Robert with Mitchell

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A noite passou turbulenta, barulhos na janela me incomodavam, talvez fossem os pardais alimentando seus filhotes, ou talvez só fosse minha mente perturbada, entretanto, ainda bem que passou.

- Oi!

Camila sentou do meu lado, no banco do parque onde eu, somente observava as outras criaturas fazendo uma porção de aleatoriedades.

- Olá

Esbocei um sorriso curto virando meu olhar rapidamente para a garota e logo voltei a olhar o de antes.

- Tive uma ideia.

Logo cedo? Tá brincando?

- Qual?

Fingi interesse. E fingi mesmo, espero que ela note a falta de interesse e cale a boca, boca... Hum... Que boca...

- Você sabe que um crime não é perfeito não é? Sempre tem detalhes que entregam o assassino e...

Continuou falando, e deixando suas ideias claras pra mim. O ponto era que ela falava de algo que eu já havia solucionado, e feito o ato, então meu coração palpitava mais lento a cada palavra. Uma hora ela vai descobrir, e vai me matar ...morrer é algo que espero a tempos, porém não dessa maneira. Sua boca realmente me chamava atenção e se fosse pra fazer ela parar teria que deixar meu lado ousado e ao mesmo tempo corajoso aflorar.

- Camz...

Me olhou pausando seus olhos quase vesgos e brilhantes sedentes de vingança frente ao meu. Toquei sua nuca com minha mão fria e ela retorceu levemente teu pescoço. Tarde para recuar. Me aproximei de seus lábios e apenas uni junto ao meu. É estranho, não? Mas foi necessário..  e desejado momentaneamente. Só me preocupara agora as consequências de meu ato parcialmente impensado.

- Jullie? Ta maluca?

Se afastou depois de ficar alguns segundos em transe com o momento.

- Desculpa ...

Seus olhos pareciam confusos, e pareciam ter esquecido da ideia maluca de vingar a morte da tia.

- Porque fez isso?

- Porque...sua boca é bonita

Claramente não sou boa em elogios, nem em paqueras então, só disse o que realmente pensei quando a interrompi.

- Minha boca? - sorriu tocando seu indicador levemente no mesmo - obrigada, acho.

Concordei quieta, sorri mas logo desmanchando a curva em meus lábios.

- É... Eu não dormi direito essa noite, vou pro meu quarto ta bem?

Me levantei e fui andando sem esperar sua resposta, temendo que ela quisesse retomar o assunto e ela abordou-me novamente, alcançando meus passos:

- Sei que me beijou pensando na Bianca. Mas lembre-se, ela é do Robert, Jullie.

Olhei para a garota que me encarava com irônia e reproduzi minha expressão mais interrogativa e indiferente possível.

- Não entendi. - entendi sim - não pensei nela. Pensei em você, na sua boca, e somente isso.

Ela assentiu incerta, com toda razão, de minha resposta. Me despedi mais uma vez e caminhei dessa vez mais cabisbaixa. Dra. Bianca estava com Robert, será isso verdade? Não que eu me importasse, mas eu me importo sim... Eu sei lá, confuso, mas a informação mexeu comigo, e não num sentido bom.

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- JULLIEEEE

Entrou sem avisos prévios no meu cafofo, Max todo agitado e feliz. Desci rápido da cama com o seguinte pensamento "Que nesse momento ninguém o veja", claro porque... éramos proibidos de receber visitinhas, ainda mais com o Sol a raiar do lado de fora do prédio.

- Oiiii

Entusiasmei o abraçando pela emoção do momento. Assim que ajoelhei encontrando meu corpo com o do garoto, vi descamuflando da porta, Bianca Mitchell, mas não estava aparentemente irritada, nem prestes a metralhar grosserias pra nós dois. Me levantei com o menino em meus braços temendo o que viria. Calei-me e Max sussurrou quase inauditivelmente em meu ouvido:

- Ela deixou...

A tensão que sentia foi aliviada quando ouvi suas palavras.

- Max, posso falar com a Jullie um minuto? Prometo que depois vocês podem brincar a tarde toda.

Sorriu falando super delicada com o garoto que a poucos dias o odiava. Algo errado, não é possível.
Desci Maxwell no solo e ele foi para fora. Ereji meu corpo a fitando sem reação, com tantas perguntas na ponta da língua mas me contive no aguarde de uma explicação.

- Você ta bem?

- É, acho que estou sim...

- Eu, queria te pedir desculpas pelo ocorrido aquele dia com o garoto.

Ainda, mesmo que com a simpatia, demonstrava certo desprezo quando se referia ao teu filho. Ignorei.

- Ta, ta tudo bem... Porque o trouxe aqui?

- Notei, como profissional, que o garoto te faz ter uma progressão significativa. Ele te faz bem, e te deixa mais calma, estou certa?

Sim, está. Concordei com um resmungo esperando prolongação da explicação. Assim ocorre:

- E como mãe, que ele também se sente bem com você. Não preciso ter muito convívio materno pra saber o que meu filho precisa e ele precisa de você. Você deixa ele feliz, entende?

Suas palavras, mesmo que não tão delicadas, me arrepiaram dos pés a cabeça e minha vontade foi de pular no seu colo e a abraçar. Mas contive somente em abrir um largo sorriso direcionado pro chão.

- Temos que conversar, a respeito da minha proposta... Porque não vamos ser felizes em uma casa nossa, decente ... Eu, você e o Max?

- Mas... E o Robert?

Sua expressão mudou rapidamente. Acho que não era pra saber desse detalhe, ou melhor... ninguém deveria  saber.

- O que tem ele?

Perguntou em tom curto.

- Só queria saber, se ele está incluído nesse plano...

- Não. Claro que não...

Ficou sem jeito, corada nas bochechas tentando contornar a situação deixando suas falas gagas.

- Eu não quero atrapalhar sua vida com ele.

Contive pra não dizer tudo o que aquele mequetrefe me falou. Respirei fundo.

- No que atrapalharia? Você é querida por mim, por ele ..

Soltei um ar indiscreto de reprovação.

- Olha, é complicado ... - Mitchell não parecia estar feliz com o que quer que tivesse com Robert - Mas...logo vou resolver tudo isso.

Bianca se aproximou pegando minha mão e acariciando levemente o dorso desta.

- Eu quero te ter por perto...

Falou com a voz visivelmente trêmula, e eu quis responder que queria muito também, mas calei-me.

- Muito mais do que você imagina.

Me perguntava "porque eu?" , E porque ela mexia tanto comigo? Porque a possibilidade dela estar com Robert me incomodava tanto?

- Você está mesmo com ele?

Ela silenciou, fitou minha mão, fitou meus olhos, abaixou novamente o olhar.

- Só confia em mim, hum? Eu gosto muito de você, Martinez, acredita.

A porta rangiu e olhamos ao mesmo tempo em direção ao barulho cortando um clima tão gostoso, enfim...era meu pequeno amiguinho esperando a permissão para entrar, Mitchell concedeu:

- Venha! Mais tarde venho te buscar ta bom?

Levantou soltando meus dedos um por um lentamente, sorriu levemente e passou a mão nos cabelos de Max antes de sair.

Uma interrogação imensa formara dentro de mim, mas foquei no garoto que precisava da minha atenção assim como eu da dele.
Brincamos. E somente brincamos. De inúmeras brincadeiras. Somente rindo e não pensamos mais em nada. Em nada.

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