f o r t y f o u r

Comincia dall'inizio
                                    

E olhando o sol nascer do alto do penhasco, com os raios alaranjados transpassando entre as nuvens, mesmo não aquecendo nada, enquanto vinha até nós, de uma forma tão bonita e simples, era uma recompensa pela madrugada turbulenta que tivemos.

- Ainda está brava? - Cortou o silêncio.

- Não.

- Não mesmo? - Insistiu.

- Não estaria aqui se estivesse. - Falei em tom brando, sem desviar o olhar do horizonte. Continuei, me aproximando dele. - Mas nunca mais desligue o celular na minha cara. - Deixei claro.

- Não vou. - Garantiu.

- E não participe de atropelamentos e sequestros.

- Isso eu não garanto. - Brincou - Mas em minha defesa, não fui totalmente a favor. - Concluiu.

- Tenho certeza que não. - Murmurei, eu o conhecia o suficiente pra saber que a idéia não o agradou.

Por instinto, toquei sua mão sobre sua perna, e passei os dedos sobre as veias salientes, o ouvindo rir soprado, e passar um braço em torno da minha cintura, em um abraço, eu poderia fazer um drama, mas estava frio, então deitei minha cabeça em seu ombro, me aconchegando a ele.

- Ah, já ia me esquecendo - Falei levantando brevemente a cabeça - Nunca mais me deixe sozinha em uma situação assim. É horrível. - Frizei.

- Certo. - Disse simples, e beijou minha têmpora, aproveitando a deixa, para os distribuir pela maçã do meu rosto.

- O que é isso? - Perguntei segurando o riso.

- É parte do meu pedido de desculpas. - Sussurrou no meu ouvido, arrepiando minha pele. E pra ser sincera, não consigo ficar brava por muito tempo. E percebo agora, que com ele, menos tempo ainda.

- Se não acontecer de novo, está de bom tamanho. Porque se acontecer, eu vou aceitar o machado que o Henry ofereceu. - Ameacei, com uma pitada de humor, virando meu rosto pra ele, o olhando nos olhos. Tendo seu rosto tão perto, analisei o corte em sua bochecha, coberto por sangue seco, feito pelo vidro do retrovisor que explodiu. Aparentemente não deixaria marca.

- Realmente estou apavorado. - Disse irônico.

- Melhor ficar.

- É mesmo? - Perguntou em desafio, desviando os olhos pra minha boca.

- É. - Soltei, roçando meus lábios nos seus, ele, em provocação, mordeu meu lábio inferior, e sua mão subiu pelo meu braço até a minha nuca, e a puxou levemente, acabando com o pouco espaço entre nós, o abracei pelo pescoço e embrenhei minhas mãos em seus cabelos, me entregando ao beijo que me envolvia da melhor forma, e eu o fazia com toda vontade. Já ofegante, nos separei.

Não era lugar e nem hora.

- Localização. Sequestro. Seus amigos. - Apontei a situação, e ele, ao invés de me ouvir, me roubou outro beijo. E mais alguns outros.

- Para! - Falei rindo, com o coração mais leve, o empurrando devagar pelos ombros. Ele voltou a beijar minha bochecha e soltou "tudo bem", se virou, e simplesmente deitou, com a cabeça sobre minhas pernas dobradas.

- Vive se aproveitando de mim. - Acusei, passando a mão dentre seus cabelos, o ouvi suspirar baixinho.

- Só um pouco - Murmurou e fechou os olhos, deixando claro que eu deveria prosseguir com o cafuné. Não falei? Se aproveita.

Mas continuei deslizando meus dedos entre as raizes dos fios negros e macios, acaraciei seu rosto em um carinho lento, sem pressa, ele se manteve de olhos fechados, com a respiração calma, o peito subindo e descendo sob o suéter escuro, enquanto a brisa fria da manhã vinha até nós e jogava mechas, agora curtas, do meu cabelo, sobre meu rosto, os afastei, colocando atrás da orelha.

InérciaDove le storie prendono vita. Scoprilo ora