uma simples resposta.

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Como você imagina que vai morrer?

Após aquela última questão tudo ficou meio estranho. Continuamos as perguntas com certo receio, meus olhos preenchidos de dúvidas que atualmente se tornariam medos irracionais. Jimin estava encolhido sobre o banco, suas mãos seguravam com força a prancheta e ele mal interagia comigo, praticamente não me olhava nos olhos.

— Como... você imagina que vai morrer? — perguntei receoso, eu não queria mais entrar em assuntos delicados, não queria ver a mágoa tomando conta dos olhos brilhantes dele.

Seus fios louros foram puxados para trás, os lábios sendo umedecidos pela língua antes de me olhar. Confesso que até hoje, quando me recordo daquela cena, meus pelos se arrepiam. Não importa quanto tempo passe, é sempre o mesmo efeito que Jimin tem sobre mim.

Encarei minha própria prancheta e suspirei, aquele teste estava realmente mais difícil do que deveria, do que eu achei que seria. Contudo, nada mudaria o modo como nossos olhos se encontraram e meu coração se partiu com aquela resposta. Não fazia diferença se era o Jeongguk de antes contando essa história ou eu, agora. Em todas as hipóteses já imaginadas por mim em noites mal dormidas eu acabava destruído e... bem, cheio de dúvidas.

Esperei por uma resposta próxima do "morrer muito velho" ou "morrer dormindo", coisas simples que o Jeon de antigamente não entendia serem banais demais para Park Jimin. Meus olhos impacientes encaravam os seus, eu praticamente suplicava por uma resposta.

— Provavelmente sozinho. — Jimin disse baixinho, os dedos pequenos apertando o suéter com força.

Aquilo poderia até soar estranho e bizarro. Na realidade, foi exatamente o que pareceu para mim durante nosso teste. Não era a resposta que eu esperava, mas não me surpreendeu de forma grotesca.

Pelo menos não tanto quanto na vez em que ele me contou a verdade, sorrindo.

Estávamos sentados nos degraus de seu prédio, pouco abaixo da portaria. O frio estava próximo e então sentamos colados um no outro, a garrafa de Soju sendo passada de mão em mão, um por vez. Discutíamos sobre a morte de um ator famoso quando eu, inocentemente refiz aquela maldita pergunta. Meu senso de perigo estava morto e ele tão bêbado que me respondeu.

Disse mais do que deveria, do que eu queria ouvir.

— Vou morrer em algum hospital aqui na capital, pensando se Jion, meu gatinho, já foi alimentado pela vizinha. Acho que morreria logo depois de ficar frustrado tentando ver o pôr-do-sol escondido pelos prédios altos da cidade, sabe? Eles cobrem a visão bonita do horizonte. Então... Eu acho que me ajeitaria na cama desconfortável e tentaria dormir, morrer dormindo não deve ser tão ruim. Você pode sonhar e... Eu queria sonhar que estava me apresentando outra vez.

Eu não estava preparado para uma resposta de verdade como aquela. Podemos repetir isso em 20 anos e eu ainda não estarei apto. Minha boca tremia, as mãos paralisadas à medida que tentava digerir toda aquela informação. Jimin praticamente achava que iria morrer, já havia até mesmo montado toda a situação!

Meu hyung estava me dizendo que morreria em breve e eu, naquele instante, não poderia fazer nada.

Seus olhos tristes brilhavam como nunca, eu senti todo aquele segredo sendo-me entregue e fiquei tão assustado quanto na vez em que fomos juntos ao karaokê. Pensei em perguntar como era seu gato, questionar o motivo por gostar tanto do pôr-do-sol, entender que tipo de apresentação ele estava falando, mas... Jimin não me deu tempo. Sua voz baixa e mansa logo se despediu, demos um abraço nas escadas como na última vez, só que tudo agora estava diferente.

Eu entendo, agora. Consigo ver cada ato dele justificando o que me acometera depois.

Porque após terminarmos as perguntas, após nossa relação se tornar forte e segredada, Jimin sumiu. Sua voz do outro lado da linha, suas mensagens carinhosas, sua presença nos nossos passeios noturnos. Tudo. Ele já não existia mais. Minha mente entrou em estado caótico sem aquela presença fofa e amável comigo e só conseguia pensar no que eu havia feito para ser afastado tão brutalmente assim.

Meus pés me levavam até a frente de seu prédio todos os dias. Quase podia sentir seu abraço em mim. Minhas mãos digitavam e ligavam atrás dele, meus olhos repassando cada mísero momento que tivemos juntos atrás de uma resposta. Uma simples resposta que fosse.

Eu sentia sua falta. Sentia falta do seu cheiro, da sua risada, do seu dedo indicador coçando o nariz quando estava desconfortável. Sentia saudades dos seus abraços e do cuidado que tinha com todos, principalmente seu gato Jion. Jimin havia feito diferença demais em minha vida apenas para sair assim, pela porta de trás sem nem se despedir.

E, naquele momento, eu era uma casa vazia e abandonada.

Os dias continuaram assim. Taehyung me questionava o porquê de recusar tanto sair com ele, de ver nossos hyungs, de viver um pouco que fosse. Mas eu não o contei sobre Jimin. Não contei que ele havia sumido e que estava praticamente morto por causa disso. Não contaria para meu melhor amigo que malditas 21 perguntas haviam me fodido.

Na realidade, eu pretendia encontrar o loiro. Porque viver como se uma parte de meu dia estivesse incompleta sem vê-lo ou escutá-lo era o suficiente para me mover até seu apartamento outra vez, eu definitivamente iria encontrá-lo.

E, huh, foi isso o que aconteceu.

— Ele não está. — o porteiro respondeu meio desconfiado. — O que você quer, garoto?

— Onde ele está, o senhor sabe? — Jungkook olhava para os lados, depois focando na janela de Jimin no quarto andar. Precisava tanto vê-lo... — Eu preciso muito conversar com ele... Mas ele sumiu! Você faz ideia de onde ele esteja?

O homem coçou o queixo repleto de pelos, seus olhos transmitiam pena. Pena do garoto idiota que estava atrás de alguém que não deveria nem ao menos desejar encontrar depois do fim daquele teste. Meu rosto demonstrava toda a dor e agonia que eu sentia naquele momento e, talvez por isso, ele cedeu.

— Jimin está internado, garoto. — suspirou. — Já faz um mês.

Como Se Apaixonar em 21 Perguntas | jikookWhere stories live. Discover now