II - O Calor da Batalha

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A sensação gélida do vento noturno sobre a pele era terrível e a vontade de retornar ao calor dos lençóis quase inebriante.

Mas a sua intuição era muito mais forte. Sobre a muralha oeste, dois sentinelas conversavam bem próximos; talvez desejassem estar ainda mais próximos dentro do alojamento naquele momento. Marcus notou o quão jovem eram eles, e de feições muito diferentes. Algo bem característico da miscigenação que ocorria com a expansão do império.

Ele estudara um pouco sobre as diferentes raças e suas distinções, mas não conseguia reconhecer o que diferenciava uma da outra num primeiro momento; sabia identificar os romanos de nascimento por sua altivez, e os cabelos escuros, a pele clara quase pálida, e rostos longos e finos e, às vezes, com seus narizes mais proeminentes.

Os gregos também lhe eram de fácil distinção, de pele clara, um pouco mais corada, cabelos mais volumosos e dourados, olhos em tom de mel ou claros e de feições mais suaves. Todos os demais tipos que ele via pelas diferentes regiões pareciam ser estranhos.

Procurando pelo encarregado daquela noite, Marcus rumou para a muralha norte, mas ali também ele não estava. Havia somente um patrulheiro que evitava olhar para o lado de fora da fortificação e outro dentro da guarita que cochilava. Marcus subiu a escada de acesso a muralha e se posicionou ao meio, fitando a escuridão a sua frente.

A calmaria total só foi quebrada pela chegada do intendente que se posicionou ao lado dele. Plutorious aguardou pacientemente por algum sinal, mas não havendo nenhuma indicação de que Marcus falaria algo, ele lhe perguntou.

- Com licença, nobre comandante Áquila, mas o senhor ouviu alguma coisa?

- Não.

- Então... - ele parecia escolher as palavras. - não querendo faltar com respeito, mas... o que faz aqui, senhor?

Plutorious lhe pareceu ser um dos poucos, se não o único que simpatizava consigo. Marcus pensou em lhe falar de suas intuições que não falhavam. Que este era certamente um dom divino, entretanto, tinha conhecimento que nem todos os homens eram tão religiosos. E alguns sequer acreditavam em nada além de seus escudos e espadas.

Seria mais sensato dizer que estava com insônia. Porém, estar com o uniforme tornava sua atitude suspeita. Mas antes de responder um som quase imperceptível chegou ao seu ouvido, tanto que nenhum dos outros três homens pareceu perceber, mas Marcus perguntou ao seu intendente.

- Ouviu isso? - Plutorius fez um esforço de concentração, mas negou qualquer coisa para além da normalidade. Marcus ainda falando baixo deu sua ordem. - Acorde os oficiais e os demais guardas e coloque todos em formação.

- Mas... - Plutorious novamente pensou um pouco e diante do olhar encorajador continuou. - O senhor acha sensato acordar os homens somente por uma suspeita? Isso certamente os deixará irritados.

- É melhor homens irritados do que mortos. - E antes que o oficial o deixasse, acrescentou. - Plutorious...

- Senhor...

- Sejam discretos.

Plutorious assentiu, prestou continência, e foi cumprir suas ordens com total eficiência. Em menos de quinze minutos o regimento estava distribuído ordeiramente pelas áreas externas de dentro do forte, silentes, à espera do pior. O tempo foi passando, e logo as faces assustadas e sonolentas foram dando lugar a rostos com ansiedade. Após trinta minutos as expressões eram de descontentamento e burburinhos de desaprovação corriam entre os uniformizados.

Marcus se sentia mais frustrado que todos ali e já estava pronto para dar a ordem de retorno aos alojamentos quando uma criatura pulou sobre o parapeito do muro próximo a guarita e atacou o soldado que antes estava cochilando dentro dela com gritos que só poderiam ser classificados como de um ser infernal.

A Águia (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora