estar sozinho.

5.6K 1.4K 454
                                    

— Como... Você imagina que vai morrer?

Estava tão cansado naquele dia que acreditava poder morrer.

Assim que acordei, meus pensamentos voaram... Será que a vizinha já havia alimentado Jion? Meu bichano sempre fora minha preocupação principal.

Olhei para os lados, atrás do meu telefone. Aquele não era o meu quarto e muito menos a minha cômoda. Era tudo... Branco, liso e longe. Ergui meu braço até uma mesinha e só então vi o tubo ligado desde minha veia até o soro. Estava internado de novo? Droga, eu precisava saber como Jion estava. Talvez se eu ligasse para a minha vizinha e... Celulares são proibidos no hospital. Suspiro fundo e tento me acalmar, afinal, ela não se esqueceria do meu gato, certo?

Meu olhar então se foca na janela que existe ali, o céu alaranjado entregando que o sol estava se pondo. Abro um sorriso sincero. Tento verificar de que lado estava e suspiro outra vez, existia um prédio enorme cobrindo minha visão daquele acontecimento natural. Sinto meu peito doer e a boca secar, imaginando se eu estaria apenas cansado ou realmente morrendo.

Todo o meu corpo está dormente e, quando tento me mexer, dói como o inferno. Era isso, havia acabado. Voltei a despejar meu corpo sobre a cama desconfortável e sorri uma última vez, afinal... Jion deveria sim estar bem alimentado.

Encaro o teto branco e escuto a máquina ao meu lado contando meus batimentos lentos e quase mortos. Deveria tentar dormir, então. Havia prometido a mim mesmo que passaria dessa para uma melhor enquanto dormia, doeria menos e eu não me sentiria sozinho.

Não queria estar sozinho, contudo não havia outra escolha. Apertei meus dedos com certa força e me concentrei, preparado para dormir e nunca mais acordar. Pensava em como seria me apresentar uma última vez, pensava em tudo o que havia acontecido de bom na minha vida e... Pensava em Jeongguk. Ah, como queria ouvir aquela voz gostosa uma última vez...

Deito a cabeça de lado e encaro o céu perdendo o tom alaranjado, começa a escurecer lentamente e o medo chega. O medo de estar sozinho.

Eu aceitaria de tudo, menos estar sozinho.

— Hyung?

Minha cabeça se vira tão rápido para a porta do quarto que minha visão escurece por um instante.

Era Jeongguk, bem ali, me encarando como se eu fosse um fantasma. Bem, talvez eu fosse.

Seus fios castanhos estavam molhados e seus olhos vermelhos. Eu não disse nada. Fiquei encarando ele se aproximar lentamente, parando de pé ao lado da maca ao mesmo tempo com que ainda me encarava, em silêncio.

— Você...

Ele tentava falar, mas no mesmo instante a voz se embargou.

— Eu...

Respondi baixinho, quase sem força na voz que eu nem ao menos esperava ainda possuir.

— Você deveria ter me contado.

Logo, eu sinto toda a sua mágoa naquelas poucas palavras. O mais novo sentou na poltrona e se pôs a chorar. Conseguia ouvir seus soluços desregulados e a cada um deles eu sentia morrer mais um pouco. Era horrível ver Jeongguk mal, muito menos por minha causa. Meu corpo doía ainda mais, meus olhos se enchiam de lágrimas e tudo no que eu conseguia pensar era sobre minha apresentação.

Eu, definitivamente, queria me apresentar uma vez. Era um sonho que eu sabia que jamais cumpriria, mas ainda o desejava.

Contudo, minha plateia seria apenas Jeon Jeongguk. Eu desejava apenas ele lá, me observando com aqueles olhos castanhos e tão doces quanto o próprio chocolate. Eu desejava uma fantasia onde nós pudéssemos, de fato, sermos felizes. Sem mentiras, sem doenças, sem perguntas.

Apenas eu e ele, sozinhos.

