VI - Dever e Devoção

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Os exercícios físicos, a limpeza do ferimento e medicação ficaram sobre os cuidados de Escar que fazia tudo com muita eficiência e em total silêncio. Marcus apreciava muito isso e cada vez mais lhe agradava sua companhia.

Com a ida de Atílios para outra província, Marcus recebeu um convite de uma autoridade local, Felipos Aquinus, para o representar numa festa dedicada a Odin (um Deus nortenho) que fazia parte da mitologia da região como principal divindade.

Ele havia sido incorporado ao panteão romano numa escala inferior, sendo uma forma de evitar revoltas, mas a maior homenagem seria dedicada a Júpiter - a principal divindade romana.

Marcus decidiu aceitar o convite e levar Escar para que este pudesse ter algum divertimento. Assim que chegaram a um rústico anfiteatro, Marcus foi acomodado num lugar de prestígio ao lado de seu anfitrião. Escar, como todos os demais servos, teria de ficar em pé próximo ao seu senhor para o servir.

Porém, Marcus pediu a Felipos que acomodace Escar como a um convidado dele, sobre o pretexto de que sua dedicação o tornava digno daquela recompensa. Tal atitude em Roma seria escandalosa, mas o anfitrião sendo velho amigo de seu tio o inspirou confiança e sua intuição não falhou, pois o velho homem o atendeu de bom grado.

Há muito tempo Marcus não bebia tanto vinho. Nunca fora chegado aos excessos por causa de sua constante disciplina. Não lembrava de ter tomado muitos porres na vida, mas um lhe era recorrente: a noite em que Cassius lhe beijou.

《Itálica, 5 Anos Antes》

Contra sua vontade, sua mãe Megara deu um banquete em celebração as conquistas do filho.

A madrasta e a irmã de Cassius, entre outros parentes, além de vários outros nobres compareceram ao evento, o que só aumentou seu descontentamento.

A maioria daquelas pessoas havia desdenhado deles no passado e muitas tinham interesse na riqueza que as duas viúvas possuíam. Mas Cassius lhe convencera de que seria a oportunidade perfeita para que todos vissem o homem que ele se tornara.

Marcus se sentia um pouco relutante, mas sabia que o amigo iria partir no dia seguinte sem saber se seus destinos se cruzariam de novo. Então eles beberam, dançaram, comeram e beberam mais ainda.

Marcus notou a preocupação no rosto de Poliana, madrasta de Cassius, diante da possibilidade de uma recaída do enteado pela bebida. E divertiu-se com a doce e bela Diana, irmã mais nova dele, que ali lhe parecia tão liberta quanto o irmão. Seus outros irmãos, frutos da nova união de seu pai não compareceram a festa.

Megara também estava surpresa ao ver o filho em atitudes tão diferentes da que estava habituada. Mas isso também parecia alegrá-la que passou boa parte da noite tentando fazê-lo dançar com a filha de cada um dos ricos presentes.

E Marcus dançou e até mesmo repetiu o feito com algumas donzelas e senhoras, mas antes que sentisse perder o total controle sobre si, ele decidiu parar e ir para os seus aposentos sorrateiramente.

Ao subir os degraus seguiu pelo comprido corredor onde ficavam os primeiros quartos destinados aos hóspedes. Quartos tão grandes e suntuosos que somente não superavam o seu ou o de seus pais.

Caminhou um pouco cambaleante até um enorme portal arqueado no final do corredor que dava acesso a varanda que rodeava o quarto de sua mãe, de onde era possível ter uma visão mais que privilegiada do jardim e da propriedade à sua volta.

De um lado havia o vilarejo dos servos e dos escravos que também tinha sua festividade própria e estava bastante iluminado com muitos archotes que pareciam velas àquela distância, mas o que atraía sua atenção era toda a vastidão dos campos do outro lado e das plantas abaixo onde só havia a luz prateada da lua.

A Águia (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now