Just a dream

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- Ju, acorde...

Ouvi um sussurro, abri meus olhos. Minha vista embaçada não me permitia ver além de uma silhueta feminina.

- Sou eu..

Bianca. Ah sim, Bianca. Me sentei rapidamente e envolvi meus braços em teu pescoço num abraço confortante e necessário.

- Me perdoa.. por favor, só isso que lhe peço ...

Chorava como um recém-nascido, suplicando por suas desculpas. Suplicando para que não desistisse de mim. E ela acariciava com carinho minhas costas, me confortando.

E tudo o que havia acontecido, acontecera somente em minha mente. Triste não? Sem beijos, sem amor, sem declaração...

Sem delongas, Bianca se afastou e me olhou profundamente. Minha devastação era tanta ali que qualquer um veria minha alma no fundo de meus olhos. Contive minha respiração e a olhei da mesma maneira.

- Eu sinto muito pela maneira de como isso foi te informado.

Bianca se referiu a minha mãe, e eu assenti. Sem expressão alguma ela se levantou e se pôs a minha frente, ergui meu olhar ao dela e assim a mesma deixou suas palavras curtas serem ouvidas em tom frio.

- Não acho que precise mais dos medicamentos.

A olhei confusa... sem um pingo de noção do porque daquilo. Apenas esperei que me dissesse mais algo, e a unica coisa que saiu de sua boca foi:

- Arrume suas coisas, voltará para o quarto hoje mesmo.

Deixou o quarto, levou sua arrogância e levou todas as minhas esperanças junto a ela. Doutora Bianca estava irreconhecível a dias, cada vez mais me deixando de escanteio, como uma qualquer entre tantas outras pacientes. Suspirei e me obriguei a arrumar meus poucos pertences em uma sacola plástica... Em minha mente, quando viessem anunciar minha saída dessa caixa, eu estaria mais animada. Do contrário, isso me deixou ainda mais frustrada, não por sair, mas sim por como sairei.

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De volta ao quarto branco, com aromas florais, ambiente quieto e calmo... como costumava ser, exceto pelas visões assombrosas que se passavam diante de meus olhos toda vez que via o banheiro. Mas tudo bem, não é isso que vai estragar meu dia, não mesmo. Anne estava encostada no travesseiro, como eu havia deixado ela a, não sei quantos dias, e é claro que um abraço caloroso não poderia faltar.

- Anne, que saudades!

Murmurei pra mim e me espatifei na cama. Os sons dos pássaros lá fora me deixavam mais aliviada, visto que tudo que eu ouvi durante o tempo isolada foram vozes ásperas e roídos de ratos, creio eu que eram ratos. Mas esses mesmos sons me levaram a pensar em Max. O garoto me contara uma vez que gostava quando os pássaros cantavam, porque lembravam seu lar e o cheiro de café de todas as manhãs.

Espero mesmo que ele ainda esteja aqui, e que saiba da minha volta... E que, não tenha medo de mim. De repente ali se entristeceu e me forcei a fechar os olhos e abrir somente quando estivessem com meu jantar na cama. Admito que meu estômago reclamava, implorando pela comida das garotas daqui, e como não era uma opção comer a hora que desse na teia, apenas esperei.

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Não demorou muito para que o jantar estivesse sobre meu colo. Ataquei faminta o prato de macarronada, sem me importar com sua falta de cor e sal, qualquer coisa era melhor do que a comida do isolamento.

- Ei, amiguinha... você...está ai?

Parei de mastigar. Saltei da cama e abri a porta. Logo me deparando com uma criaturinha miúda a minha frente.

- Maaxx...

O tomei pelos braços e o abracei de maneira calorosa, cheia de saudades do garotinho. Ele sorriu sem jeito assim que o coloquei sentado em minha cama.

- Ta tudo bem?

- Porque ... você fez..a-aquilo, Ju..?

Max sabia do assassinato, e talvez por isso seu olhar não era tão vivo ao olhar pra mim. Puxei meu ar, e me sentei ao seu lado.

- Então você sabe... bem, ela não era uma moça legal, Max, eu não posso te dizer muita coisa...mas eu fiz o que achei que era certo.

Max me surpreendeu com o que disse logo depois.

- Você fez... o que era certo.

Sorriu sereno e passou sua mão pequena sobre a minha, em repouso na cama. Suspirei, com a mente avoada, como se ele realmente pudesse me entender. Um anjo, inocente, que mal me conhecia, e que apesar do ocorrido, ainda assim estava ali, confiando em mim:

- Max...eu senti sua falta

O abracei lateralmente, acariciando seus cabelos ruivos e macios com a palma de minha mão. E dessa vez foi seu suspiro que chamou minha atenção diante do silêncio do cômodo.

- O que está acontecendo?

- Eles... querem me...levar daqui..

- Quem te disse isso, Max?

- Eu..ouvi, o tio... ele vai me...levar pra casa

Casa? Que casa? Desde que estou aqui, jamais ouvi o garoto falar absolutamente nada a respeito de familia, de casa, de nada nesse contexto. Como é que meu garotinho iria partir?

- Sua mãe?

- Eu, não gosto...

Olhei em teus olhos, vermelhos, inchados, tomado por lágrimas que queriam rolar sobre sua pele clara e visivelmente corada. Nessa situação, fiquei atada porque mesmo que quisesse, jamais me ouviriam, jamais ouviriam a maluca do quarto 7 (Sim, desde que notaram minhas crises, me chamam assim. A propósito, meu quarto é o número sete), mas tudo que o menino não precisava agora, era de alguém atormentando sua mente com esse conflito:

- Max, eu não entendo muito bem disso, mas...vai ficar tudo bem, quer dizer, eles não iriam te tirar daqui pra um lugar pior e...

- Mas eu não...eu não quero te, deixar aqui... aqui é, triste

Me interrompeu, baixando seu olhar e secando sua face com as costas de sua mão miúda. Assim, perdi completamente o rumo de meu discurso motivador (e falso). Isso me partira o coração. Delineei o contorno de seus olhinhos para enxugar o úmido ali presente, em quietude, retornei meu ato de afeto, enlaçando-o em meus braços.

- MAS O QUE É QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?

BIANCA MITCHELL! Berrei internamente. Diabos, que droga...

- Doutora...Se acalme, ele só errou o quarto e..

- Cale-se.

Se aproximou enfurecida enquanto eu escondia o garoto atrás de meu corpo magro e fraco.

- Me dê ele, Jullie!

- Mas, porque? O que ele te fez? Ele só veio falar comigo! O que é que tem de errado nisso?

Pus-me a chorar, esbravejando sobre sua cara, encorajada por uma força maior, e me questionando de onde vinha toda essa coragem pra defender um garoto que eu mal sabia de onde vinha.

A doutora, incrédula de minha insanidade, parou sobre minha frente e falou firme com o garoto:

- Maxwell, eu não falarei duas vezes.

- Desculpe

O garoto sussurrou, saiu de trás de mim, saltou da cama cabisbaixo seguindo teus passos até a porta. Mitchell bufou, se virou ainda com seu cenho franzido e bateu a porta atrás de si. Queixei-me com um grito desgostoso. Abracei meus joelhos, sentada em minha cama e choramingava silenciosamente. Via que toda minha bravura, era em vão. Notava que era invisível. Que era um ser desprezível para qualquer pessoa. Dali? Não. Do Mundo. Rodeada de pessoas, e sozinha. Tantas perguntas, e eram nulas as respostas.

PsicoLove.Where stories live. Discover now