Era bizarro pensar que um dia eu havia dito ao mesmo garoto sentado ao meu lado que morreria sozinho, assistindo o sol se pôr. Era engraçado e bizarro porque... Bem, eu não estava sozinho. Desde o dia em que fizemos aquelas perguntas, desde o nosso primeiro contato Jeongguk não me deixou mais sozinho. E era bizarro exatamente porque eu sempre gostei de estar só, antes de conhecê-lo. Poupar as pessoas de saber que estou doente e me poupar da pena alheia era algo bom, mas isso caiu por terra quando nós nos comunicamos pela primeira vez.

Até porque eu amava dançar sozinho, mas possuir Jeon me assistindo me deixava eletrizado.

Como na vez em que ele me acompanhou até um treino de dança. Óbvio, eu não participei, mas só de ver todos aqueles bailarinos saltitando e o modo como os olhos castanhos dele captavam cada mísero passo, eu me sentia cheio. Porque, para Jeongguk, parecia que os pequenos detalhes sobre mim eram importantes. Ele parecia realmente prestar atenção em tudo o que eu dizia, ou deixava de dizer e... É, eu acabava me sentindo especial. Tão especial que a vontade que eu sentia de estar perto dele somente aumentava, me tornava um dependente. Um viciado.

Então, enquanto ele chorava sentado ao meu lado, eu sofri. Estiquei minha mão dolorida por conta do tubo ainda conectado em mim até que alcançasse a mão dele que escondia seu rosto bonito. Toquei com a ponta dos dedos os seus e ele pareceu segurar um soluço, me fitando com os olhos tão bonitos, os cílios molhados e as bochechas vermelhas. Jeongguk estava completamente bonito.

Só não era mais bonito do que nossas mãos juntas, meu coração quentinho e a noite que chegava na janela do meu quarto, no hospital. Meus dedos fugiam pela ponta dos pés e eu me sentia querido, cuidado e, principalmente, protegido. Era algo que somente Jeon fazia comigo, algo que ele ainda fez e sempre vai fazer.

Somente ele.

— Eu não queria que você descobrisse assim. — finalmente verbalizei o que tanto queria dizer. — Na verdade, eu não queria que você descobrisse, Kook.

— Por que, hyung? — me questionou, secando as lágrimas grossas. — Eu só quero cuidar de você.

Suspirei fundo, tomando cuidado para não começar a chorar também.

— E eu quero cuidar de você. — esclareci. — Não quero que me veja como um doente, debilitado. Não quero que tenha pena de mim.

Sentia os olhos enchendo de água e ouvia sua cadeira se arrastando para ainda mais perto da maca onde eu estava. Ele entrelaçou os dedos bonitos com os meus, beijando a lateral da minha mão enquanto me fitava com aqueles dois universos gigantescos chamados olhos. Era bizarro, mas a sensação de estar viajando dentro dos orbes era completamente verdadeira.

— Você não é um doente ou debilitado. — disse baixinho, seu nariz estava vermelho. — E você não vai morrer. Eu ainda tenho muita coisa para perguntar pra você, Jimin.

Meu sorriso se abriu de imediato. Apertei mais a minha mão na sua e senti o corpo relaxar como não fazia há tempos. Era insano o jeito como tudo parecia mais fácil quando ele estava comigo, quando ele dizia que eu não morreria. Eu acreditava, de fato. Acreditava que era invencível, que ele me amava e que ficaríamos juntos para sempre, vivos.

— Então me pergunte algo.

— Qualquer coisa?

— Sim, Kook, qualquer coisa.

Ele sorriu. Sim, coelhinho. Seus olhos quase se tornaram outros dois sorrisos e do seu queixo pingava uma lágrima solitária. E eu soube, bem ali, que jamais estaria sozinho novamente.

— Você quer morar comigo, hyung?

Éramos então eu e Jeongguk. Para sempre.

Como Se Apaixonar em 21 Perguntas | jikookOnde as histórias ganham vida. Descobre agora