t w e n t y t w o

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ANABEL 🌙

E se foi mais de um mês.

Acho que nesse tempo, eu trabalhei bastante no salão, fui a faculdade e me embrenhei em meio a trabalhos e receitas, por Zach ter se mudado pra Bothell e vir ver Trudy com frequência, nos conversamos bastante nos últimos tempos, algo superficial, mas diferente do que é costumeiro pra mim que não falo com ninguém. Mas também tive problemas com a ansiedade, vindo a ter minhas instabilidades, lidando com a vergonha, e inclusive, estou tomando os medicamentos que foram passados pela psiquiatra, que pra minha surpresa estão me ajudando, por incrível que pareça. E claro, eu falo com Jonathan todos os dias, nem que seja por mensagem, chamada ou Skype. Pessoalmente nenhuma vez.

E isso é péssimo.

Mas ele estava melhorando, inclusive já não precisava da cadeira de rodas, o que é um progresso e tanto, e desde então, já foram muitas vezes do qual falamos que iríamos nos ver, marcamos, e sempre acontece algum imprevisto e não dá certo.

Até hoje.

Havíamos marcado de nos encontrar em um café em Kenmore, comigo aproveitando o dia em que minha tia ia até lá encomendar um lavatório novo pro salão. Seria quase a metade do caminho para ambos.

Assim que chegamos, minha tia me levou até o centro comercial que ficava em frente a praia. E como sempre, o dia estava nublado, frio e um tanto úmido por ter chovido na noite anterior. Nos despedimos, e ela marcou de me pegar as 17:00 pm, em frente ao lugar onde marquei com Jonathan.

Me guiei pela rua apertando meu casaco contra meu corpo, tentando evitar o vento gelado que vinha da brisa do mar. Conferi no celular o endereço do café. Ficava dentro de uma galeria. Assim que avistei o letreiro prateado, apressei meus passos até lá dentro, em busca da cafeteria que segundo Jonathan, atendia pelo terrível nome de, "Dolce Coolfe" e logo encontrei, caminhei até lá, entrei na mesma, que era toda no estilo anos oitenta, bastante aconchegante e retrô, e busquei por ele com meus olhos, pelo local.

E assim que o encontrei, sorri quase de forma involuntária, ele que me fitava e me lançava um sorriso de canto. Eu definitivamente senti falta disso.

Caminhei até o canto onde ele estava sentado, e antes que eu me aproximasse, ele ficou de pé.
E eu realmente fiquei feliz em ve-lo assim. Mesmo sabendo que ele precisava de suporte para caminhar, era bom saber que ele estava se recuperando.

Eu também estava surpresa, estupefata e abismada. Ele ...Tinha cortado o cabelo. Os fios escuros estavam relativamente curtos, baixos nas laterais, e um topete para o lado. Quase convencional. E ele parecia mais maduro com o cabelo assim e a barba que ele sempre evitava, estava por fazer. Tão ou mais bonito quanto eu me lembrava.

- Você cortou o cabelo! - Exclamei de forma avulsa antes mesmo de chegar perto dele.

- Também estou com saudade Anabel. - Ele brincou, e se apoiou na mesa para dar a volta, mas eu o fiz antes que ele viesse. Ele ainda não podia ficar colocando o pé no chão, porém eu lido com um grande teimoso.

Mas depois de tanto tempo, eu estava nos braços desse imprudente. Em um abraço forte, apertado, saudoso. Eu definitivamente precisava disso. "Senti sua falta" falei ainda de olhos fechados, me sentindo satisfeita de estar ali de novo. Ele moveu o rosto para perto do meu, e sussurrou "eu também", antes de me beijar, e definitivamente ele parecia estar, porque o beijo que começou inocente foi ficando quente demais, e como sempre as pessoas estavam nos olhando com desaprovação.

Isso sempre acontece.

Assim que partimos o beijo nos sentamos juntos no banco forrado em couro vermelho no formato de um L.

InérciaOnde histórias criam vida. Descubra agora