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   ANABEL 🌙

(...)

— Na verdade, entregar o celular foi só uma desculpa pra falar com você de novo...

Puta merda!

Estreitei meus olhos tentando entender, ele deve estar brincando.

Sossegue órgão que bombeia sangue!

— O que? — Perguntei aturdida.

— Sim, eu queria falar com você, na verdade, eu queria te perguntar uma coisa. — Disse de forma arrastada, estreitando os olhos.

— É, hm...Pergunte. — Falei, simples. Mas bastante ansiosa.

— Você aceitaria ser minha acompanhante no UinterClass amanhã a noite? — Perguntou sem rodeios, e assim que terminou eu travei no lugar.

UinterClass era um baile "beneficente" que acontecia entre as pessoas de alto escalão, uma vez ao ano na nossa cidade, e era sem dúvida a festa mais esperada e seletista de todas, que tinha como regra ser membro das famílias filiadas, e entrar sempre, como de praxe, com um acompanhante.

Eu nunca me importei com isso, nem me lembrava na verdade, até porque nunca fui, nunca tive interesse em ir, não tenho dinheiro e nem uma família rica e mesmo que tivesse não faria parte disso e ninguém me convidaria. Sendo que as obras beneficentes, ninguém nunca se viu um beneficiado. Mas foi impossível olhar pra ele, e pensar no "crush" que eu havia tido nele, e não cogitar a idéia.

Algo íntimo, dentro de mim, queria poder ir, ou aceitar sair com um cara como ele. Mas eu não acreditava que ele estava querendo ir comigo assim sendo que nem me conhece direito. Ele poderia ir com qualquer garota. Um cara como ele não olharia pra mim, tinha alguma coisa aí.

E eu tinha uma resposta.

— É hm...Não. — Respondi sem graça, brincando com meus dedos, e com uma enorme vontade de fugir.

— Não? — Perguntou e deu um breve sorriso, forçado.

Respirei fundo. Eu não gostava deste tipo de situação.

— É, e-eu não gosto de festas. — Falei vacilante. Mesmo sendo verdade.

— Eu entendo. É que na verdade eu preciso de uma acompanhante, estou a dez anos fora e não conheço ninguém. — Disse também meio sem graça, passando a mão dentre os cabelos escuros que lhe caiam sobre o rosto. E eu tive que evitar um suspiro. Mas em seguida algo me ocorreu. Dez anos? Ele deveria ter no máximo vinte e quatro. Como os pais dele deixaram ele ir sozinho pra Europa tão cedo?

Aquietei meus pensamentos curiosos e o respondi de forma avulsa.

— Qualquer garota da cidade iria com você. — Falei, sentindo minhas bochechas esquentarem.

— Mas a garota com quem quero ir, disse não. — Falou, e fez algo dentro de mim entrar em ebulição.

Eu sou muito idiota!

— E-eu não me sentiria a vontade. — Fui sincera. Eu não tinha o porque mentir, eu só queria ir pra casa, ou ser um avestruz e poder enfiar minha cabeça em um buraco.

— Compreensível. — Disse, deu uma pausa e continuou, de forma aleatória como só ele fazia — Hm, qual seu nome? Eu ainda não sei. — Perguntou com os olhos escuros fixos aos meus. E eu desviei em seguida.

— Anabel. — Falei, simples.

— Muito bem, Anabel. Eu sou Jonathan. — Disse me estendendo a mão.

InérciaWhere stories live. Discover now