei e fui interrompida.

- Eu faço! - se sentou estendendo suas duas mãos para que eu as palpasse.

- Obrigada, obrigada - sussurrava baixinho, tocando tuas mãos, que me puxaram pra perto, fazendo com que meu rosto se repousasse em tuas coxas magras, mas confortáveis e agora úmidas pelas lágrimas silenciosas que tomavam o foco de minha visão.

- Não agradeça, eu não direi nada agora, só quero que descanse, e faça de mim seu ponto de paz, pelo menos por um curto momento.

Assim o fiz. Cedi. Temporariamente.

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