Think about decision

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Silêncio. Estão ouvindo? Sim, são minhas lindas bonequinhas cantarolando. Não as interrompa, por favor, quero continuar ouvindo-as, na beira da cama, olhando pra elas, com brilho no olhar, com formosura e concentração. 

- Jullie?

Bateu na porta, me deixando levemente irritada. Ignorei. 

- Ande, sei que está ai. 

Persistiu o ser irritante com voz feminina e de pouco agrado à minha pessoa. Oras, mais que merda! Ops, palavrão. 

- O que foi que eu fiz agora?

Sim, eu amo essa frase. Ela se encaixa muito bem no meu perfil de maluca que sempre toma a culpa e nem sabe o porque. Pronunciei-me do outro lado da porta, enquanto me aproximava virando a maçaneta da mesma.

- Ah...

Suspirei profundamente, deixando a porta aberta e indo em direção a janela, onde gostava de sentar no pano de peito da mesma. Era Camila. 

- Será que posso conversar com você?

Devo lembrar que as melodias de minhas garotas em porcelana eram muito mais agradáveis do que ouvir alguém que me interrompeu no meu momento favorito do dia não é? Ta bem, "Seja boa, Jullie", mamãe sempre dizia à mim. 

- Claro... 

Desviei meu olhar calculista da paisagem vista da abertura onde repousava-me, para a garota com cara de piedade.

- Queria pedir desculpas por aquele dia... eu realmente sinto muito! 

- Tá tudo bem! 

Sorri de maneira fingida e voltei a olhar o cenário onde vivia à quanto tempo mesmo? Dane-se, eu não sei. 

- Você sempre foi a que mais me chamou atenção daqui... Talvez porque, seja diferente.

- Sou diferente é?

Fitei o pano do vestido (camisola) que cobria minhas pernas e amaciei o mesmo, recurvando meu semblante desconfiado à ela.

- Sabe... 

Fingiu uma tosse incoerente.

- Tenho tido muitos problemas...Desde que minha tia faleceu, não paro de procurar o culpado, isso tem me deixado inquieta e acabei descontando em você. 

- Tia?

- Acho que devia conhecer... Chamava-se Jane. Ela me criou desde pequena...

E sua voz continuou ecoando nos quatro cantos do quarto, enquanto eu tinha parado de prestar atenção quando disse "Jane". Gelei, mordisquei o dorso de minha mão com certo nervosismo. E a interrompi.

- Disse Jane?

Ficou meio confusa a me olhar... 

- Conhecia?

Não! Você não conhecia. Delete isso da mente Jullie. 

- Não! Quero dizer... já a vi, mas não conversamos muito 

Forjei minha aparência mais natural possível. Aparentemente se convenceu mas não parou de reclamar e reclamar.

- Não vou sossegar enquanto não achar o responsável pela morte dela.

- Han.. já parou pra pensar que ela pode ter morrido de causas naturais? 

Rezei, rezei muito para que a menina a minha frente, vulgo nenê que tinha 14 anos, não soubesse do assassinato brutal de sua tia. Mas... esse mundo parece estar avançado não é? PAREM, EU QUERO DESCER. 

- Ai Jullie...

Sorriu em tom irônico e frio. 

- Não acredito que não lhe disseram. Ela foi assassinada!

Surpresa!

- Nossa! Assassinada?

Ocultei minha boca em formato de "O" com a palma da mão, fingindo realmente uma comoção. Merda de Jane, nem morta me deixa em paz. 

- Sim... Eu, estou sem chão desde que soube. Eles não sabem que sei, mas... as fofocas se espalham rápido! Ainda bem que consegui que mamãeme tranferisse  pra essa clínica, né?

NÃO!

- É! Mas... o que pensa em fazer?

- Boa pergunta Ju, posso te chamar assim?

Assenti assustada pelo grau de intimidade que estávamos tomando naquela conversa.

- Vim te pedir ajuda. 

Já sei porque essa maluca tá aqui. Porque é uma psicopata. Socorro Deus, me leva.

- Ah.. para que exatamente?

Sentia minha voz falhar. Meu corpo bambear inteiramente...

- Eu sei que o responsável por isso está aqui. Desconfio do Robert, conhece? Nossa, eu odeio aquele sujeito. Vou tirar a vida dele. Juro.

- Ah é?

Minha mente também não era a mais sã dali, convenhamos. Então... meu primeiro pensamento foi "Uh, ótimo. Ele morre, e meus dias de tortura por esse desgraçado chegam ao fim" MAS... ainda existia uma ponta de razão no meu consciente e eu... não consegui deixar isso acontecer. Não deixaria antes de tentar interferir. Repito, TENTAR. Mas sem muito esforço né?! 

- Ah...Mas isso te traria confusões. Quer dizer, você tem certeza mesmo que é o Robert?

- Quem mais seria? Ele odeia todos daqui. Tenho pena da doutora Mitchell...ela que sempre foi tão legal...

E novamente sua voz continuava repercutindo pelo quarto, só como ruídos mesmo, porque eu tinha parado de raciocinar no "Mitchell" ...Oh mulher que mexe com meu eu adulto, viu? 

Mas minha recordação mais recente de Bia, agora era só e somente a proposta. E quando fui proceder com o raciocínio, pá! INTERROMPIDA NOVAMENTE. Mas qual é teu problema em Camila? Suspirei.

- Tá me ouvindo?

- É claro que eu to! 

- O que acha, tá dentro?

NÃO! Sai fora disso. Vai sobrar pra você, retardada.

- Claro! Eu te ajudo! 

Levantei descrente do que havia acabado de dizer. Acariciei meu braço com minha mão, fingindo frio.

- Estou com frio, e um pouco de sono. Podemos nos falar mais tarde?

Caminhei para  a porta, abrindo a mesma.

- Ah! Claro... Eu já ia indo mesmo! 

Se aproximou, e me abraçou. Oh droga, ela me abraçou. O que fazer? Afasta, afasta.

- É... Tá ! Até logo.

Disse me afastando, sorrindo errônea.

- Obrigada tá bem? Sabia que podia contar com você!

Partiu toda sorridente pra teu quarto ou qualquer que fosse o destino dela. Fechei a porta e corri pro banheiro.

- Mas que porra está fazendo?

Me agredi com uma bofetada no rosto. Eu não to acreditando. Quer dizer...acho que estou dando corda para me enforcar sozinha. Isso me proporcionava um momento pra pensar numa saída, e saída desencadeou em Dra. Mitchell e seu belo filho Maxwell. 

Se antes eu já tinha motivos para sair daqui, agora tenho mais um... um dos piores. Sobrinha da Jane, isso explica o assédio...por sinal gostoso, de outrora. 

Chega de pensar nisso por hoje Jullie. Chega! Me permiti tomar uma bela ducha quente de uns 40 minutos ou mais e, só sai porque uma das mocinhas que me alimentam (Uau, pareci um passarinho em teu momento preso na gaiola), me chamou dizendo:

- Martinez, seu prato preferido, MACARRONADA!

Escutei a porta bater, conceituando sua despedida. Fechei no mesmo segundo o chuveiro. Quem é que faz uma pratada de macarronada esperar? Bem...eu não. Dê-me licença. Irei comer. 

PsicoLove.Where stories live. Discover now