XXII - A Sombra da Águia

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O anfiteatro era uma bela construção localizado nas proximidades do senado entre as residências dos patrícios.

A carruagem imponente estacionou atrás de uma liteira. Do lado de fora um servo se aproximava para abrir a porta enquanto outro verificava o pergaminho em mãos com os nomes dos convidados.

Do lado de dentro Marcus tentava disfarçar sua tensão. Diante dele estavam Escar e Tristan em seus trajes rotineiros enquanto que Marcus usava uma toga imponente e adequada ao ambiente onde até servos e escravos se viam bem vestidos.

Assim que a porta abriu ele levantou e foi para fora seguido pelos dois que analisavam os espaços. Marcus conhecia aquele lugar; já o frequentara em sua juventude. O servo que segurava o pergaminho foi cordial para com ele mas, como os demais ao redor, estava visivelmente desconfortável com a chegada de dois estrangeiros e maltrapilhos.

- Nobre Àquila, meu senhor está imensamente feliz com sua divina presença e lhe pede desculpas por não o receber em sua chegada. Esperamos que o senhor aproveite o espetáculo. - O servo olhou para Escar e Tristan. - Creio não ser necessária a presença de seus serviçais no recinto, meu senhor providenciou seus servos pessoais e mais apresentáveis para esta ocasião tão importante.

Ali fora feita uma clara censura. Um escravo era uma propriedade como um outro objeto qualquer e seu dono podia explorá-lo do modo que lhe aprouvesse, mas havia um código ético que exigia que essas propriedades fossem bem tratadas principalmente quando levadas a público.

Marcus se viu constrangido e irritado ao mesmo tempo, mas procurou manter a calma. Desde o primeiro momento em que viu o tio e o sobrinho o aguardando para sair, naqueles trajes comuns do cotidiano, presumiu que seria uma noite difícil a ser enfrentada.

Mas não ousaria exigir de Tristan ou Escar que trocassem seus farrapos pelas belas vestimentas que havia dado a eles. Tentou esconder sua decepção, embora tivesse certeza que Escar o lia com transparência. Voltando-se para o homem a sua frente ele disse.

- Estes dois são meus acompanhantes e não meus servos e exijo que sejam tratados com a mesma cordialidade com a qual eu for tratado.

O homem pareceu indignado e olhou novamente para tio e sobrinho antes de voltar sua atenção para Marcus e dizer.

- Mas, nobre À...

- Espero não ser preciso ter de informar ao seu amo deste pequeno infortúnio.

Ficou evidente que aquele homem conhecia o destino de servos que envergonhavam a seus senhores muito mais do que Escar jamais se permitiu saber ou se importar. Mas aquele homem se importava, pelo que Marcus pôde notar no lampejo de terror em seus olhos.

Ele baixou o rosto para o papel em suas mãos por alguns breves segundos e quando o ergueu novamente havia um ar de imensa satisfação no lugar.

- Peço perdão pelo incômodo, nobre Àquila. Seus convidados terão a mesma atenção e respeito que o senhor.

- Obrigado.

***

- Espero que tenha sido uma esplêndida refeição. Queria lhe prestar homenagens e acabo obtendo maiores privilégios.

Augustus sorriu exibindo a dentição perfeita. Marcus conteve o impulso de lhe falar sobre as suas descobertas, ainda estava a espera de um momento mais oportuno. Nem mesmo Atílios chegou a comentar algo a mais a este respeito.

- Marcus, meu caro. Já lhe pedi desculpas, mas devo ressaltar a razão de minha demora em lhe fazer tal convite. Desde o dia em que você trouxe o estandarte tem havido uma comoção geral no senado e em Roma. Você despertou muito mais do que possa imaginar.

A Águia (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora