XXIV - Acordos e Planos

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Um passarinho cantava enquanto saltitante passeava pelo chão do quarto procurando por comida. Um belo exemplar e muito desconfiado.

Ao Marcus sair da cama o animal alçou vôo. Ele caminhou até a varanda e observou os servos limpando o pátio onde um amontoado de lixo aguardava a chegada de carroças para ser retirado. O sol indicava ser próximo do meio-dia.

Escar não estava mais entre seus lençóis e Marcus foi se banhar tentando ignorar a enxaqueca terrível. Ao chegar na sala de jantar viu sua mãe à mesa numa solitária e esplêndida refeição.

- Ia ordenar que levassem seu almoço, mas já que está aqui sente-se e me faça companhia.

Ele assim o fez. Estar diante dela era como voltar aos tempos de infância. Sentia ser vigiado por aquele olhar zeloso e avaliativo. Minerva se aproximou e lhe serviu o que lhe parecia ser um leitão defumado. O aroma e a aparência do prato lhe reviraram o estômago de imediato. Um pequenino estremecimento se apoderou dele tornando difícil o simples ato de levar a comida até a boca com o talher.

- Você está bem?

Marcus poderia lhe dizer a verdade. A opressiva educação refinada lhe deixava nervoso mesmo após tanto tempo, mas ele tentou se concentrar nas palavras de Atílios: "Tudo o que ela lhe faz é com boa intenção."

- Estou bem, obrigado.

O incisivo olhar pousou sobre ele. Mesmo à mesa, ela parecia uma deusa saboreando muito mais do que uma refeição. Não havia nenhum indício de raiva pelo dia anterior e ele esperou que ela tocasse no assunto, mas esse parecia um assunto encerrado.

- Onde estão todos?

- Seu tio foi para o senado. Desde que voltou ele tem se dedicado a representar os interesses de nossa família. Parece que as rameiras não mais o satisfazem. Peço aos deuses que ele não obstrua seu caminho. Sabe-se lá o quê um espírito decrépito é capaz de fazer.

- Atílios é um homem sábio.

- Inegável. Porém chegou a uma idade em que é difícil distinguir sabedoria de loucura. Diferente de seu pai que sempre buscou cumprir suas obrigações.

"E morreu por uma causa perdida." - O pensamento aliado ao comentário irritou Marcus. Desde aquele tapa eles não haviam tido uma conversa sobre ele. Megara ainda o evitava e até o momento Marcus chegou a sentir alívio por isso.

- Está se sentindo bem mesmo?

- Sim, mãe.

- Espero que esteja mesmo. Hoje irei depositar oferendas no mausoléu da família e gostaria que você me acompanhasse.

Mesmo incerto disso ele concordou. Sem conseguir provar qualquer coisa à mesa ele pediu licença e foi para o corredor que dava acesso ao pátio onde Tristan terminava uma aula e todos que ali estavam se dirigiam para a ala dos servos para o almoço. Marcus interceptou uma serva que vinha em sua direção tão distraída que não percebera a presença de seu senhor.

Ele deu a ela um recado para Demian levar até a residência dos Cirnus e assim que a moça se afastou a procura do mensageiro Marcus notou que Escar lhe observava e então foi para junto dele. Alguns dos servos que ainda estavam ali curvaram suas fontes diante de sua presença e se retiraram rapidamente deixando somente os dois.

A Águia (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now