Tão bizarro que parece normal.

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Como você se vê daqui a 10 anos?

— Você quer um refrigerante, hyung?

Nós avançávamos na intimidade e nas perguntas, mas, hoje, eu sinto que foi bem naquele momento onde tudo começou a desmoronar.

Assim que eu entrei na nossa sala com as duas latinhas nas mãos, meu corpo se arrepiou com o olhar que ele lançava para o papel onde as perguntas estavam escritas. Foi diferente de quando eu acheiter visto Jimin triste, foi diferente de imaginar que havia tocado numa ferida ainda aberta nele. A próxima pergunta não tinha achismos, a próxima pergunta não fazia a minha imaginação ter culpa, era real.

E, céus, isso me assustou como o Inferno.

— Aconteceu alguma coisa? — logo perguntei, vê-lo quieto e claramente assustado me deixava com medo, mesmo que eu apenas o conhecesse por nome e por causa de algumas perguntas.

— Eu... obrigado. — ele pegou uma das latinhas de cima da mesa, abrindo-a e virando um gole generoso. — Só estava pensando em algumas coisas. Quer que eu leia a próxima pergunta?

Vendo agora tudo o que o olhar dele transmitia naquele momento, eu fui bobo. Dei de ombros e abri minha própria lata, deixando com que ele perguntasse. Se eu o conhecesse como conheço agora, se eu pudesse voltar e ajeitar tudo... eu, com toda certeza, teria perguntado.

— Como você se vê daqui a dez anos? — bebi meu refri, riscando a prancheta em movimentos circulares. Minha preocupação, naquela hora, se esvaiu mais rápido do que deveria.

Acabei por soltar um sorriso, envergonhado, e cocei a nuca, sem saber muito o que fazer. Até mesmo me esqueci do modo assustado como ele me olhara, como se não fosse assustador o suficiente para me deixar arrepiado até hoje... Eu poderia ver Jimin através dele mesmo, era bizarro. Tão bizarro que parece normal, sabe? Simples. E tão simples que, naquela hora, eu não dei a mínima.

Como na vez em que fomos em uma lanchonete, em uma tarde ensolarada de sábado. O local era aberto e perto de uma praça, de modo que podíamos observar as crianças e os casais passeando de mãos dadas. Sem nem perceber, senti uma vontade de pegar na mão pequena e gordinha do Park, entrelaçar meus dedos longos aos seus delicados e acariciar as costas de sua mão com o polegar, sentindo sua derme lisinha contra meu dedo. Naquela época, aquilo me soou absurdo, mas olhando para ele, eu entendia que não era tão errado assim. Ele também queria que eu juntasse nossas mãos.

Só de olhá-lo eu sabia o que pensava, o que queria, como queria. Era bizarro, extremamente estranho. Mas, como quase tudo com Jimin, a partir do tempo, tornou-se normal e cotidiano.

E enquanto ficávamos ali, sentados naquele dia quente, um menino correu até nós, com lágrimas nos olhos. Rapidamente eu o coloquei sentado ao meu lado, Jimin se agachou ao lado dele, a face preocupada querendo me fazer enchê-lo de beijos (se estivéssemos hoje, lá, com aquele mesmo menino chorão).

— O que aconteceu? Você se machucou? — Jimin questionou e o menino ergueu o joelho esfolado, repleto de sangue. — Onde estão seus pais?

— Eu... Eu não tenho pais... — o garotinho nos respondeu entre soluços. — Me perdi da minha professora e... e... tá doendo...!

No mesmo instante, comecei a acalmá-lo e, antes que eu pudesse pedir, Jimin atravessou a rua, onde havia uma farmácia. Fora a primeira vez que eu o vi ser tão cuidadoso com alguém, mas eu sabia que a velocidade toda até a farmácia não era apenas por empatia.

Jimin estava chorando enquanto ia até lá. Hoje eu sei. Tenho meus motivos, na realidade.

E, desde então, toda mísera vez que o vi chorar, senti meu interior morrer mais um pouco.

— Desculpe, hyung... — foi tudo o que disse, ainda levemente envergonhado, na nossa "sala de interrogatório romântica". Hoseok gostava de chamar assim. — Você pode repetir a pergunta?

Claro que não era necessário que ele repetisse a pergunta, afinal eu tinha minha própria lista e, mesmo com o item riscado, ainda era possível ler as palavras. A verdade era que eu queria ouvir aquela tom de voz tão agradável de novo, mesmo que eu não quisesse admitir aquilo nem para mim mesmo na época.

— Aish, esse Jeonggukie... — ouvi-o murmurar em tom risonho, porém nervoso. — Como você se vê daqui a 10 anos, distraído? — refez a pergunta com um pequeno sorriso no rosto.

Então parei para pensar. Onde eu estaria dali a 10 anos?

— Acho que, com 31 anos, eu vou estar no exército, certo? Então eu me vejo servindo minha pátria como um bom soldado. Mas até lá, acho que eu quero estar em uma boa posição no mercado de trabalho e com uma família estabilizada — bati o lápis contra meus lábios levemente, pensando. — Eu quero viver confortavelmente e ter alguém para abraçar e dar um beijo depois de um cansativo, mas produtivo dia de trabalho. Ah, e eu gosto de animais, seria legal ter um cachorro também. É mais ou menos como me imagino. — finalizei por fim, torcendo que minha resposta não tenha sido um desastre. — E você, Jimin-hyung? Como se vê daqui a 10 anos?

Olhei para o rosto de Jimin. O mais velho agora tinha a expressão fechada, parecia meio entristecido e emburrado, e seus olhos até tinham perdido o brilho natural. Fiquei com medo de ter falado algo de errado. Mas era uma das perguntas da lista! Por que ele teria ficado tão pra baixo?

Mal sabia eu que era ali onde tudo começava a dar errado.

— Ahn, você...

— Eu não sei. — murmurou tão baixo que, se eu estivesse um pouquinho mais longe, não teria ouvido. — Eu não faço ideia. — encolheu-se na cadeira, abraçando o próprio corpo enquanto abaixava a cabeça, em silêncio. — Podemos passar para a próxima pergunta? Por favor.

Risquei aquela pergunta com força, assentindo silenciosamente.

Eu não entendia na época, mas aquele silêncio vindo do loiro era mais desesperador do que aparentava ser. Jimin cabisbaixo não poderia significar algo bom, muito menos feliz e, bem... eu descobri isso da pior maneira.

Como Se Apaixonar em 21 Perguntas | jikookWhere stories live. Discover now